Donald Trump: um canal fechado entre os portos do Brasil e dos EUA
22/07/2025, 17:54:40Artigo tem epicentro em pesquisas de matérias e análises de jornalistas das redes de televisão sob nosso entendimento e lavra.
A vitória de Donald Trump em 2024 reacende um velho fantasma nas relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos: o fechamento simbólico – e muitas vezes prático – de um canal de diálogo aberto e produtivo entre as duas nações. O ex-presidente norte-americano, agora reeleito, retorna ao poder com o mesmo discurso nacionalista, protecionista e de enfrentamento que marcou seu primeiro mandato. E o Brasil, mais uma vez, se vê diante de um aliado instável, que trata parceiros comerciais como adversários momentâneos.
Trump sempre enxergou o comércio exterior como uma arena de competição e não de cooperação. Durante seu primeiro governo (2017-2021), impôs tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiros, ameaçou boicotes e nunca escondeu seu desprezo por acordos multilaterais como o Mercosul ou o Acordo de Paris. Com sua reeleição, a sinalização é clara: ele voltará a tratar a balança comercial como um jogo de soma zero, no qual a vitória de um país significa a perda do outro.
O Brasil, cujas exportações para os EUA giram em torno de commodities como petróleo, soja, aço, celulose e carne, deve se preparar para um cenário de incerteza e tensão. Trump já declarou, em campanha, que "países que desvalorizam suas moedas e inundam os EUA com produtos baratos terão de pagar o preço". Essa frase, genérica, aponta para o risco de retaliações comerciais contra economias emergentes como a brasileira.
O canal fechado
A metáfora do canal fechado entre os portos é mais que poética – é realista. O diálogo institucional entre os dois países, que poderia promover acordos bilaterais de cooperação, inovação tecnológica, segurança alimentar e transição energética, deve minguar. Trump não é um líder que acredita em diplomacia a longo prazo. Ele prefere o tweet ao telegrama diplomático, a ameaça à negociação, o grito à escuta.
Nesse contexto, o Itamaraty terá o desafio de proteger os interesses brasileiros sem cair no erro de tentar agradar Trump a qualquer custo. O Brasil precisa reafirmar sua soberania comercial, diversificar mercados e aprofundar relações com outros blocos econômicos. Com um Trump imprevisível à frente dos EUA, a dependência do mercado norte-americano torna-se um risco, e não uma vantagem.
As consequências para o agronegócio e a indústria
Para o agronegócio brasileiro, que nos últimos anos viu nos EUA tanto um concorrente quanto um parceiro, o novo mandato de Trump pode representar turbulência. Qualquer barreira tarifária ou sanitária pode afetar fortemente a competitividade dos produtos brasileiros. O mesmo vale para a indústria do aço e do alumínio, que já sofreu com tarifas impostas no passado sob a alegação de “segurança nacional”.
Além disso, Trump é um negacionista climático confesso. Ele já retirou os EUA do Acordo de Paris uma vez, e pode fazê-lo novamente. Isso afeta diretamente os compromissos ambientais que o Brasil vem tentando consolidar, inclusive no âmbito de financiamentos internacionais para preservação da Amazônia. Um canal fechado no campo comercial é também um canal entupido no campo ambiental.
Brasil: entre o pragmatismo e a resistência
Cabe ao Brasil reagir com pragmatismo. Reavaliar sua política externa, fortalecer laços com Europa, China e países do Sul Global, e evitar cair na armadilha de tentar seduzir Trump com subserviência. O governo brasileiro, seja quem for que esteja no Planalto, precisa entender que negociar com Trump é lidar com um parceiro imprevisível, que usa o comércio como arma de barganha eleitoral.
Não se trata de romper com os EUA – longe disso. Trata-se de reconhecer que, com Trump no poder, a via de mão dupla entre os portos de Santos e Miami, de Suape e Houston, está temporariamente bloqueada por obras de um nacionalismo tóxico. Um canal fechado que precisa ser reaberto com firmeza, diplomacia e, sobretudo, autonomia.