Haddad admite base frágil do governo no Congresso
02/08/2025, 09:34:22O ministro discursou na abertura do encontro nacional do PT, em Brasília
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que o governo tem uma base frágil no Congresso Nacional. Durante discurso no 17º Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizado nesta sexta-feira (1º), em Brasília, o petista admitiu que a articulação para aprovação de projetos prioritários para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa ser "construída praticamente todos os dias", em um diálogo "complexo" e "difícil".
"Nós estamos em um governo com uma base frágil no Congresso Nacional. Uma base que é construída praticamente todos os dias, a cada projeto que precisa ser aprovado, a cada decreto que precisa ser editado. Tudo é uma construção complexa, uma construção difícil," lamentou Haddad.
A fala ocorre após meses de tensões entre o Executivo e Legislativo, principalmente em relação ao Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) e à necessidade de equilíbrio fiscal, que se tornou munição para um embate entre os Poderes. Haddad também fez referência a "novidades" diárias como o "tarifaço", ilustrando os obstáculos enfrentados.
Para o ministro, as tarifas de 50% sobre importações de produtos brasileiros impostas pelo governo dos Estados Unidos dificultam a atuação do governo e a relação com o Congresso, que tem uma ala de parlamentares da oposição que defende as medidas do presidente norte-americano Donald Trump.
Sobre isso, Haddad classificou como "ótima" a sinalização feita por Trump sobre a possibilidade de conversar com Lula a respeito das tarifas. "Tenho certeza de que a recíproca também é verdadeira. O presidente Lula estaria disposto a atender um telefonema dele a qualquer momento. Já disse anteriormente: é muito importante preparar esse diálogo," afirmou o ministro ao deixar o Ministério da Fazenda, na tarde desta sexta-feira (1º).
Haddad também relatou que manteve contato com a equipe do secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e informou que está em negociação para uma reunião mais aprofundada sobre a decisão tarifária, considerada "unilateral" por Brasília. O encontro, segundo ele, ainda não tem data marcada, mas deve ocorrer na próxima semana.
"Entendemos que as relações comerciais não devem ser afetadas por avaliações políticas. Estamos trabalhando para retomar o diálogo, restabelecer a mesa de negociação, e talvez realizar uma reunião presencial," explicou.
O ministro voltou a criticar o isolamento comercial ao qual o Brasil vem sendo submetido, segundo ele, por motivações políticas. "O país está fora da curva por razões que não são técnicas, mas políticas," pontuou.
Mais cedo, Trump afirmou que Lula pode entrar em contato com ele "quando quiser". Ao comentar a sobretaxa de 50%, Trump não entrou em detalhes, mas disse que "as pessoas que estão comandando o Brasil fizeram a coisa errada". Apesar da crítica, o presidente norte-americano disse "amar o povo do Brasil".
Em razão dessa conjuntura, Haddad afirmou que o segundo semestre de 2025 será "de muita luta, muitos desafios". "Nós estamos numa grande tarefa até o ano que vem. Nós temos um ano de muita luta, de muitos desafios. Mas, mais uma vez, nós seremos convocados — e não vamos nos furtar a entregar nosso suor, nossas lágrimas, nosso sangue por esse grande país, que há de ser uma enorme nação: uma potência econômica, uma potência democrática, uma potência soberana," ressaltou.
PT lança ofensiva contra tarifaço
Haddad conversou com filiados do PT. No evento da noite desta sexta-feira, o Partido dos Trabalhadores lançou uma campanha de comunicação contra o tarifaço de Trump. Entre os discursos de representantes da legenda, o partido reproduziu um vídeo com uma ofensiva contra as medidas de Trump. O conteúdo chama a população para uma ação de defesa do Brasil.
"Defenda o Brasil sempre que tentarem mudar as nossas instituições, chantagear nosso país, atacar a nossa soberania, defenda o Brasil! Respeitar não é baixar a cabeça, porque sempre, sempre defenderemos o Brasil," diz o vídeo.
O conteúdo ataca parlamentares e outros representantes da oposição ao presidente Lula. No vídeo, imagens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados, junto a Donald Trump, são reproduzidas acompanhadas de frases como "traidores da pátria" e "patriotas batem continência para outra bandeira".
"50% de impostos na importação brasileira. Silêncio covarde dos falsos patriotas. Usaram nossa bandeira como fantasia para esconder traição, mentira e destruição," ataca o vídeo. "Essa bandeira não é adereço, não é figurino de traidor. É símbolo de um país que trabalha. Nossa bandeira é para ser defendida," acrescenta.
O evento também foi marcado pelos discursos de representantes do partido e de integrantes de legendas aliadas a favor da prisão de Bolsonaro e contra o filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que está nos EUA e a quem é atribuída a responsabilidade pelo tarifaço de Trump.
Haddad defende governo Lula
Haddad discursou em evento do PT. Para Haddad, apesar das dificuldades impostas pelos cenários político e econômico, o governo Lula tem conseguido avançar na execução de seu programa e no cumprimento de promessas de campanha.
"Apesar de todos esses obstáculos que temos que enfrentar diariamente — e a cada dia é uma novidade, como essa última do 'tarifaço' —, nós estamos conseguindo executar o nosso plano de governo," afirmou.
Ele contou que, recentemente, ao reler o plano apresentado durante a campanha, percebeu o quanto o governo já avançou, mesmo diante das adversidades.
Segundo Haddad, a atual gestão tem se empenhado em reverter retrocessos e restituir direitos sociais que foram desconstituídos nos últimos anos.
"Nós começamos uma política de restituição dos direitos vilipendiados nos últimos sete anos que antecederam a posse do presidente Lula e que foram desconstitutionalizando bandeiras históricas desse partido desde a sua fundação."
O ministro também fez questão de rebater previsões pessimistas em relação à economia. "Todo mundo dizia que o país não tinha condição de crescer mais de 1,5% ao ano. Nós, em dois anos, crescemos 7%. Estamos crescendo o dobro da expectativa do mercado," destacou. Ele citou ainda a queda no desemprego, que atingiu 5,8%, o menor índice da série histórica, como sinal da recuperação econômica.
Haddad afirmou que o governo esperava sair do Mapa da Fome apenas no último ano de mandato, mas que esse resultado já foi alcançado. Para ele, é necessário furar o "ruído" das fake news e da polarização para fazer com que a população tenha acesso aos dados reais do país.
"Estamos sob a batuta de um grande líder político que está dando o tom em todas as áreas. E esse rumo foi estabelecido com clareza, transparência e profundidade nas eleições de 2022," disse, referindo-se ao presidente Lula.
Ao final da fala, defendeu a mobilização da militância para comunicar os resultados da gestão petista. "Nós temos que fazer com que nossas políticas cheguem a todos os rincões desse país, para que a verdade dos números da economia, da educação, do desenvolvimento social e da saúde cheguem a cada canto. Porque aí, sim, nós vamos estar reconstruindo o Brasil e unindo o país," concluiu.