Juliana relata agressões anteriores e ataque brutal no elevador
04/08/2025, 09:34:13Juliana Soares conta suas experiências de violência
Sete meses antes de ser brutalmente agredida com 61 socos em 36 segundos em um elevador, no dia 26 de julho de 2025, em Natal (RN), Juliana Soares já havia sido empurrada ao chão pelo então namorado, o ex-jogador de basquete Igor Eduardo Pereira Cabral. Em entrevista ao Domingo Espetacular, neste domingo (03), a mulher relatou a ordem dos acontecimentos. Na ocasião, ela decidiu não registrar boletim de ocorrência por acreditar que o episódio havia sido um "impulso". Hoje, aos 35 anos, após sobreviver a uma tentativa de feminicídio, diz: "Eu sobrevivi a tudo isso para dar voz às mulheres que não tiveram a mesma chance".
Comportamentos violentos no relacionamento
Juliana revelou que Igor, de 29 anos, já apresentava comportamentos violentos e possessivos desde o início da relação. "Ele era muito controlador, mas ele mesmo sempre justificava isso como uma forma de amor", contou. Ela também relatou que Eduardo tinha histórico de agressões a outras pessoas e que, ao longo do relacionamento, chegou a quebrar dois celulares dela por ciúmes.
A brutal agressão no elevador
Na tarde do sábado em que ocorreu a agressão, o casal havia recebido amigos na área comum do condomínio onde moravam, no bairro de Ponta Negra. Após uma discussão motivada por ciúmes, Igor tomou o celular de Juliana e arremessou o aparelho na piscina. "Eu peguei a minhas coisas, minha bolsa, e fui lá para o bloco, me sentei no banquinho e fiquei lá tomando um a r", relatou. Pouco depois, ele subiu até o apartamento dela, no 16º andar, enquanto Juliana acessava o prédio pelo elevador de serviço. Ao se encontrarem, Igor tentou impedir que ela entrasse em casa. Ela se recusou a sair do elevador por saber que fora dali não haveria câmeras. Foi então que ele ameaçou: "Então você vai morrer".
Sessenta e um socos em 36 segundos
O ataque foi registrado pelas câmeras de segurança. No canto do elevador, Juliana tentou se proteger como pôde. "Eu projetei o meu braço na frente do meu rosto para tentar me defender. Eu lembro que naquele momento o meu propósito era me manter viva, me manter consciente, na medida do possível, porque se eu me entrega-se, eu tenho certeza que eu não estarei aqui para contar essa história", disse. Ela se lembra de ter implorado para ele parar. "Ele não dizia nada, ele só me batia. Eu não tenho dúvida, acho que ele queria me matar", relata Juliana. Quando o elevador chegou ao térreo, a violência cessou. Igor ajeitou os chinelos e deixou o local com frieza. Uma moradora chamou a polícia após ver as imagens no monitor da portaria. "Demorou cerca de 10 minutos até os policiais chegarem", contou o porteiro ao Domingo Espetacular. Igor foi preso em flagrante por tentativa de feminicídio. Juliana sofreu fraturas em quatro ossos do rosto e passou por cirurgia de reconstrução facial. Além da estética, há sequelas funcionais. "Não consigo mastigar", relatou. Ainda se recuperando, ela evita mostrar o rosto, mas fez questão de documentar os hematomas. "Quero que minha história represente as mulheres que não puderam contar a delas".
Alegações contraditórias do agressor
À polícia, Igor alegou ter sofrido "ataque claustrofóbico". Em dois anos de relacionamento, ela diz nunca ter ouvido qualquer menção dele sobre claustrofobia. Posteriormente, em audiência de custódia, ele afirmou ter ingerido bebida alcoólica e usado cocaína antes da agressão, além de utilizar anabolizantes regularmente. Já preso, Igor relatou ter sido agredido e ameaçado dentro da unidade prisional. Exames de corpo de delito apontaram lesões leves. A Secretaria da Administração Penitenciária (SEAP) informou ao Portal iG que adotou providências imediatas ao tomar conhecimento do caso.