Trump e Putin: Negociações e Humilhações na Ucrânia

Trump e Putin: Negociações e Humilhações na Ucrânia

Horas antes do encontro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, Donald Trump declarou a jornalistas que não ficaria satisfeito se a conversa não resultasse em um anúncio de cessar-fogo na guerra com a Ucrânia. Guerra, aqui, é licença poética. O que se observa ali é um massacre que não foi interrompido nem quando Trump e Putin apertaram as mãos.

O líder russo foi até o Alasca para afirmar que o chefe da Casa Branca poderia "tirar o cavalinho da neve". A resposta era evidente: por que alguém ganhando uma guerra, com forças militares tão próximas da tomada de Kiev, diria “claro, pois não, vou ligar agora para os meus chefes das Forças Armadas e garantir o seu Nobel da Paz. Confia"? Nem Trump, que é dado a exageros, acreditava nessa conversa.

O "não" ele já tinha. Faltava a humilhação, e essa surgiu em um post na rede social Truth, onde ele declarou ter tido “um dia ótimo e muito bem-sucedido no Alasca!” Apenas faltou mencionar que passou calor.

Essa é a história que ele conta para seu público interno. Porém, existe uma narrativa não revelada. Se não, qual seria a razão para que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não estivesse em um dos aviões da Joint Base Elmendorf-Richardson, em Anchorage? Isso ficou evidente em uma segunda postagem de Trump, na qual ele já não manifestava tanto desejo por um cessar-fogo. Em vez disso, declarou preferência por um acordo de paz mais abrangente do que uma simples interrupção temporária do massacre. Isso, atualmente, significa a rendição total da Ucrânia, com amplas áreas sendo oficialmente anexadas (e sem sanções) pela Rússia.

Putin, assim, alcançou o que deseja desde o início do conflito: afastar as forças da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, de sua fronteira. Como? Anexando o vizinho rebelde que flertava com o inimigo.

Entretanto, entre o sorriso de boas-vindas e o tuíte de Trump, a conversa certamente navegou por outros temas. O que Trump quer é resolver rapidamente o conflito, com o aval da Otan, e conter a influência chinesa na região. Atualmente, Moscou é um distrito de Pequim, de onde saem automóveis e outros dispositivos eletrônicos na mesma rota que transporta petróleo e gás natural russo. Os Estados Unidos gostariam de entrar neste mercado.

Putin falou com o presidente Lula antes de se encontrar com Trump. Muitos, os ingênuos, acreditaram que o tópico da conversa também era a guerra na Ucrânia. Ao saber do telefonema, Trump ordenou o cancelamento de uma reunião que ocorreria na mesma semana entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent. O foco seria a revisão das tarifas sobre exportações brasileiras.

Na guerra comercial de Trump, Brasil e Rússia são coadjuvantes em um embate entre chineses e norte-americanos. E estes atuarão com força em um caso e com flerte no outro, para conter aquilo que Trump já definiu como uma ameaça aos interesses dos Estados Unidos (referindo-se ao Brics e à proposta de desdolarização das transações entre países).

Mas e a guerra? Como disse o professor Leonardo Trevisan, durante sua participação no programa ICL Notícias da última sexta-feira (15), “coitada da Ucrânia”.*