Mirian Monte: uma mulher de fibra, uma presidente de honra, uma sábia

A lição deixada por Mirian Monte é de igual intensidade a sabedoria à do Rei Salomão na Parábola do filho desejado por duas mães: para quem não sabe leia e aprenda.

Mirian Monte: uma mulher de fibra, uma presidente de honra, uma sábia

Após nossa lavra na matéria sobre a renúncia da presidente Mirian Monte, do Centro Sportivo AlagoanoCSA –, vale destacar que o termo Sportivo, de origem inglesa, foi marca dos clubes fundados no início do século XX, a exemplo do Sport Club Penedense, fundado sob influência da família Peixoto & Gonçalves, frequentes visitantes da Europa, de onde trouxeram também a invenção de Charles Miller para o Brasil.

O CSA carrega em sua história marcas indeléveis: quarenta títulos de Campeão Alagoano, sendo o maior campeão do Estado, além de participações memoráveis, como a decisão do Campeonato Brasileiro da Série B em 1980 contra o Londrina, quando sagrou-se vice-campeão. Eram tempos de Nei Conceição brilhando na equipe.

Mas indo direto ao ponto, nossa missão neste artigo é trazer à luz informações fundamentadas sobre o que significa ser mulher em um país que ainda esconde, por trás das cortinas e coxias, um machismo entranhado. Machismo que se disfarça sob olhares aparentemente respeitosos ao chamado “sexo frágil”, mas que, na prática, insiste em cobrar mais da mulher do que cobraria de qualquer dirigente homem. É nesse cenário que a passagem de Mirian Monte pelo comando do Azulão deve ser valorizada, muito além das insinuações maldosas de alguns próximos que, sem perceber, ao derrubarem a presidente, ajudam a empurrar o próprio CSA ladeira abaixo. Não leram Maquiavel.

Para as mulheres do Brasil, Mirian Monte foi uma espécie de “Leila do Palmeiras”: mesmo vitoriosa, bastava um tropeço para que a culpa recaísse toda sobre seus ombros. No caso do CSA, ela assumiu um clube em crise após a morte do ex-presidente Omar Coelho e o levou a participações honrosas em todas as competições, mesmo diante do desgaste natural que um calendário sufocante impõe a clubes de médio porte no futebol brasileiro. Ninguém, do tamanho do CSA, consegue sustentar três ou quatro elencos competitivos ao mesmo tempo.

Em um terreno historicamente masculinizado como o futebol, a ascensão de uma mulher ao mais alto cargo diretivo nunca conta com o apoio pleno daqueles que desejam ser “o presidente”. Muitos preferem ver o clube perder a aceitar a liderança feminina. Mas que tipo de amor ao clube é esse?

A queda do CSA para a Série D - acidente de percurtso - não é demérito exclusivo de Mirian Monte. É responsabilidade de toda a diretoria, em especial de quem torceu para o pior. O futebol, afinal, se assemelha a uma banda: quando um músico quer, derruba até o cantor mais famoso que seja. Tudo que depende de muitos, sem amor verdadeiro ao que se faz, está sempre em risco.

Como azulino na capital, por amor ao meu saudoso pai, só lamento que Mirian Monte não tenha sido compreendida em sua grandeza. Quem deixa contas prestadas e claras prova não apenas a honestidade que carrega nas veias, mas também a força de quem tentou acertar, mesmo contra o mundo obscuro do futebol.

Veja a prestação de contas deixada por quem tem responsabilidade.

Saldo das contas

Itau. 101.975,59
Caixa.  838.263,01

Saldo de fechamento da gestão. Em conta. 
Todas as despesas pagas. Nada em aberto. 
Fizemos boa parte dos acordos. Não fizemos todos porque não tive tempo. Faltaram apenas uns 12 jogadores.

Primeiro quadrimestre. Até o dia 30.09 a contabilidade fecha o segundo quadrimestre e mando aqui.

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Creditos: Professor Raul Rodrigues