Alagoas lidera em alfabetização de detentos em 2024

Alagoas lidera em alfabetização de detentos em 2024

Alagoas se destaca na alfabetização de detentos

Em 2024, Alagoas se destacou ao alfabetizar 18,93% das pessoas privadas de liberdade, conforme dados do Sistema Nacional de Informações Penais (Sisdepen), divulgados pela Secretaria de Estado de Ressocialização e Inclusão Social (Seris).

Com um total de 5,2 mil pessoas em unidades prisionais, 992 indivíduos foram alfabetizados. Esses resultados são ainda mais significativos ao considerarmos que, há dois anos, Alagoas possuía a maior taxa de analfabetismo entre presos no Brasil.

Um detento do presídio Baldometo Cavalcanti, em Maceió, compartilhou sua experiência: "Eu não sabia nada, [tinha] a mente fechada mesmo. Quando entrei aqui [no presídio], pensei: 'O que eu posso fazer?'. Aí, eu busquei pessoas ensinando. Fui estudando e consegui escrever meu nome. Depois, comecei a ler outras palavras. Agora já estou sabendo alguma coisa. Minha mente, que estava fechada, foi se abrindo".

Projeto de alfabetização nas prisões

O projeto de alfabetização nas unidades prisionais de Alagoas foi implementado em outubro de 2023. As aulas são ministradas por outros detentos que já dominam a leitura e a escrita, sob a supervisão de pedagogos.

Segundo Ismael Luiz, coordenador do projeto, "Temos como monitores os próprios reeducandos, que são capacitados através de aulas interativas, aprendem como se faz e como colocar em prática [as aulas], trazendo para dentro do sistema prisional os recursos para poder executar essas aulas".

Essas iniciativas educacionais têm transformado o ambiente prisional em um espaço de oportunidades. Muitos detentos relatam que oferecer aprendizado a um companheiro é gratificante.

"É muito gratificante poder contribuir para a sociedade através da ressocialização. A gente entendeu o significado da reeducação no sistema. A gente vê a felicidade deles. A maioria aqui assinava só com o dedo, alguns sabiam somente escrever o próprio nome. É muita alegria. A gente está, de pouquinho em pouquinho, vendo crescer o que plantamos, vendo novos sonhos sendo realizados", afirma um detento monitor do projeto.

Educação formal e remição de pena

Alagoas ocupa também a segunda posição entre os estados com maior percentual de detentos matriculados na educação formal, com 46,6%, atrás apenas de Rondônia, que alcançou 84,49%.

Clarice Damaceno, gerente de Educação e Cidadania da Seris, comenta: "A sensação é de dever cumprido, mas ainda tem muito a ser feito. Aprovações em provas como Encceja e o Enem demonstram que os estudos não formais, de alguma forma, impactam nas certificações formais".

Os reeducandos têm direito a redução de pena ao participar de atividades educacionais, como:

  • Educação regular (em escolas prisionais)
  • Práticas educativas não-escolares
  • Leitura

No caso de detentos em processo de alfabetização, a redução de pena é de um dia por cada 12 horas de estudo. A conclusão de etapas do ensino fundamental ou médio também pode resultar na remição de pena.

Leitura como ferramenta de transformação

Em Alagoas, a leitura é um fator motivacional significativo. A cada livro lido, um detento pode reduzir quatro dias da pena, com um limite de 12 livros por ano.

Alagoas se destaca ainda na remição de pena pela leitura, com mais de 21,5 mil atividades educacionais realizadas, abrangendo 20,9 mil homens e 627 mulheres no sistema.

Uma mulher detenta que leu cerca de 50 livros em dois anos afirma: "É uma atividade que eu gosto muito. Ler, para mim, é uma coisa natural. Eu leio em média um livro a cada três ou quatro dias. Além do que eu já sabia, aprendi muita coisa aqui dentro com os livros que eu já li sobre outras religiões, outras culturas. Também passei a conhecer melhor os autores brasileiros".

O amor pela leitura também levou a realização de novos sonhos: "Fui escolhida para fazer uma faculdade de turismo. Para mim, é mais uma conquista. Embora eu esteja em um local privado de liberdade, tenho esperança de um futuro melhor. Quero voltar a estudar, mesmo concluindo [a faculdade] aqui dentro. Tenho em mente fazer outra faculdade lá fora".

A coordenadora pedagógica Thaís Bandeira acrescenta que, embora a redução da pena seja uma grande motivação, o prazer pela leitura é o verdadeiro motor do aprendizado. "Quando eles descobrem o prazer da leitura, começam a se interessar e não querem mais ler só para reduzir a pena, começam a ler porque estão gostando".