Moraes: pacificação não é covardia nem impunidade
02/09/2025, 13:34:47Resumo e contexto
O ministro Alexandre de Moraes abriu o julgamento sobre a trama golpista com um discurso enfático, destacando a necessidade de defesa das instituições democráticas e do Estado de Direito. Em sua fala, o relator deixou claro que a busca pela pacificação nacional depende da aplicação das leis e do fortalecimento das instituições, e não pode ser confundida com complacência ou impunidade. Ao contextualizar o processo que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus, Moraes ressaltou pressões sofridas pela corte e mencionou a existência de tentativas de coação.
O posicionamento do relator
Antes de iniciar a leitura do relatório da ação penal, o ministro afirmou que cita "pressões internas ou externas" e que o Supremo enfrentou tentativas de obstrução durante o andamento do processo. Para Moraes, a solução para as tensões políticas passa necessariamente pelo respeito à Constituição e pela aplicação da lei.
Trechos centrais do discurso
Em trecho direto, o ministro declarou: "A pacificação do país depende do respeito à Constituição, da aplicação das leis e do fortalecimento das instituições, não havendo possibilidade de se confundir a saudável e necessária pacificação com a covardia do apaziguamento, que significa impunidade e desrespeito à Constituição federal. E mais: significa incentivo a novas tentativas de golpe de Estado".
Logo depois, reforçou o papel do tribunal: "Esse é o papel do Supremo Tribunal Federal: julgar com imparcialidade e aplicar a Justiça a cada um dos casos concretos, independentemente de ameaças ou coações, ignorando pressões internas ou externas".
Acusações e a menção à organização criminosa
No relatório preliminar, o relator afirmou ter identificado condutas deliberadas que, segundo ele, configurariam uma ação coordenada com o objetivo de coagir o Judiciário. Moraes afirmou ainda: "Lamentavelmente, no curso dessa ação penal, se constatou a existência de condutas dolosas e conscientes de uma verdadeira organização criminosa que, de forma jamais vista anteriormente em nosso país, passou a agir de maneira covarde e traiçoeira com a finalidade de tentar coagir o Poder Judiciário e, em especial, este Supremo Tribunal Federal e submeter o funcionamento da corte ao ao crivo de outro Estado estrangeiro."
O peso da acusação de tentativa de golpe
Ao tratar do ponto central da ação, o relator afirmou que há elementos que indicam tentativa de golpe de Estado, a principal acusação contra os réus. Em sua avaliação, esse tipo de ameaça à institucionalidade exige respostas firmes das instituições democráticas.
Nas palavras de Moraes: "Um país e a Suprema Corte só têm a lamentar que se tenha tentado de novo um golpe de Estado, pretendendo-se um estado de exceção e uma verdadeira ditadura. As instituições mostraram sua força e sua resiliência em que pese uma radical polarização política, todos nós devemos afastar com todas as nossas forças e empenho a tentativa de qualquer quebra da institucionalidade".
Defesa da soberania e independência institucional
Outro ponto destacado pelo ministro foi a necessidade de proteger a soberania nacional e a independência das cortes. Ele reiterou que "a soberania nacional não pode, não deve e jamais será vilipendiada, negociada ou extorquida", defendendo a ideia de que a coragem institucional e a defesa da soberania fazem parte da missão do Supremo.
Nesse sentido, Moraes afirmou: "Coragem institucional e defesa da soberania nacional fazem parte do universo republicano dos membros desta Suprema Corte, que não aceitará coações ou obstruções no exercício de sua missão constitucional, conferida soberanamente pelo povo brasileiro, por meio de sua Assembleia Nacional Constituinte".
Aspectos processuais e ineditismos do caso
O processo apresenta elementos considerados inéditos, como o volume de material reunido — cerca de 80 terabytes — e medidas de segurança diferenciadas para as sessões. Além disso, o relator conduz o processo com velocidade e já tomou decisões que geraram críticas e questionamentos das defesas.
Não é rotina que um relator exponha posições antes da votação definitiva; Moraes ainda deverá apresentar seu voto após ouvir a Procuradoria-Geral da República e as defesas dos oito réus. Dependendo do andamento das sessões, o voto final pode ocorrer apenas na semana seguinte.
Críticas e alegações de suspeição
Ao longo do processo, houve contestações sobre decisões tomadas pelo ministro, incluindo alegações de suspeição por parte de advogados de investigados. Os defensores argumentam que a denúncia o teria apontado como possível vítima, o que, segundo eles, comprometeria a imparcialidade do relator. Nas alegações finais de representantes de Braga Netto, afirmam: "Sua suspeição decorre do fato de a denúncia apontá-lo como a pessoa que seria vitimada pelos denunciados, sendo natural e evidente a contaminação subjetiva do julgador".
O que está em jogo para a democracia
O julgamento tem implicações políticas e jurídicas profundas. A definição sobre a existência ou não de tentativa de golpe e sobre a responsabilização dos envolvidos terá impacto na percepção pública sobre instituições como o STF e sobre a estabilidade política do país. A forma como o processo é conduzido, com transparência e observância às garantias processuais, será crucial para a legitimidade do resultado.
Conclusão
Em síntese, o ministro Alexandre de Moraes deixou claro que pacificação e justiça devem caminhar juntas: pacificar não significa abrir mão da aplicação da lei ou aceitar impunidade. O desenrolar do julgamento seguirá pautado pela apresentação de provas, manifestações da PGR e das defesas, e, por fim, pelo voto dos ministros do Supremo.
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