Entenda como funciona a plutocracia nos EUA

Entenda como funciona a plutocracia nos EUA

Governo dos mais ricos: entenda como funciona a plutocracia

A posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em janeiro deste ano, contou com a presença de Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, os CEOs das gigantes Tesla, Amazon e Meta. Os empresários se sentaram ao lado de autoridades do primeiro escalão do governo, evidenciando como grandes empresários e a elite representavam para aquele governo. No ramo da ciência política, essa influência de grupos com grande poder econômico sobre decisões estatais é conhecida como plutocracia.

O encontro dos bilionários não foi por acaso: as empresas de Bezos e Zuckerberg doaram US$ 1 milhão cada para a campanha, segundo a NBC News. Musk foi além, e investiu mais de US$ 250 milhões. Em troca, ganhou a chefia do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). O bilionário deixou o posto no fim de maio, após cumprir um contrato voluntário de 130 dias, em meio a diversas críticas do presidente republicano.

Origem do termo

Para entender o conceito, o Portal iG entrevistou Paulo Ramirez, cientista político da ESPM. Segundo o especialista, a plutocracia pode ser resumida como o "governo dos ricos". "Deriva do grego 'ploutos' (riqueza) e 'kratos' (poder). Não necessariamente significa que os ricos estão diretamente no poder, mas que têm capacidade de influenciá-lo", diz. Diferentemente da oligarquia, uma plutocracia não exige que os ricos estejam formalmente no governo, com contratos e serviços. O importante é dominar os bastidores, com lobbies, financiamento de campanhas ou controle da opinião pública.

Ramirez lembra que mesmo democracias consideradas consolidadas, como é o caso dos EUA, têm traços desse modelo.

"Existem traços da plutocracia em democracias, mesmo porque o poder econômico é determinante para, de alguma forma, gerar divulgação do nome de um político, de um candidato, mesmo fora do período das eleições", diz. Ele explica que não existe um setor específico - como a tecnologia, o agro ou os meios de comunicação - para a plutocracia se instalar. "Ela tem um conjunto de setores da sociedade, desde que sejam ricos, economicamente influentes e acabam consequentemente tendo impacto sobre as práticas políticas", conclui.

E no Brasil?

O cenário no Brasil não é tão diferente, e de forma ilegal. A Justiça Eleitoral proíbe as empresas de doarem diretamente às campanhas. Para driblar essa trava, os empresários impulsionam seus políticos com doações categorizadas como de "pessoa física".

Em 2022, por exemplo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu uma doação de R$ 7,4 milhões do empresário Rubens Ometto, da Cosan. Outros nomes da elite industrial, como Frederico Gerdau e Alexandre Grendene, também figuram entre os maiores doadores. O presidente Lula também recebeu valores generosos, como os R$ 2,6 milhões do empresário Seripieri Filho, da Qualicorp.

Segundo Ramirez, "debaixo dos bastidores da política há práticas lobísticas muito comuns em Brasília, convite a jantares, financiamento de algumas atividades políticas parlamentares ou mesmo campanhas políticas", diz. Para o especialista, de certa forma, a plutocracia reforça as distorções históricas de representatividade no sistema político brasileiro. Apesar do país ser rico em diversidade étnica, social e cultural, o perfil dos parlamentares é, em sua maioria, a tradução da elite econômica.

"O Congresso brasileiro é sintomático", diz Ramirez. "Vivemos em um país com imensa diversidade social e racial, mas a maioria dos parlamentares é formada por homens brancos, empresários, ligados ao agronegócio e ao setor industrial. Não é coincidência, é resultado direto da atuação de plutocratas que financiam essas campanhas. Mesmo partidos de centro-esquerda, muitas vezes, acabam sendo eleitos com apoio do grande capital", explica.

Quais os efeitos da plutocracia?

Para Ramirez, embora a plutocracia possa, em alguns casos, permitir avanços sociais, seu efeito a longo prazo tende a ser o aumento das desigualdades, com concentração de renda e fragilidade da representação popular.

"As plutocracias tendem a concentrar poder político e econômico nas mãos dos mais ricos, mas não necessariamente levariam a uma miséria absoluta de uma sociedade. Pode ser que haja plutocratas que pretendam fazer com que o desenvolvimento econômico e social permitam-os ganhar ainda mais dinheiro e manter mais poder político. Como assim também há plutocratas que, dependendo da situação econômica, como uma crise, por exemplo, podem se voltar contra os interesses do restante da sociedade", diz.

Para ele, medidas que parecem técnicas e neutras, como a autonomia do Banco Central, revelam na prática os caminhos institucionais que favorecem os interesses das elites.

"A autonomia do Banco Central, por exemplo, foi vendida como medida técnica, mas na prática afasta o órgão do controle democrático e o aproxima dos interesses do mercado financeiro", afirma. "Temos também exemplos de países que têm parte da sua legislação, inclusive ambiental, que deriva, como aqui no Brasil, dos interesses dos desmatadores, de gente que explora metais preciosos, a indústria petrolífera. Então é interessante jamais desvincular, dentro dos países capitalistas e democráticos, a influência de plutocratas sobre as decisões políticas", diz.

E o futuro?

Para o cientista político, a tendência é que os regimes se voltem cada vez mais aos interesses das classes economicamente dominantes.

"A plutocracia é perene no sistema capitalista e, consequentemente, no modelo político liberal. Volto a dizer, a maneira como o Estado está organizado representa os interesses de uma elite econômica, consequentemente de plutocratas", diz.