Mistério no espaço: enigma do sinal WOW perdura em 48 anos

Mistério no espaço: enigma do sinal WOW perdura em 48 anos

O sinal WOW e seu impacto na ciência


Em agosto de 1977, um dos maiores radiotelescópios da época, o da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, captou um sinal incomum que durou pouco mais de um minuto. Batizado de "WOW" pelo astrônomo que o registrou, o evento segue sem explicação quase cinco décadas depois. O professor e astrônomo Renato Las Casas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou ao iG que o sinal foi detectado na direção da constelação de Sagitário e tinha intensidade incomum.

“Já varremos essa região várias vezes, tentando identificar a fonte, mas não encontramos nada”, afirma Las Casas. A característica das ondas de rádio, que atravessam o espaço praticamente sem perder intensidade, abre a possibilidade de que a emissão tenha vindo de muito longe, talvez até de fora da Via Láctea.

Contexto histórico e especulações


Além do mistério, o contexto histórico ajudou a ampliar a repercussão. “Nos anos 1970, falava-se muito sobre vida extraterrestre, inclusive na academia. Como não poderia deixar de ser, surgiu a hipótese de que o sinal poderia ter sido emitido por uma civilização inteligente”, comenta Las Casas. Embora ressalte que a probabilidade seja incerta, ele afirma que não se pode descartar essa possibilidade.

O sinal não se repetiu, o que dificulta sua interpretação. Segundo o astrônomo, ele pode ter sido um fenômeno periódico de ciclo extremamente longo, como certos cometas, ou algo não periódico, que jamais voltará a ocorrer. “O fato de não temos detectado novamente não significa muito. Simplesmente ainda não houve repetição”, diz. Para Las Casas, o episódio revela o quanto ainda sabemos pouco sobre o universo e nossas próprias ferramentas de observação.

A importância da curiosidade na ciência


Ele lembra que há menos de um século nem se imaginava a existência de matéria escura, que hoje é tema de estudos intensos. “Nosso limite tecnológico está muito aquém do que pensamos. O amanhã sempre vai além do que conseguimos prever hoje”. Mesmo sem resposta, o "WOW" segue como exemplo de como a curiosidade move a ciência. “A curiosidade é o combustível. Ela nos leva a investigar o que não entendemos. Esse sinal, mesmo que nunca saibamos a origem, desperta o interesse pelo conhecimento”, conclui o professor.

Atualmente, a radioastronomia continua sendo considerada uma das melhores formas de procurar sinais de vida inteligente, mas não a única. Las Casas cita buscas no infravermelho e a análise de atmosferas de exoplanetas como estratégias promissoras para detectar não só civilizações tecnológicas, mas também formas de vida mais simples. Enquanto novas tecnologias avançam, o sinal captado há 48 anos permanece como um dos maiores enigmas da astronomia moderna, um eco distante que continua desafiando nossa compreensão do cosmos.