Como Gaspar não convocar "perseguidos" na CPMI se o país está dividido?
26/08/2025, 21:46:32Como Alfredo Gaspar não convocar “perseguidos” em um país dividido pela política? Os de Lula perseguidos por Gaspar. Os de Bolsonaro perseguidos por Lula. E aí?
O Brasil de hoje é um retrato vivo da divisão. De um lado, grupos que se afirmam como defensores da moral, da ordem e da tradição. Do outro, setores que reivindicam direitos, liberdade e inclusão como fundamentos da democracia. No meio desse cabo de guerra, o que sobra é um país exausto, em que qualquer palavra vira sentença e qualquer silêncio pode soar como cumplicidade.
Nesse cenário, a postura das lideranças políticas não é apenas uma questão de estilo, mas de sobrevivência institucional. Alfredo Gaspar, figura de peso no debate alagoano e nacional, se encontra diante desse dilema: como não convocar os “perseguidos” sem parecer que escolhe um lado nesse Brasil em ebulição?
A convocação de perseguidos — sejam eles políticos, militantes, lideranças comunitárias ou mesmo cidadãos comuns que se sentem alvos de um sistema injusto — sempre carregou um simbolismo poderoso. Remete à memória de que o país já viveu períodos de censura, repressão e cassação de direitos. Convocar esses personagens seria assumir uma posição de reconhecimento à dor e à exclusão, um gesto político com enorme carga simbólica.
Mas, ao mesmo tempo, essa mesma convocação poderia ser interpretada como uma tomada de partido, reacendendo as brasas da divisão e aprofundando ainda mais o clima de polarização. Gaspar, que carrega o peso da imagem de firmeza e autoridade, corre o risco de ser acusado de “abrir as portas” para os extremos se optar por esse caminho.
O que está em jogo, portanto, não é apenas o ato de chamar ou não chamar os perseguidos, mas a leitura pública que se fará desse gesto. Em tempos de política radicalizada, um aperto de mão pode virar manchete, uma reunião pode ser traduzida como aliança, e o silêncio pode ser interpretado como desprezo.
Se Gaspar não convoca, pode parecer insensível diante das dores e injustiças vividas por parte da população. Se convoca, pode ser acusado de insuflar divisões e dar palco a narrativas de vitimização política. O fio é tênue, e qualquer passo pode ecoar como erro estratégico.
Talvez a saída esteja em transformar a pauta dos perseguidos em pauta de todos: não se trata de defender lado A ou lado B, mas de reafirmar que qualquer cidadão que se sinta injustiçado deve ter espaço para ser ouvido. Ao ressignificar o termo “perseguidos” para o campo da cidadania e da justiça universal, Gaspar poderia encontrar um caminho que não alimenta trincheiras, mas reforça a ideia de que liderança política deve ser ponte e não muro.
Em um Brasil fraturado, a maior convocação que se espera não é de perseguidos ou perseguidores, mas de um senso de pertencimento coletivo. E talvez seja aí que Gaspar precise encontrar a medida exata: convocar o país para um novo diálogo, sem perder de vista a memória dos que carregam no corpo e na alma as marcas da exclusão.