Crime financia eleições e avança em São Paulo
02/09/2025, 09:32:48Promotor alerta para financiamento de campanhas por facção criminosa
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya vem soando um alerta importante sobre a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas eleições municipais e na política de São Paulo. Em entrevista no programa Roda Viva, Gakiya afirmou que há sinais de que a facção tem financiado candidaturas a vereadores e prefeitos, além de buscar espaços de influência dentro dos poderes do estado.
Infiltração e financiamento
Segundo o promotor, a estratégia da organização criminosa vai além da violência nas ruas e alcança diretamente o processo político. Nas palavras de Gakiya: "No que eu verifico é um expressivo número de envolvimento do PCC financiando campanhas de vereadores e de prefeitos de alguns municípios de São Paulo. Eu creio que um projeto de lei anti máfias qualifica e transforma em organização criminosa quando há a influência no processo político". Esse tipo de financiamento compromete a integridade das eleições e coloca em risco decisões públicas fundamentais para a segurança e o desenvolvimento local.
Riscos para as próximas eleições
O promotor também manifestou preocupação com o que chamou de possível contaminação das urnas por recursos ilícitos: "as próximas eleições possam estar permeadas na utilização de recursos oriundos do crime organizado". A presença de dinheiro de origem criminosa em campanhas pode gerar dependência entre candidatos e grupos ilegais, além de distorcer a disputa democrática em favor de quem tem maior capacidade financeira, mesmo que ilícita.
Classificação legal e debate sobre terrorismo
Na entrevista, Gakiya explicou que, conforme a legislação brasileira, facções como o PCC, o Comando Vermelho e milícias não se enquadram formalmente como organizações terroristas. "Frente à legislação brasileira, o tipo de tipificação legal que o Brasil deu para o terrorismo, tanto o PCC quanto o Comando Vermelho, ou milícias, não se enquadram como organizações terroristas", afirmou. Ainda assim, ele ressaltou a gravidade das ações dessas organizações: "Essas organizações, como o PCC, por exemplo, sem dúvida nenhuma, na minha opinião, praticam atos de natureza terrorista". O debate ganha importância diante de discussões internacionais sobre o tratamento jurídico de facções transnacionais.
Falta de cooperação internacional
Outro ponto destacado por Gakiya é a fragilidade da resposta transfronteiriça. Ao falar sobre líderes da facção que estariam em países vizinhos, citou a Bolívia como exemplo de dificuldades na cooperação policial: "O que falta é cooperação internacional. A Bolívia, infelizmente, não tem boas relações de cooperação policial com o Brasil". E complementou: "Penso que falta realmente uma cooperação internacional. Me parece que o próprio governo brasileiro também precisa assumir a iniciativa de estabelecer essas negociações". Sem acordos e operações conjuntas eficazes, as lideranças criminosas mantêm canais seguros para coordenar operações e lavar recursos.
Consequências do abandono estatal
Gakiya não deixou de apontar responsabilidades internas: "O abandono do estado, que desprezou a existência [do PCC] e o crescimento da facção, fez com que a facção contasse um controle setores [da sociedade e do crime]". Essa afirmação reforça a ideia de que a ausência de políticas públicas consistentes em áreas sociais e de segurança criou espaço para que organizações criminosas se estabeleçam e ampliem sua influência.
Medidas necessárias e propostas
Para enfrentar o problema, especialistas e autoridades apontam algumas frentes de atuação:
- Legislação específica: aprimorar normas que caracterizem e punam a influência de organizações criminosas no processo político;
- Transparência eleitoral: fortalecer mecanismos de transparência e fiscalização do financiamento de campanhas, incluindo auditorias mais rigorosas;
- Cooperação internacional: firmar acordos bilaterais e regionais para combater a atuação de líderes em outros territórios;
- Investimento social: retomar e ampliar políticas públicas em áreas vulneráveis, reduzindo espaços de recrutamento e poder das facções;
- Ações integradas de segurança: promover operações coordenadas entre polícia, Ministério Público e sistema judiciário para desarticular redes financeiras e logísticas.
O papel da sociedade e dos gestores
Além das ações estatais, há necessidade de maior vigilância por parte da sociedade civil e dos meios de comunicação. Cidadãos e instituições devem exigir transparência dos candidatos e monitorar possíveis vínculos com grupos criminosos. Gestores públicos também precisam assumir responsabilidade, promovendo controles internos e evitando conivência com fontes de financiamento ilícitas.
Conclusão
O alerta do promotor Lincoln Gakiya chama atenção para um cenário preocupante: a entrada do crime organizado no financiamento de campanhas e a possível infiltração nos poderes de São Paulo. A resposta exige medidas legais, cooperação internacional e políticas públicas eficazes. Somente com ações coordenadas será possível proteger a integridade das eleições e fortalecer a democracia frente a interesses criminosos.
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