Defesa de Augusto Heleno lidera menções a Bolsonaro
04/09/2025, 18:33:11Resumo do caso e contexto do julgamento
No julgamento da chamada trama golpista no STF, a defesa de Augusto Heleno chamou atenção por mencionar repetidamente o ex-presidente Jair Bolsonaro. A análise das sustentações orais mostra que o advogado Matheus Milanez fez 61 referências a Bolsonaro, mais do que a própria defesa de Heleno, conduzida por Celso Vilardi e Paulo Amador da Cunha Bueno. Esses números lançam luz sobre a estratégia processual adotada pelas defesas em um dos casos mais sensíveis da atualidade política brasileira.
Estratégia da defesa: distanciamento e explicações
A tônica do discurso de Milanez ficou clara ao longo das sustentações: a intenção foi mostrar um distanciamento entre Heleno e Bolsonaro, sem, contudo, alegar uma ruptura completa. Segundo a argumentação apresentada, fatores como a filiação do ex-presidente ao PL e sua aproximação com o Centrão teriam ampliado essa distância. Nesse sentido, Milanez procurou reconectar a atuação de Heleno à ideia de apoio condicionado, e não de cumplicidade direta com atos ilícitos.
Trecho citado pela defesa
Em sua sustentação, Milanez disse: "Claro que não existe um afastamento 100%. Até porque, com um afastamento 100% ele desembarcaria do governo e deixaria de ser apoiador do presidente. Mas, publicamente, ele sempre foi apoiador do presidente, continuou sendo e o defendeu". Essa frase foi usada para enfatizar que apoio político não se confunde automaticamente com participação em eventuais crimes investigados.
O que a acusação aponta
A denúncia da Procuradoria-Geral da República descreve Heleno como um dos consultores mais próximos de Bolsonaro durante o mandato. Segundo a peça acusatória, Heleno, em conjunto com Alexandre Ramagem, teria colaborado na preparação de discurso contrários às urnas eletrônicas e autorizado ações de espionagem ilegais em benefício do ex-chefe do Executivo. Entre as provas encontradas pela Polícia Federal, há menção a um caderno com "planejamento prévio da organização criminosa de fabricar um discurso contrário às urnas eletrônicas".
Comparativo entre citações e implicações
Além das 61 menções feitas por Milanez, a reportagem apurou que, ao todo, Bolsonaro foi citado ao menos 148 vezes nas sustentações das defesas dos oito réus. Esse número inclui referências diretas e indiretas — palavras como "ministro", "presidente" e "relator" foram contabilizadas quando claramente remetiam a pessoas específicas. O volume de menções reflete o peso político do nome de Bolsonaro no julgamento e a tentativa das defesas de moldar a narrativa pública e jurídica em torno de cada réu.
Outras defesas e o caso Mauro Cid
Um ponto central das defesas foi enfraquecer a colaboração premiada de Mauro Cid. Os defensores alegam falta de voluntariedade e inconsistências nos depoimentos de Cid, buscando desqualificar sua credibilidade perante o tribunal. Demóstenes Torres, advogado de Almir Garnier, foi quem mais mencionou Cid, com cerca de 88 citações. Celso Vilardi chegou a afirmar sobre o colaborador: "O colaborador era importante antes de ser desmoralizado. Agora que ele está desmoralizado, porque pego na mentira pela enésima vez. Não é pela primeira vez, pela enésima vez".
Consequências jurídicas e políticas
As menções constantes a Bolsonaro e a estratégias de desacreditar colaboradores têm efeitos tanto jurídicos quanto políticos. No plano jurídico, a tentativa de desqualificar provas e relatos pode influenciar a avaliação do tribunal sobre a credibilidade das provas apresentadas. No campo político, a repercussão das falas das defesas alimenta o debate público e as interpretações sobre envolvimento de figuras políticas de alto escalão.
Riscos para os réus
Os réus, incluindo Heleno e Bolsonaro, respondem por acusações graves, como organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e dano qualificado contra patrimônio público. A força das provas e a capacidade das defesas de desconstituir relatos, como o de Mauro Cid, serão determinantes para o desfecho do processo.
Análise final
A estratégia da defesa de Heleno — liderada por um uso intenso do nome de Bolsonaro para argumentar distanciamento — revela como os advogados tentam reconstruir contextos políticos complexos em peças técnicas de defesa. O número de menções serve não apenas como estatística, mas como indicador de uma disputa narrativas: provar que a relação entre os acusados e figuras políticas de destaque não implica automaticamente responsabilidade criminal.
Conclusão e chamada para ação
O julgamento no STF segue sendo um termômetro das tensões entre política e direito no Brasil. A forma como as defesas conduziram suas sustentações, citando repetidamente Bolsonaro, mostra que o processo será acompanhado de perto pela opinião pública e pela imprensa. Se você quer entender melhor os desdobramentos deste e de outros julgamentos, acompanhe nosso blog e compartilhe sua opinião nos comentários. Sua participação ajuda a enriquecer o debate e a manter a informação de qualidade em destaque.