Bebês do Vietnã buscam mães após 50 anos da guerra
29/04/2025, 20:43:03Bebês do Vietnã buscam suas mães biológicas
Cinquenta anos após a evacuação caótica de Saigon nos últimos dias da Guerra do Vietnã, milhares daqueles que eram bebês ou crianças pequenas retornaram ao país na esperança de encontrar suas mães biológicas.
No tumultuado fim da Guerra do Vietnã, mais de 3.000 crianças foram deslocadas por americanos, sendo adotadas em países como a América do Norte, Europa ou Austrália. Essa operação gerou críticas na época, pois muitos não eram órfãos e foram separados de suas famílias em meio à guerra.
Odile Dussart, uma dessas crianças, foi adotada por um casal francês e cresceu no norte da França. Atualmente, com 51 anos, Odile, que tinha apenas 11 meses quando foi deslocada, retornou ao Vietnã em busca de suas origens. "Só quero saber se minha mãe biológica está viva ou morta. Quero conhecer sua história", afirmou à AFP, de sua residência em Hoi An, com vista para os campos de arroz. "Talvez seja impossível encontrá-la. Mas não perco as esperanças", disse Bui Thi Thanh Khiet, seu nome vietnamita.
O Vietnã comemora com solenidade o 50º aniversário da queda de Saigon, que simbolizou a vitória do norte comunista sobre o sul pró-americano. As crianças, em sua maioria, eram filhas de soldados americanos ou estavam em orfanatos.
Porém, o início da operação foi desastroso: em 4 de abril de 1975, um Lockheed C-5 Galaxy, o primeiro voo de evacuação organizado pelos Estados Unidos, caiu poucos minutos após a decolagem, resultando na morte de 138 pessoas, entre elas 78 crianças. Odile Dussart é uma das 176 sobreviventes desse acidente. "Eu tinha hematomas nas costas, pescoço e cabeça. Estava muito fraca e desidratada. Aos 11 meses, pesava como um bebê de seis", recordou.
Identidade e busca pelas origens
Apesar de sua experiência trágica, Odile não se considera uma vítima do acidente. "Sem imagem, sem som, sem cheiro. As verdadeiras vítimas são aqueles que sentiram a perda, não eu", explica. Outro ex-bebê da operação, James Ross Tung Dudas, que tinha três anos quando foi para os Estados Unidos, passou anos tentando encontrar sua mãe, sem sucesso. Agora, ele aguarda os resultados de testes de DNA após viajar para Vun Tau, perto da cidade de Ho Chi Minh.
"Seria bom saber quem eu sou e de onde eu venho exatamente", comenta ele. Tanto Odile quanto James enfrentaram desafios ao crescer como minorias em comunidades de maioria branca. Odile relata que, apesar de sua formação francesa, sempre foi vista como asiática na França. "Acho que minha alma é vietnamita", afirma.
Como parte de suas jornadas pessoais, ambos buscam conectar-se com suas raízes vietnamitas. Odile, que trabalhou como advogada na França, voltou ao Vietnã com gratidão. "Estou agradecida por estar viva e sou grata aos pilotos e militares que arriscaram suas vidas para salvar a minha", conclui.