Crianças simulam prostituição no Roblox e acendem alerta
02/08/2025, 09:36:51Uma prática alarmante no Roblox
Uma prática alarmante vem ganhando força em servidores privados do jogo Roblox: crianças simulando situações de prostituição dentro do universo virtual. Embora o termo brincadeira esteja sendo usado para definir o comportamento, especialistas alertam que o fenômeno ultrapassa os limites do lúdico e representa um sério risco ao desenvolvimento emocional, social e cognitivo de meninos e meninas em fase de formação.
Alerta de especialistas
O alerta foi reforçado pela psiquiatra da infância e adolescência Jaqueline Bifano, em entrevista ao Portal iG. “Crianças simulam comportamentos adultos como parte do desenvolvimento, mas quando envolve temas sexualizados, como prostituição, o sinal de alerta é claro. Esse tipo de conduta pode estar relacionado à exposição precoce a conteúdos impróprios, experiências traumáticas ou até busca por aceitação”, explica a médica.
O que é o Roblox?
Roblox é uma plataforma de jogos online gratuita e extremamente popular entre crianças e adolescentes. Lançada em 2006, ela permite que os próprios usuários criem e explorem mundos virtuais com avatares personalizados. Com mais de 70 milhões de jogadores ativos por dia, segundo dados do próprio site, o Roblox inclui experiências variadas, de corridas e simulações de vida até combates e RPGs.
Riscos nos servidores privados
Um dos maiores riscos está nos “servidores privados”, onde jogadores criam espaços sem monitoramento direto da empresa. É nesses ambientes que surgem “clubes” ou “quartos” em que crianças interagem simulando relações sexuais, inclusive com troca de moedas virtuais por atos, uma distorção grave do sistema de recompensas do jogo.
Efeitos devastadores
A médica destaca que os impactos desse tipo de comportamento vão muito além do momento do jogo. “Mesmo sem entender totalmente o significado, a criança pode desenvolver distorções na sexualidade, ansiedade, culpa, baixa autoestima e, em casos mais graves, sintomas depressivos e autodestrutivos”, diz Jaqueline. Ela acrescenta que sinais como isolamento, queda no desempenho escolar, desenhos com conotação sexual e comportamentos inadequados para a idade devem ser observados com atenção. Em alguns casos, a simulação de prostituição pode ser indicativo de exposição à pornografia ou até abuso sexual real.
Não é só dopamina
O apelo viciante dos jogos também está no radar da psiquiatria. O sistema de recompensas ativado pela dopamina (neurotransmissor relacionado ao prazer) pode reforçar comportamentos de risco. “Mesmo quando inadequados, esses comportamentos podem ser repetidos porque geram sensação prazerosa. Isso afeta diretamente a capacidade de autocontrole e julgamento da criança”, alerta a psiquiatra.
Falhas na moderação e supervisão
Segundo a SaferNet Brasil, o crescimento desse tipo de prática é reflexo direto de duas falhas: a baixa moderação das plataformas e a falta de supervisão adulta. Em matéria publicada pela ONG, especialistas apontam que o conteúdo sexualizado circula livremente nos servidores fechados, driblando os filtros da plataforma. A SaferNet também destaca que muitos pais não conhecem a fundo os jogos utilizados pelos filhos. A ONG recomenda diálogo constante, uso de controle parental e participação ativa no universo digital das crianças, além de denunciar conteúdos suspeitos à Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos.
Educação emocional e sexual
A psiquiatra defende que a solução passa por uma abordagem ampla, que envolve pais, escolas e profissionais de saúde. “A educação emocional e sexual adaptada à idade ajuda a criança a entender sobre privacidade, respeito ao corpo, consentimento e limites”, afirma. Ela ainda recomenda avaliação clínica sempre que houver comportamentos sexualizados persistentes ou acompanhados de sinais de sofrimento emocional.
Quando o brincar deixa de ser inocente
“Nem toda brincadeira é inofensiva”, conclui Jaqueline. “Quando há simulação de prostituição entre crianças, o lúdico se transforma em um reflexo de violências e distorções sociais que precisam ser enfrentadas com responsabilidade.”