Lula busca neutralidade de aliados para 2026

Lula busca neutralidade de aliados para 2026

Introdução

O próprio presidente afirmou em entrevista no começo do mês que ainda discutirá com os partidos que integram a Esplanada para fazer uma "decisão política" sobre 2026.

A situação atual

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Diante da cada vez mais pública manifestação de infidelidade dos partidos de centro e de direita hoje no governo Lula (PT), petistas e integrantes do Palácio do Planalto afirmam que vão trabalhar para que União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB fiquem neutros nas eleições de 2026, ou seja, não apoiem formalmente a candidatura do campo bolsonarista.

A ideia é também investir no apoio regional de lideranças desses partidos, caso alguns deles coliguem, formalmente, com um candidato adversário de Lula.

A importância dos partidos

Esses cinco partidos controlam 11 ministérios e são cruciais para a manutenção da governabilidade de Lula no Congresso Nacional, tendo em vista o caráter minoritário da esquerda na Câmara e no Senado. Até pouco tempo, havia uma movimentação de bastidores principalmente no MDB e no PSD para ocupar a vice na possível chapa de Lula à reeleição, mas hoje esse cenário é visto como pouco provável não só nessas siglas, mas no governo e no PT.

Desafios e pesquisas

Os ventos mudaram, pelo menos por ora, em decorrência da deterioração da popularidade presidencial e do esgarçamento da relação com o Congresso em meio às crises do Pix, do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e, mais recentemente, do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (12), mostrou que o movimento de recuperação na avaliação de Lula foi interrompido. Segundo o instituto, reprovam o petista 40%, ante 28% que o aprovam –mantendo, em relação ao índice de ruim ou péssimo, o pior patamar dos três mandatos do político.

Possibilidades de apoio

De acordo com aliados do presidente, se não houver uma recuperação da popularidade, a neutralidade dos cinco partidos aliados, ou de parte deles, já será um bom resultado para o governo. A ideia, nesse caso, é repetir em linhas gerais o que ocorreu no segundo turno da campanha de 2022, quando Lula enfrentou o então titular do cargo, Jair Bolsonaro (PL).

Na ocasião, nenhuma das cinco legendas apoiou formalmente o PT –duas delas, PP e Republicanos, estavam, inclusive, na chapa de Bolsonaro–, mas Lula contou com o trabalho de alas das legendas. Uma das mais simbólicas, por exemplo, foi a adesão da hoje ministra Simone Tebet (Planejamento), que disputou o primeiro turno pelo MDB e ficou em terceiro lugar, com 4,16% dos votos válidos.

Cenário atual e próximos passos

Hoje o cenário vem se repetindo. Apesar de os cinco partidos manifestarem em muitos casos oposição ao governo, alas dessas siglas permanecem fiéis ao PT e devem integrar o palanque de Lula seja qual for a decisão formal de suas respectivas legendas.

No MDB, por exemplo, os grupos políticos ligados a Tebet, ao governador Helder Barbalho (PA) e ao senador Renan Calheiros (AL) tendem a ficar ao lado do petista seja qual for a decisão formal do partido. O PT dá como certo que, no Republicanos, o atual ministro Silvio Costa Filho (Portos) também estará com Lula.

O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), do PSD, já disse publicamente que estará na linha de frente da candidatura do petista à reeleição. Governistas também apostam no apoio de outros quadros do PSD, como o do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), considerado por Lula como o candidato ideal para governo de Minas Gerais, do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, do senador Otto Alencar (BA) e do líder do partido na Câmara, Antonio Brito (BA).

No PP, além do ministro André Fufuca (MA), governistas falam no ex-presidente da Câmara Arthur Lira (AL). Apesar de o parlamentar tecer duras críticas ao Executivo, ele é um dos integrantes do PP que rechaça ruptura com o Palácio do Planalto neste momento. Até no partido mais infiel da base, o União Brasil, o governo espera angariar apoio que perdure até o palanque.

Reuniões e negociações

O principal deles é o do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), principal base da manutenção da sigla no governo. O ministro Celso Sabino (Turismo), deputado federal licenciado do União Brasil, já deu declarações públicas de que trabalhará pelo apoio do partido a Lula em 2026.

De acordo com relatos, Sabino tem atuado nos bastidores para tentar aproximar a cúpula de seu partido de Lula. Nesta semana, se reuniu com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e discutiu, entre outras coisas, a possibilidade de um encontro entre o petista e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda.

Se isso ocorrer, será o primeiro encontro de Lula e Rueda desde que este assumiu a presidência da sigla. A possibilidade de reuniões entre Lula e presidentes de partidos da base aliada vem sendo discutida por integrantes do Palácio do Planalto há alguns meses.

Considerações finais

A ideia agora é que essas conversas ocorram tendo como pano de fundo o pleito de 2026. A própria presidente afirmou em entrevista no começo do mês que ainda discutirá com os partidos que integram a Esplanada para fazer uma "decisão política" sobre 2026, e a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) tem se reunido com representantes dos partidos nas últimas semanas e deve levar a Lula a possibilidade de concretizar os encontros.

A aliança de conveniência firmada por Lula tem resultado em diversos exemplos explícitos de rebelião. A análise das principais votações ocorridas no plenário da Câmara em 2025, por exemplo, mostra que 55% dos parlamentares dessas cinco legendas não chegaram a apoiar nem metade dos projetos defendidos pelo Palácio do Planalto.

O União Brasil formou uma federação com o PP em clima de oposição e, na quarta-feira (11), chegou a convocar uma entrevista para anunciar que iria "fechar questão" contra o pacote de aumento de impostos do governo mesmo antes de a proposta ter sido formalizada pelo Planalto. Nos bastidores, e em alguns casos abertamente, líderes e integrantes dessa base defendem e trabalham pela candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O único entrave a esse sonho de consumo do centrão continua sendo Bolsonaro, hoje o maior líder popular da direta.

Inelegível e prestes a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal pela trama golpista, o ex-presidente não assegura ainda apoio a Tarcísio. Publicamente, diz se manter candidato, mas avalia nomes da própria família: a mulher, Michelle, e os filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro.

Principais elos dos partidos com o governo

  • União Brasil: Davi Alcolumbre (AP), presidente do Senado; Celso Sabino, ministro do Turismo; Juscelino Filho, ex-ministro das Comunicações.
  • MDB: Renan Filho, ministro dos Transportes; Renan Calheiros (AL), senador; Jader Filho, ministro das Cidades; Helder Barbalho, governador do Pará; Simone Tebet, ministra do Planejamento.
  • PSD: Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia; Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro; Antonio Britto (BA), líder da bancada na Câmara; Otto Alencar (BA), líder da bancada no Senado; Rodrigo Pacheco (MG), ex-presidente do Senado.
  • PP: André Fufuca, ministro do Esporte; Arthur Lira (AL), ex-presidente da Câmara.
  • Republicanos: Silvio Costa Filho, ministro dos Portos.