Dória busca equilíbrio entre Alckmin e Tarcísio em crise
01/08/2025, 17:34:11Dória tenta equilibrar relações políticas em meio a tarifaço de Trump
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Desde o início da crise do tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, o ex-governador de São Paulo João Doria tem se movimentado para atuar nos esforços empresariais sobre o caso. Em sua estratégia, ele pede o fim das tensões políticas e, ao mesmo tempo, defende o papel tanto do vice-presidente - e também ex-governador - Geraldo Alckmin (PSB) quanto do atual governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para contornar o problema das tarifas.
Nas últimas semanas, por meio de seu grupo de empresários Lide, Doria organizou uma reunião de emergência com representantes de setores afetados. Nos próximos dias, ele promoverá uma missão empresarial à Índia, onde o assunto Trump deve dominar a pauta, especialmente porque o país também está na mira das tarifas norte-americanas, em razão do relacionamento com a Rússia.
"O tarifaço é injusto com o Brasil. Não se ampara em nenhum critério, exceto uma decisão pessoal do presidente dos Estados Unidos", afirma Doria.
Após a divulgação do decreto na quarta-feira (30), que oficializou os 50% sobre os produtos importados do Brasil aos EUA, Dória criticou a medida de Trump e pediu que o governo brasileiro mantenha o caminho das negociações, evitando reações de retaliação aos EUA ou às empresas americanas instaladas no país.
O apelo contra as retaliações, segundo Doria, foi uma das conclusões da reunião organizada pelo Lide com lideranças de setores afetados. Os participantes do encontro também concordaram em apoiar os esforços de Alckmin como negociador do Brasil na guerra comercial.
Esse apoio ao vice-presidente no atual xadrez das tarifas ocorre pouco mais de um ano após Doria e Alckmin se reaproximarem, superando o longo período de distanciamento entre os ex-tucanos, que teve início em 2017, quando Doria, então prefeito de São Paulo, tentou se cacifar para as eleições presidenciais em que Alckmin seria o candidato.
Outro ponto importante abordado na reunião empresarial sobre o tarifaço foi o entendimento de que não deveria haver críticas a Tarcísio de Freitas pelas suas movimentações após o dia 9 de julho, quando Trump publicou a carta endereçada a Lula, anunciando a elevação das tarifas.
Cotado como candidato para as eleições presidenciais de 2026, Tarcísio tentou se colocar como um possível negociador para lidar com Trump. O governador fez abordagens com ministros do STF e com o chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, mas acabou criticado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Para Doria, os gestos de Tarcísio são sinais da preocupação com a situação econômica do seu estado e uma tentativa de cooperação.
"Havia um posicionamento de dúvida se ele havia agido de forma coerente, adequada. Na opinião desse grupo, sim, [ele agiu bem]. Até porque o governador de São Paulo, Tarcísio, não se contrapôs nem fez críticas ao vice-presidente Alckmin. Ele complementou essas ações. O fato é que houve o conjunto dessas medidas, além das que foram feitas setorialmente pelo governo federal, especialmente através do vice-presidente. Eu não quero aqui excluir os senadores que foram a Washington", afirma Doria.
Questionado se agiria diferente de Tarcísio, Doria diz que não.
"Teria feito da mesma maneira, em defesa do interesse econômico e institucional do estado. São Paulo representa mais de um terço da economia brasileira. Os governadores têm a obrigação de defender o interesse dos seus estados, principalmente quando são frontalmente prejudicados por medidas injustas que podem gerar prejuízos à economia, reduzindo a arrecadação e diminuindo a oferta de empregos. Ele agiu corretamente. E com o cuidado que teve de não posicionar nada que pudesse descaracterizar ou desprestigiar as ações empreendidas paralelamente pelo vice-presidente", afirma.
No dia 15 de julho, o governo Lula marcou uma reunião com Alckmin em Brasília para debater o problema com empresários. Tarcísio também promoveu um encontro no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, com o setor privado, ocasião em que anunciou que buscaria uma relação paradiplomática com os Estados Unidos.
"Fora essa coincidência de datas, o governador agiu bem. Aliás, as medidas que ele acaba de anunciar em apoio aos setores afetados pelo tarifaço demonstram uma visão correta de preocupação e de gestão", diz Doria.
Nesta quinta (31), o governo de São Paulo anunciou a liberação de R$ 1,5 bilhão em créditos acumulados de ICMS para exportadores de produtos impactados pelas tarifas.
Para a nova etapa que se inicia após a promulgação do decreto de Trump, Doria afirma que existe no setor empresarial uma preocupação com a contaminação política do tema.
"Se houver qualquer movimento retaliatório do Brasil, amparado ou não por questões políticas, partidárias e eleitorais, ou algo que não seja puramente técnico, isso pode gerar novas medidas do governo americano contra a economia brasileira e até contra cidadãos brasileiros. Acabamos de ver uma medida injusta e incorreta de retaliação ao ministro do STF Alexandre Moraes. Não é recomendável que reações abruptas de retaliação impregnem este ambiente. É melhor que a postura do vice-presidente seja preservada e mantida, e não prejudicada ou esvaziada. O momento é de entendimento", conclui Doria.