Cemitério de baleias revela impactos do derretimento glaciar

Cemitério de baleias revela impactos do derretimento glaciar

Expedição detecta recuo acelerado de gelo e encontra restos fósseis em ilha do Ártico russo


Uma expedição científica do Instituto de Pesquisa do Ártico e Antártico da Rússia (AARI) revelou, neste ano, um verdadeiro cemitério de ossos de baleia na Ilha Wilczek, localizada no extremo norte do país. Isso ocorreu após o rápido recuo de uma geleira no arquipélago Terra de Francisco José. O derretimento da calota expôs uma vasta área, onde diversos esqueletos bem preservados foram localizados. Segundo o geólogo Nikita Demidov, integrante da equipe, imagens de satélite mostraram que a geleira se dividiu em duas partes ao longo de menos de 20 anos, refletindo as mudanças drásticas na região. "A preservação é melhor nas áreas próximas ao gelo, onde os restos foram menos afetados pelo degelo prolongado", explicou o geólogo.


Demidov destacou que essa descoberta indica uma mudança bastante rápida no nível do mar ocorrida há poucos milhares de anos, na parte mais setentrional da Eurásia. Essa constatação reforça os alertas sobre os impactos das alterações climáticas no degelo ártico.


Além dos fósseis, os pesquisadores estão estudando o permafrost, que é o solo permanentemente congelado, e como ele responde às altas temperaturas. A equipe também investigou formações de gelo sazonal e camadas de gelo em repetição na região de alta latitude, com ênfase no cabo Zhelaniya, que é um ponto-chave da Rota Marítima do Norte. A missão científica faz parte do projeto “Universidade Flutuante do Ártico – 2025”, realizada a bordo do navio reforçado para gelo Professor Molchanov, com o apoio do Ministério da Ciência e Ensino Superior da Federação Russa, do banco VTB, da Sociedade Geográfica Russa e da mineradora Norilsk Nickel.


O Instituto de Pesquisa do Ártico e Antártico, responsável pela missão, é um dos principais centros globais dedicados ao estudo das regiões polares. Com mais de um século de história, o instituto já organizou cerca de 1.200 expedições no Ártico e na Antártida, sendo dirigido, desde 2017, pelo professor Alexander Makarov, doutor em geografia.


Estudos recentes indicam que o derretimento global das geleiras acelerou cerca de 36% entre os períodos de 2000–2011 e 2012–2023. Um artigo publicado na revista Nature em março de 2025 revela que as geleiras têm perdido, em média, 273 gigatoneladas de massa por ano desde o início do século. O recuo do gelo contribui diretamente para o aumento do nível do mar e pode gerar riscos geológicos, além de impactar ecossistemas terrestres e marinhos. O estudo destaca que todas as 19 regiões glaciais monitoradas registraram perda de massa entre 2000 e 2023, sendo que a região do Ártico russo, onde ocorreu a descoberta, perdeu aproximadamente 16,1 gigatoneladas por ano, o que equivale a cerca de R$ 443 bilhões anuais em água doce potencialmente perdida.