Documento sobre prisão de ministros do STF é revelado
28/07/2025, 20:38:51Hélio Ferreira Lima relatou a origem do documento
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal), revelou que o documento que previa a prisão de ministros da corte foi desenvolvido pela inteligência da 6ª Divisão do Exército, com sede em Porto Alegre (RS).
O oficial explicou que sua função era traçar cenários caso houvesse uma suposta fraude nas eleições presidenciais de 2022. "Se amanhã sair um relatório ou um pronunciamento falando 'atenção, teve fraude sim', eu não posso deixar meu comandante ser surpreendido. Eu tenho que ter alguma coisa para que a gente comece a discutir com o Estado-Maior", afirmou Ferreira Lima.
O documento, chamado "Desenho Op Luneta", foi encontrado em pen drives que foram apreendidos com o militar durante investigações no ano anterior. Seu objetivo era "restabelecer a lei e a ordem por meio da retomada da legalidade e da segurança jurídica e da estabilidade institucional".
Uma das metas mencionadas no documento era "neutralizar a capacidade de atuação do Min AM", referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes. Ele ainda mencionava a realização de prisões preventivas de juízes supremos, considerados ameaças à estabilidade.
Ferreira Lima argumenta que o documento não foi corretamente interpretado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), esclarecendo que sua responsabilidade na estrutura de inteligência do Exército era pensar em soluções e até mesmo avaliar cenários em situações adversas. "Se não considerar a premissa básica [de identificação de fraude], não tem como a pessoa entender que estou falando em mandado de prisão, mandados coercitivos", disse.
Ele também ressaltou que não enviou o documento aos seus superiores, tendo abandonado o assunto após receber novas instruções do chefe da inteligência do Exército no Rio Grande do Sul.
De acordo com a denúncia da PGR, o documento demonstrava um planejamento prévio das diversas ações da organização, sugerindo uma articulação em múltiplas frentes, que incluíam desde ataques ao processo eleitoral até a execução de um golpe de Estado.
Ferreira Lima rejeita essa versão. Ele defendeu que o documento se tratava apenas de um estudo de cenário, conforme previsto em manuais do Exército, e que seu intuito era agir de modo institucional, sem subterfúgios, mesmo diante da insatisfação militar com a vitória de Lula.
"É um cenário totalmente hipotético. Ele não fala em eliminar ninguém, ele é amparado por normas legais", destacou. Ele ainda classificou o documento como uma proposta que precisaria da aprovação de um general para ser convertida em diretriz de planejamento.
"Eu não estava fazendo nada oculto. Surgiu de uma conversa com meu comandante, eu falei que iria fazer esse cenário. Quando fui apresentar para ele, a prioridade já era outra. Ele mandou eu abandonar isso", concluiu.
Hélio Ferreira Lima, que possui formação em Forças Especiais, faz parte do grupo de chamados "kids pretos", alvos da investigação da PGR sobre um alegado plano golpista. Ele tornou-se uma das figuras de destaque nas investigações da Polícia Federal, especialmente após a descoberta de mensagens que conferiam um tom golpista nas interações entre ele e Mauro Cid. Ferreira Lima esteve presente em encontros com o ex-ministro Walter Braga Netto em novembro de 2022. Contudo, ele negou que as conversas tivessem conteúdo golpista.
Atualmente, o tenente-coronel é réu no núcleo militar desse suposto plano golpista. Nesta segunda-feira, outros nove acusados também prestaram depoimentos ao STF, sendo eles Bernardo Romão Correa Neto (coronel), Estevam Theophilo (general da reserva), Fabrício Moreira de Bastos (coronel), Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel), Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel), Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel), Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel), Sérgio Ricardo Cavaliere (tenente-coronel) e Wladimir Matos Soares (policial federal).