Perícia contesta versão do Exército sobre soldado morto
02/06/2025, 09:30:27Investigação do Caso Wenderson Nunes Otávio
O inquérito do Exército aponta que a morte do soldado Wenderson Nunes Otávio, de 19 anos, foi causada por suicídio, ocorrendo dentro de um alojamento militar no Rio de Janeiro. No entanto, uma análise pericial independente contradiz essa versão, afirmando que é "fisicamente impossível".
A morte de Wenderson aconteceu em 15 de janeiro de 2025, às 16h50, um mês antes de seu aniversário de 20 anos. Inicialmente, às 20h40 daquele dia, o Exército comunicou à família que se tratava de um "acidente". Contudo, em seguida, informou que o jovem havia cometido suicídio, mantendo essa alegação no inquérito policial militar.
Busca por Clarificações
A família de Wenderson, incluindo seus pais, Adilson Firmino Rosa e Cristiana da Silva Nunes, e sua namorada, rejeitam a hipótese de suicídio. Cristiana se recorda de um telefonema do quartel informando sobre um "acidente". No entanto, ao chegar ao batalhão, o comandante Douglas dos Santos Leite afirmou que o soldado se havia matado. "Aí eu falei pra ele que isso é impossível, que eu conheço o meu filho, que eu queria saber a verdade", contou Adilson. Sua namorada acrescentou: "É mentira! A gente estava bem... E era um cara que eu amava muito, muito mesmo". Wenderson foi levado ao Hospital Central do Exército, onde teve a morte cerebral confirmada cinco dias depois.
Análise do Inquérito Militar
A investigação militar colheu depoimentos de três colegas de alojamento de Wenderson, que relataram estar descansando quando ouviram o tiro e encontraram o soldado caído. Eles afirmaram que Wenderson estava enfrentando problemas com a namorada e que teria atirado em si após o término do relacionamento. A perícia de local concluiu que o soldado estava sentado em um sofá, inclinado como se estivesse calçando o coturno, no momento do disparo.
Contestação da Perícia Independente
Contrariando o que foi apurado no inquérito militar, o médico legista Dr. Luiz Carlos Prestes, que analisou o relatório pericial a pedido do Fantástico, enfatizou que as evidências desqualificam a tese de suicídio. "O trajeto [do projétil] traduz que esse disparo foi feito pelo atirador provavelmente em pé, à direita da vítima e que fez um disparo a distância", explicou ele, ressaltando que não foram encontrados vestígios característicos de suicídio no corpo de Wenderson.
A Questão da Arma
A análise de DNA na pistola de 9mm revelou perfis genéticos de Wenderson e dos três colegas presentes. No entanto, os testes para resíduos de pólvora nas mãos deles resultaram negativos. A investigação indicou que a arma estava sob a responsabilidade do soldado Jonas Gomes Figueira, amigo de Wenderson e uma das testemunhas-chave. Figueira afirmou que ele e os colegas não manusearam a arma, mas outra testemunha contradisse essa declaração. Além disso, foi mencionado que o terceiro sargento Alessandro não fiscalizou o cumprimento de regras relacionadas à entrega das armas antes de entrarem no alojamento. O advogado de Figueira alegou não ter acesso ao inquérito completo e às perícias, conforme relatado pelo Fantástico.
Resposta do Exército
Em nota, o Exército informou que estabeleceu contato com a família, oferecendo atendimento psicológico e médico, além de fornecer informações sobre o inquérito. A investigação permanece sob sigilo, com o Ministério Público Militar responsável pela condução.