Mãe busca corpo de filho aliciado na Rússia

Mãe busca corpo de filho aliciado na Rússia

Jovem teria sido aliciado com falsa promessa de trabalho e acabou no front de guerra


"O meu filho em nenhum momento sabia que iria se alistar no exército da Rússia para lutar contra a Ucrânia", desabafa a dona Helade de Oliveira Medeiros, de 43 anos, que não tem mais dúvidas que o filho foi vítima de um golpe de falso trabalho na Europa. O Portal iG falou com a aposentada, que busca informações sobre o desaparecimento de Anderson de Oliveira Ferreira, de 25 anos, casado e pai de uma menina de 5. "Ele pensou que estava indo trabalhar como segurança particular na Europa. Em nenhum momento desconfiou que era pro exército. Deram dois documentos para ele assinar: um documento escrito em português que dizia que ele seria segurança, e um outro, escrito em russo e ele não sabia ler em russo".

Segundo Helade, o filho assinou todos os documentos a mando dos golpistas, e o texto em russo já era o alistamento do exército. "Quando meu filho descobriu a verdade, já estava dentro do exército russo. Ele não falou nada, pra não preocupar a gente. Falou que estava trabalhando como segurança particular. Só depois do desaparecimento dele, que vários soldados amigos me ligaram para informar que ele estava morto. Foi aí que entendi a história do golpe. Meu filho sofreu sozinho pra não me preocupar".

Segundo a família, que conversou com outras vítimas, os golpistas agem no Brasil e levam brasileiros com propostas falsas de emprego na Europa. Os brasileiros assinam declarações falsas e acabam repassando todo o dinheiro para os golpistas já em solo europeu. As vítimas têm as contas correntes invadidas, dinheiro de seguro de vida perdido, e no caso de Anderson, o salário pago pelo exército Russo, sem a família saber, também teria sido roubado pelos criminosos.

"Conversei com outras vítimas que conseguiram escapar. Meu filho não foi o único que caiu no golpe do falso emprego. A diferença é que ele não voltou vivo pra casa. A única coisa que eu quero é recuperar o corpo do meu filho".

Diante das incertezas, a família recorreu ao consulado do Brasil na Rússia, que pediu documentos que comprovassem o parentesco. O iG teve acesso a um email encaminhado para a família, diretamente da embaixada do Brasil em Moscou, onde lamenta a difícil situação e promete obter informações da vítima. Em um dos trechos do comunicado, um trecho chama a atenção: "Por favor tenha em mente, contudo, que informações sobre assuntos militares não costumam ser prestadas rapidamente e a confirmação sobre o que possa ter ocorrido com o Anderson pode morar a acontecer", finaliza o email o setor consular que não se manifestou oficialmente sobre o caso.

"Meu coração não acredita mais que ele esteja vivo. São muitas provas que ele realmente morreu em confronto. Quero recuperar o corpo do meu filho. Um soldado que me ligou de lá, disse que os corpos ficam abandonados no local de combate, não retiram os corpos. Os mortos são abandonados", desabafa a mãe do jovem. A família busca recuperar o corpo e pede justiça, pra que ninguém mais passe por isso. "A embaixada russa no Brasil já sabe de tudo, e ninguém me responde com uma resposta concreta".

O caso de Anderson não é isolado. Desde o início da guerra, há relatos de estrangeiros sendo recrutados sob falsas promessas de trabalho, sem que compreendam os riscos envolvidos. Especialistas ouvidos pela reportagem, alertam para a atuação de redes que se aproveitam da vulnerabilidade econômica de jovens em países como o Brasil para aliciá-los para zonas de conflito.

A última vez que familiares tiveram notícias de Anderson foi em 29 de junho. Na mensagem, o jovem dizia que estava bem e que talvez ficaria sem comunicação por 4 meses. Somente no início de agosto, um colega entrou em contato com a família para relatar a morte durante confronto. "Em nenhum momento, em vida, ele admitiu que caiu num golpe de falso emprego e acabou no exército da Rússia. Ele deixou com um amigo soldado toda a papelada, e se acaso acontecesse algo com ele, era pra entrar em contato comigo e explicar tudo o que aconteceu".