Centrão e Tarcísio articulam anistia a Bolsonaro

Centrão e Tarcísio articulam anistia a Bolsonaro

Contexto da articulação política

Nos últimos dias, integrantes dos partidos do centrão e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), intensificaram conversas para viabilizar uma anistia a Jair Bolsonaro (PL) após uma eventual condenação. A proposta busca tirar o ex-presidente da prisão, mas manter sua inelegibilidade, abrindo espaço para que Tarcísio avance na disputa presidencial de 2026.

O objetivo da proposta

Embora o texto de um projeto de lei ainda não esteja fechado, a articulação política tem um objetivo claro: buscar um mecanismo legislativo que permita ao Parlamento conceder perdão a condenados pelos atos golpistas, sem necessariamente restaurar direitos políticos que permitam candidatura em 2026. A ideia é que a anistia beneficie presos do 8 de Janeiro e, entre eles, Bolsonaro, sem reverter as condenações eleitorais que o tornam inelegível.

Como a negociação vem avançando

Fontes próximas às negociações relatam que o movimento ganhou força após visitas e conversas entre Tarcísio e líderes bolsonaristas. O governador foi um dos primeiros a visitar Bolsonaro em prisão domiciliar, numa reunião que durou cerca de duas horas, e desde então passou a se envolver mais diretamente na costura política.

A estratégia envolve aprovar um projeto de lei na Câmara e, ao mesmo tempo, buscar algum tipo de segurança jurídica ou entendimento com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar que a proposta seja declarada inconstitucional. Essa dupla frente — legislativa e judicial — é vista pelos articuladores como essencial para que a anistia tenha efeito prático.

A pressão na Câmara e o papel do centrão

Nas últimas reuniões de líderes, ficou acertado que a matéria não será votada imediatamente, mas há possibilidade de inclusão na pauta após o julgamento do ex-presidente no STF. O requerimento de urgência, que aceleraria a tramitação, pode ser discutido já na semana seguinte ao encerramento do julgamento.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que vinha resistindo a pautar a proposta, passou a receber pressões dos líderes partidários. Sobre esse movimento, um dos relatos oficiais foi: "Os líderes estão cobrando, estamos avaliando, vamos conversar mais. [...] Aumentou o número de líderes pedindo", disse. Paralelamente, deputados bolsonaristas e dirigentes do centrão afirmam que já existe uma base de apoio suficiente para levar a matéria ao plenário.

Apoios e resistências internas

Dirigentes de partidos com grande peso no Congresso mostram apoio à iniciativa. Entre nomes citados como articuladores estão líderes do PP, União Brasil, PL e Republicanos, que avaliam existir cerca de 300 votos favoráveis na Câmara. A federação entre União Brasil e PP declarou que os filiados com mandato devem deixar cargos no governo e manifestou apoio à anistia, pressionando pela votação "o mais breve possível".

Por outro lado, há resistências dentro do próprio Judiciário e de setores que temem que a anistia seja considerada inconstitucional pelo STF. Para mitigar esse risco, aliados buscam interlocução com ministros e tentam desenhar um texto que minimize vulnerabilidades jurídicas.

Reações políticas

No espectro oposicionista, a articulação recebeu críticas. O líder do PT, Lindbergh Farias, afirmou que a movimentação, liderada por Tarcísio, "matou no peito" a estratégia e que "a coisa ficou séria", destacando uma "mudança de tom e de intensidade" na tentativa de pautar a anistia. "Cresceu um movimento com a presença do governador de São Paulo. [...] Me parece um desejo de pautar mesmo", disse.

Do lado governista e entre as bancadas que apoiam a iniciativa, a avaliação é pragmática: há necessidade de consolidar uma solução política que contemple demandas do bolsonarismo sem, contudo, reabrir a possibilidade de candidatura de Bolsonaro em 2026. A leitura é que, ao negociar a anistia, Tarcísio estaria buscando consolidar apoio entre os eleitores e lideranças próximas ao ex-presidente.

Implicações jurídicas

É importante destacar que a anistia proposta não trataria diretamente da inelegibilidade determinada por decisões eleitorais. Advogados eleitorais consultados por lideranças do centrão já apontaram que uma anistia criminal pode ser utilizada em recursos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas não há garantia automática de reversão das decisões que tornaram Bolsonaro inelegível por abuso de poder nas eleições de 2022.

Além disso, a principal dificuldade técnica é garantir que o STF não declare a medida inconstitucional. Por isso, interlocutores do centrão com maior contato com a corte tentam costurar apoios para reduzir a probabilidade de derrubada pelo Supremo.

O jogo eleitoral de 2026

Para Tarcísio, a articulação representa um movimento para consolidar seu papel como principal alternativa ao bolsonarismo sem perder o apoio desse eleitorado. A estratégia prevê ao mesmo tempo aproximar-se do centrão e mostrar disposição para atender a uma pauta considerada crucial pelo núcleo duro de apoiadores de Bolsonaro.

Se bem-sucedida, a iniciativa poderia redesenhar alianças e fortalecer a candidatura de Tarcísio ao Palácio do Planalto. Se fracassar, pode expor o governador a críticas por ter se envolvido diretamente numa proposta que enfrenta forte resistência judicial e política.

Principais pontos em disputa

  • Texto do projeto: ainda em aberto e sujeito a negociações entre líderes;
  • Prazo e votação: há articulação para pautar após o julgamento no STF;
  • Garantia jurídica: tentativa de blindagem para evitar declaração de inconstitucionalidade;
  • Impacto eleitoral: possível fortalecimento de Tarcísio junto ao bolsonarismo, sem reabilitar Bolsonaro eleitoralmente.

Conclusão e chamada para ação

A movimentação política em torno da anistia a Bolsonaro coloca o centrão e o governador Tarcísio de Freitas no centro de uma disputa que envolve decisões legislativas, interpretações constitucionais e o cenário eleitoral de 2026. O desfecho dependerá da capacidade de costura política na Câmara e da resposta do STF à proposta.

Quer acompanhar as atualizações sobre essa pauta? Deixe seu comentário, compartilhe este artigo e assine nosso blog para receber análises e notícias sobre política, eleições e decisões do STF.