Ex-engenheiro da NASA compartilha dicas para futuros cientistas
10/07/2025, 14:39:54Mike Lester e a Transferência de Tecnologia da NASA
No episódio mais recente do podcast iG Foi Pro Espaço, Mike Lester, ex-engenheiro da NASA com mais de 12 anos de experiência na divisão de transferência de tecnologia, compartilhou sua trajetória e a importância da educação espacial.
Lester, que atuou no Centro Espacial Kennedy, foi responsável por adaptar inovações espaciais para aplicações terrestres, proporcionando bilhões de dólares em benefícios econômicos e ajudando na criação de empregos para a economia americana.
A Transferência de Tecnologia na NASA
Mike explicou que a transferência de tecnologia da NASA é um programa pouco conhecido, mas de grande importância. Ele ressaltou que a agência desenvolve inovações para o espaço que, muitas vezes, encontram aplicações valiosas na Terra. Essas tecnologias podem resolver problemas que as tecnologias atuais não conseguem ou não são tão eficazes. O ex-engenheiro da NASA mencionou que a agência espacial tem oferecido essas inovações a empresas comerciais e pesquisadores universitários desde sua fundação na década de 1950, tornando-se uma "mina de ouro" para empreendedores que buscam tecnologias novas.
Inovações Espaciais Aplicadas na Terra
Como exemplo de uma tecnologia espacial adaptada para uso terrestre, Mike Lester citou o sensor C-MOSS, presente em câmeras digitais e smartphones. Ele explicou que a NASA foi pioneira no desenvolvimento desses pequenos sensores capazes de captar imagens de alta resolução. "Nós realmente fomos pioneiros na redução do sensor para nossa pesquisa espacial e ainda assim tirando fotos de alta resolução muito boas", detalhou. Lester acredita que a popularidade dos smartphones foi impulsionada pela capacidade de tirar fotos com esses sensores, que têm suas raízes tecnológicas no programa espacial. "Até a NASA pode levar crédito pela explosão das mídias sociais, TikTok. Não sei se isso é uma coisa boa. Isso pode não ser uma coisa boa", brincou ele.
O Processo de Licenciamento das Patentes
Mike explicou que as patentes da NASA são publicadas pelo governo dos Estados Unidos em um site público, mas a agência também utiliza outros meios para se comunicar com o setor privado. Para ter acesso legal a essas tecnologias, as empresas precisam de um acordo de licença. "Você tem que ter minha aprovação e meu acordo e geralmente você tem que me pagar dinheiro para eu obter meu acordo", afirmou Lester, referindo-se ao processo de licenciamento.
Desafios e Oportunidades na Transferência de Tecnologia
Um dos maiores desafios na transferência de tecnologia, segundo Lester, é a falta de conhecimento do público e das empresas sobre a existência dessas patentes. Ele se dedicou a viajar pela Flórida para informar a comunidade empresarial sobre o programa. Outro obstáculo é o estágio inicial de desenvolvimento das tecnologias espaciais. "Nós fazemos desenvolvimento em estágio muito inicial. Fazemos pesquisa em estágio inicial", explicou. Isso significa que as empresas precisam investir tempo e recursos significativos para transformar essas tecnologias em produtos comerciais.
A Educação como Ferramenta de Transformação
Para superar isso, a NASA desenvolveu uma "licença de avaliação" simplificada e gratuita para universidades, permitindo que pesquisadores desenvolvam as tecnologias em estágios iniciais. Essa iniciativa, criada por Lester e sua equipe no Centro Espaço Kennedy, foi adotada por outros escritórios de transferência de tecnologia da NASA.
Habilidades Necessárias para o Futuro
Para quem deseja trabalhar com transferência de tecnologia na NASA, Mike Lester sugere algumas habilidades. Um diploma em direito de patentes e licenciamento é altamente competitivo devido à natureza legalista do campo. Ele enfatizou que a transferência de tecnologia é uma "trifeta" que combina direito de patentes, pesquisa e empreendedorismo, ou seja, a capacidade de transformar uma tecnologia em um produto vendável.
A Criação da KSCIA International Space Academy
Anos após se aposentar da NASA, Mike Lester co-fundou a KSCIA International Space Academy com Jefferson Michaelis, diretor da Câmara de Comércio Brasil-Flórida na época. A paixão pela educação os motivou a criar uma escola focada em levar a educação espacial para estudantes em todo o mundo, especialmente no Brasil. A ideia surgiu após uma viagem de Lester ao Brasil, onde ele e Michaelis visitaram escolas públicas e tentaram motivar os jovens a estudar STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
A Importância do STEM para o Futuro
O objetivo era trazer crianças para a Space Coast, na Flórida, para uma semana de aprendizado intensivo e visitas a instalações espaciais, como o Complexo de Visitantes do Centro Espacial Kennedy, e interagir com profissionais da área. Lester ressaltou a importância do STEM para o futuro do mundo, descrevendo a era atual como a "quarta revolução industrial", impulsionada pela tecnologia, e não mais pela manufatura. "Quem são as pessoas? Quais são as habilidades que estão impulsionando essa revolução? Cientistas, engenheiros, matemáticos, desenvolvedores de tecnologia", afirmou.
O Novo Espaço e Oportunidades de Crescimento
Sobre o "novo espaço", Mike Lester explicou que se refere ao espaço comercial, onde empresas privadas estão cada vez mais envolvidas na exploração espacial. "A exploração espacial nunca foi tão emocionante e tão aberta e disponível para qualquer pessoa no mundo que esteja disposta a desenvolver essas habilidades STEM", disse ele. Ele mencionou empresas como Blue Origin e SpaceX, que estão construindo seus próprios veículos de lançamento e colocando coisas no espaço, algo que antes era restrito a governos. Lester concluiu que o espaço comercial é uma indústria multibilionária em crescimento, oferecendo inúmeras oportunidades para aqueles com as habilidades certas.
Divulgação Científica e Acessibilidade
A entrevista com Mike Lester fez parte do quadro "iG Foi Pro Espaço", dedicado a traduzir temas complexos do universo e do setor aeroespacial de forma acessível e com bom humor. O programa vai ao ar toda quarta-feira, às 18h, no YouTube do Portal iG.