Tráfico de drogas no Amazonas e seus desafios

Tráfico de drogas no Amazonas e seus desafios

Uma rota estratégica para o tráfico

No estado do Amazonas, o coração da floresta virou um ponto estratégico para o tráfico de drogas. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, mais de 97 toneladas de entorpecentes - maconha, cocaína e derivados - foram apreendidas pela Polícia Federal (PF) em terras amazonenses, entre 2013 e 2024. O total representa cerca de 53% do total apreendido no Norte e 1,9% do total nacional. Em princípio, os números não indicam o Amazonas como um protagonista do tráfico no contexto regional ou nacional. Mas o próprio Anuário aponta que os dados não conseguem estimar o problema em sua totalidade.

Dificuldades na fiscalização

O governo do estado admite dificuldade na fiscalização, mas afirma ter adotado medidas para conter o avanço do crime. O pesquisador César Mauricio de Abreu Melo explica que isso se deve a diversos fatores, como o uso dos rios como vias de transporte, a dificuldade de fiscalização e o tamanho do estado. “A complexidade geográfica da Amazônia brasileira confere-lhe um papel central nas dinâmicas do tráfico transnacional de entorpecentes”, pontua o pesquisador.

A Rota do Solimões

No caso do estado do Amazonas, que abriga uma das principais portas de entrada da cocaína no país, estamos falando de uma área superior a 1,5 milhão de quilômetros quadrados e de uma extensa linha de fronteira de aproximadamente 3.900 quilômetros. Segundo Melo, a 'Rota do Solimões' é o principal caminho do tráfico na região. Com 1.700 km de extensão, o rio nasce no Peru, passa a fronteira brasileira e se encontra com o Rio Negro em Manaus. Dessa união, surgem o Rio Amazonas e diversos afluentes, que também são utilizados pelos traficantes.

Por que os rios?

A cidade de Tabatinga, na tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia, é a grande porta de entrada das cargas ilícitas. Elas flutuam pelo Solimões e, logo, pelo rio Amazonas, até a capital. Manaus, nas palavras do pesquisador, “serve como um hub de distribuição e transbordo”. Os principais pontos de escoamento para os mercados nacional e internacional, notadamente o europeu, são os portos de Vila do Conde, localizado próximo a Belém, no Pará, e o porto de Santana, em Macapá, no Amapá.

Desafios do transporte fluvial

O transporte fluvial é o mais utilizado na região Amazônica: os rios são necessários para a mobilidade e o acesso a comunidades isoladas, já que não há muitas estradas para fazer a conexão entre essas localidades e os grandes centros. Esse conjunto de limitações cria um terreno fértil para o tráfico na região. Enquanto o Estado se desdobra para ampliar sua presença e reforçar a fiscalização, os criminosos operam com uma logística cada vez mais sofisticada, que aproveita ao máximo as vantagens que os rios oferecem.

A voz das autoridades

Em entrevista ao Portal iG, o secretário de Segurança Pública do Amazonas, o coronel Marcus Vinícius Oliveira de Almeida, destacou os custos operacionais para manter o policiamento em áreas remotas do estado. “O custo disso tudo é altíssimo. Só em combustível, por exemplo. Para ir de barco até Guajará, no interior do Amazonas, são 3.180 quilômetros navegando dentro do próprio estado. Isso é a mesma distância de Manaus até Porto Alegre.”

Impacto social

O estudo do Amazônia 2030 traçou um paralelo entre a mudança nas rotas do tráfico e o aumento da violência em municípios ribeirinhos. De acordo com a pesquisa, foram registrados 1.430 homicídios a mais entre 2005 e 2020 no Oeste amazônico, o que representa um impacto social enorme nas comunidades locais.

Reações do estado

O governo do Amazonas informou estar fortalecendo a presença nas rotas fluviais. O estado conta com cinco bases em funcionamento, responsáveis por grande parte das apreensões no estado. “Até 2019, o Amazonas apreendia pouco mais de nove toneladas de drogas por ano. A partir de 2021, esse número subiu para 29, 26 e 28 toneladas nos anos seguintes.”

“Controlar isso não é simples. E sem um olhar mais atento da União, vai continuar sendo um gargalo. Não é crítica pela crítica, mas o Brasil precisa, sim, investir mais aqui na região.”