Centrão busca anistia para livrar Bolsonaro da prisão

Centrão busca anistia para livrar Bolsonaro da prisão

Pressão política e negociação no Senado

Os primeiros dias do julgamento relacionado ao 8 de Janeiro coincidiram com uma intensa movimentação política em Brasília em torno da proposta de anistia que beneficiaria participantes dos atos golpistas — e, potencialmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro. No centro desse debate está um embate entre a proposta mais moderada apresentada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e a articulação do centrão, que busca uma anistia mais ampla.

Alcolumbre e a proposta de redução de penas

Alcolumbre tem defendido um texto que vise apenas a redução de penas para condenados pelo 8 de Janeiro, excluindo, segundo ele, os responsáveis de maior escalão. Esse posicionamento, avaliado por parte do STF como mais palatável, tenta equilibrar uma saída política sem provocar um choque institucional direto com a corte.

Por que a alternativa de redução agrada ao STF

Ministros citados nos bastidores consideram que um texto que seja restrito aos níveis mais baixos dos atos golpistas evita afrouxar a responsabilidade de organizadores, financiadores e planificadores. Essa distinção tem sido apresentada como essencial para preservar a resposta institucional ao golpe, ao mesmo tempo que busca uma solução política para conter a crise.

O jogo do centrão e a busca por anistia ampla

Ao mesmo tempo, líderes do centrão e da oposição afirmam não ver apoio suficiente ao plano de Alcolumbre e dizem ter votos na Câmara para aprovar um perdão amplo que alcance todos os envolvidos, inclusive com reflexos diretos para Bolsonaro. Deputados ouvidos por parlamentares afirmam que há cerca de 300 votos favoráveis a uma anistia ampla na Câmara, número que torna a proposta politicamente relevante.

A articulação de Tarcísio de Freitas

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) desembarcou em Brasília e passou a atuar ativamente nessa linha de articulação, buscando consolidar sua candidatura presidencial e, ao mesmo tempo, conquistar o apoio do centrão. Essa movimentação reforçou a percepção entre adversários de que a anistia virou peça central na disputa por alianças para 2026.

Consequências legais e políticas

A aprovação de qualquer perdão ou redução de penas ainda depende de fatores decisivos: a sanção do presidente, a possibilidade de derrubada de vetos pelo próprio Congresso e, possivelmente, a análise do STF sobre a constitucionalidade da medida. Ou seja, trata-se de uma solução política que, muito provavelmente, seria sujeita a revisão judicial.

Impacto nas eleições de 2026

Mesmo com um perdão que preservasse a inelegibilidade derivada de condenações eleitorais, a proposta poderia sacramentar cenários eleitorais favoráveis ao surgimento de candidatos alternativos. A articulação pró-anistia vem sendo interpretada por muitos como tentativa de moldar o tabuleiro eleitoral e oferecer uma saída política ao bolsonarismo sem, necessariamente, garantir a candidatura do próprio ex-presidente.

Reações no Congresso e no STF

No Congresso, PP, União Brasil e Republicanos lideram a pressão por uma anistia mais ampla. Ao mesmo tempo, integrantes do STF e do governo avaliam que a movimentação política se intensificou após a entrada de Tarcísio na articulação. Entre ministros, há quem considere que declarações sobre a impossibilidade de anistia antes do julgamento, como as atribuídas ao presidente da Corte, foram um erro estratégico, já que a questão, após uma eventual condenação, pode migrar para o campo político.

Possíveis acordos e garantias

Alguns parlamentares sugerem que um acordo político poderia incluir garantias tácitas de que parte do STF não derrubaria a proposta, caso aprovada. Essa hipótese ilustra a complexidade do cenário: decisões que parecem puramente legislativas têm repercussões diretas no ambiente judicial e na legitimidade das instituições.

Resistência do governo e reação dos partidos

O presidente Lula manifestou oposição ao avanço de um projeto de anistia e tem buscado articular forças para se contrapor à proposta. No campo governista, a estratégia tem sido tentar mobilizar a opinião pública, qualificando a anistia como um ato de impunidade e pressionando parlamentares a resistirem à pauta. Ainda assim, a movimentação do centrão manteve forças favoráveis à urgência da proposta, mesmo que o mérito ainda gere dúvidas em algumas bancadas.

Debate interno e aparente divisão

Partidos como PSD dizem ter bancadas divididas, enquanto outros já se posicionaram a favor da anistia. Em reunião de líderes, PL, PP, Republicanos, Novo e União Brasil defenderam a medida, segundo relatos, enquanto a bancada petista e aliados buscaram articular uma frente contrária. O clima no plenário aponta para um debate intenso, com possibilidades de diferentes desfechos dependendo da evolução das negociações e da pressão pública.

Contexto do julgamento

O julgamento do ex-presidente e de outros réus segue com expectativa de condenação por parte de analistas, o que aumenta a urgência política em torno da anistia. As penas máximas somadas podem ultrapassar décadas, fato que alimenta a busca por alternativas legislativas para controlar os efeitos desses vereditos.

Conclusão e reflexão

O dilema entre uma redução de penas mais restrita, defendida por Alcolumbre, e uma anistia ampla, empurrada pelo centrão e por aliados, traduz um momento de tensão entre as ambições políticas e os limites institucionais no Brasil. A disputa indica que, além do trâmite legal, há um jogo intenso de poder, influência e cálculo eleitoral em curso.

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