As 13 Almas do Joelma e a Devoção Popular
01/08/2025, 11:36:22A Lenda das 13 Almas
Vozeis no cemitério e aparições no prédio reerguido mantêm vivo o mistério em torno das vítimas não identificadas do incêndio, ocorrido há 51 anos. Cinquenta anos após o incêndio que chocou o Brasil, a tragédia do Edifício Joelma reverbera até hoje na memória coletiva dos paulistanos. Mais do que um marco de dor, o episódio deu origem a uma das lendas urbanas mais conhecidas do país: a das 13 almas do Joelma, que seriam vítimas não identificadas do fogo que, segundo relatos, se manifestam até hoje por meio de fenômenos sobrenaturais.
O caso remonta a 1º de fevereiro de 1974, quando um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado no 12º andar provocou um incêndio de grandes proporções no Joelma, o prédio localizado no centro de São Paulo. Em menos de 20 minutos, as chamas atingiram 18 dos 25 andares do prédio, deixando mais de 180 mortos e centenas de feridos.
Entre as vítimas, 13 corpos carbonizados foram encontrados dentro de um dos elevadores. Sem possibilidade de identificação, foram enterrados lado a lado, em um jazigo coletivo no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, zona leste da capital. Com o tempo, esse túmulo se tornou o centro de uma devoção popular marcada por relatos de aparições, rituais com água e supostos milagres.
As Manifestações Sobrenaturais
O pesquisador de manifestações sobrenaturais Thiago de Souza, criador do canal "O Que Te Assombra", explica que o mito em torno das 13 almas do Joelma surgiu a partir de um relato feito por um funcionário do cemitério poucos dias após o sepultamento coletivo. Segundo ele, o vigia noturno relatou ter ouvido, durante a madrugada, vozes e gritos desesperados vindos da área onde os corpos foram enterrados.
“O silêncio quase ensurdecedor foi rompido. Vozes desesperadas se confundiam em um agonizante coro. Mas mesmo diante da unidade sonora, era possível identificar cada uma das vozes. Eram 13 vozes”, afirmou Thiago.
Ainda de acordo com o pesquisador, o funcionário, tomado pelo desespero, decidiu jogar um balde de água sobre as lápides. O gesto teria silenciado as manifestações sonoras de forma imediata. “Uma a uma, as vozes silenciavam como em um abençoado batismo feito pelo rescaldo”, completou.
Devoção Popular e Ritual
Com a repercussão, o jazigo coletivo das vítimas passou a ser visitado com frequência. Fiéis começaram a deixar copos e garrafas de água sobre as lápides, em um gesto simbólico de alívio à sede de quem morreu entre chamas. Essa prática foi incorporada à cultura popular como forma de devoção. “Por terem saboreado o martírio das chamas do inferno, as 13 almas do Joelma foram santificadas pelo povo. Sacralizadas pela dor, ganharam culto e capela”, disse.
Atualmente, o espaço onde estão enterradas as vítimas abriga placas de agradecimento, oferendas, fotos e pedidos de oração. Às segundas-feiras, consideradas o “dia das almas”, o local costuma receber grande número de fiéis.
O Edifício Joelma e Seus Mistérios
O Edifício Joelma foi reformado e reaberto anos depois com outro nome: Edifício Praça da Bandeira. Embora o prédio hoje abrigue salas comerciais e funcione normalmente, ainda circulam relatos de aparições e fenômenos estranhos entre frequentadores e funcionários. Há quem relate vozes nos corredores, luzes que se acendem sozinhas, ruídos inexplicáveis e sensações de mal-estar em determinados andares.
“É como se aquele local tivesse sido marcado por um sofrimento que ainda ecoa. E as manifestações, para quem estuda esses fenômenos, não surpreendem”, comentou Thiago.
A história das 13 almas do Joelma também ganhou espaço na cultura popular. O caso da jovem Volquimar Carvalho dos Santos, uma das vítimas do incêndio, é um dos mais conhecidos. Segundo registros, sua mãe recebeu cartas psicografadas por Chico Xavier, que serviram de base para o livro "Somos Seis", publicado em 1977. A obra foi adaptada para o cinema no ano seguinte, protagonizado por Beth Goulart.
Conclusão
A lenda das 13 almas do Joelma evidencia como o sofrimento coletivo pode se transformar em objeto de culto. Com o tempo, o mistério permanece. O prédio segue ativo, o cemitério continua recebendo fiéis, e o número 13, envolto em superstição, segue sendo invocado por quem acredita que nem mesmo a morte é capaz de calar certas histórias.