Bolsonaro descumpriu medidas ao participar de manifestações

Bolsonaro descumpriu medidas ao participar de manifestações

Decisões de Moraes e as Implicações para Bolsonaro


Na decisão que impôs uma série de medidas cautelares contra Jair Bolsonaro, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica, o ministro Alexandre de Moraes, no STF, escreveu: "não será admitida a utilização de subterfúgios para a manutenção da prática de atividades criminosas, com a instrumentalização de entrevistas ou discursos públicos como 'material pré fabricado' para posterior postagens nas redes sociais de terceiros previamente coordenados".

Copio a ordem na íntegra como um exercício de interpretação de texto.

Subterfúgio para a manutenção de atividades criminosas pode ser muita coisa. Pode ser o Uber que levou o bandido para a frente do banco que será assaltado.

Instrumentalização de entrevistas também não é um conceito estrito. Bolsonaro instrumentaliza as dele desde que era atração do programa da Luciana Gimenez.

Moraes, ao que parece, queria evitar o uso das redes sociais como ferramenta de ataques contra instituições democráticas. Isso em um momento em que o STF é alvo até do presidente dos Estados Unidos.

Na dúvida, Bolsonaro e seus advogados acharam melhor que ele evitasse dar entrevistas para não parecer instrumentalização nem material pré-fabricado para posterior postagens de terceiros – o veículo seria um deles?

A ordem era tão confusa que Moraes precisou reformular. Disse que não proibiu o ex-presidente de conceder entrevistas. Apenas de usar redes sociais, “de forma direta ou por meio de terceiros”. Como o conceito de “terceiros” ainda é um tanto elástico, Bolsonaro achou melhor não participar presencialmente da manifestação em defesa dele na avenida Paulista – nem em nenhum local em que apoiadores se reuniram para protestar contra as medidas restritivas neste domingo (3).

Isso apesar de o ministro ter sinalizado que discursos em eventos públicos e privados não foram vetados – desde que o ex-presidente respeitasse os horários estabelecidos nas medidas restritivas.

Bolsonaro tem dificuldade para pronunciar palavras como paralelepípedo. Esperar que compreendesse decisões paralelepípedas era forçar demais a barra.

Moraes poderia ser mais específico, mas nem Graciliano Ramos seria capaz de especificar, sem mais nem menos palavras, se o réu pode ou não atender videochamada de apoiadores usando chinelo e tornozeleira eletrônica. Principalmente se os apoiadores estivessem em um carro de som gritando "mito".

A medida de Moraes não determina que o réu não pode atender celular.

Ou que ele não poderia ser filmado enquanto atende um telefonema.

Uma hora dessas, ministros da Suprema Corte se debruçam sobre a cena como quem olha para uma pintura cubista tentando interpretar o que vai além do traço.

O meio, ali, também é a mensagem.

Bolsonaro virou notícia apenas dando oi para o público.

Quem estudou a construção da mitologia do herói poderia imaginar que ele está forçando uma prisão para acusar a corte onde é julgada de algoz persecutório.

Mas quem entende de bolsonarismo sabe também o quanto o ídolo da turma teme a prisão.

A prova de interpretação de texto – no caso, de imagem – está agora com Alexandre de Moraes.