Medo de salvadorenhos em Washington após deportação equivocada

Medo de salvadorenhos em Washington após deportação equivocada

O medo que assola a comunidade salvadorenha

Sara López caminha rapidamente até seu carro, mantendo-se perto das paredes do estacionamento de um shopping nos subúrbios de Washington, onde ela faz compras. "Tenho medo de andar na rua e ser presa", confessa esta salvadorenha, de 41 anos, que não possui autorização de residência nos Estados Unidos. Ela e o marido se estabeleceram há três anos nos arredores da capital americana, onde vive a segunda maior comunidade salvadorenha do país.

Recentemente, o caso de Kilmar Ábrego García, um imigrante salvadorenho deportado por engano para El Salvador, intensificou a ansiedade entre os salvadorenhos. Kilmar foi preso em meados de março e deportado para seu país natal, onde está encarcerado em um mega presídio de alta segurança construído para abrigar membros de gangues. O governo dos EUA, durante a gestão de Donald Trump, reconheceu inicialmente ter cometido um "erro administrativo" nesse caso, mas, por outro lado, alega que Ábrego García pertence à gangue MS-13 e tem um histórico de violência doméstica.

Consequências da deportação

Sara Lopez se preocupa com as repercussões que este caso pode ter sobre sua vida e a de outros imigrantes. "Acho que eles deveriam investigar esse caso a fundo, porque não podem simplesmente colocar todo mundo no mesmo saco", reclama. "Viemos para trabalhar e lutar, mesmo sem ter documentos ainda. Não estamos prejudicando ninguém".

No bairro de Mount Pleasant, repleto de restaurantes salvadorenhos, essa tensão é compartilhada por outros membros da comunidade. Keylie, uma jovem de 31 anos que nasceu nos Estados Unidos de pais salvadorenhos, expressa seus medos: "Só de olhar para mim, dá para perceber que sou hispânica. Posso ser alvo só por isso".

Reações ao caso de Kilmar

A Suprema Corte dos EUA tomou a decisão de que o governo Trump deve "facilitar" o retorno de Ábrego García aos Estados Unidos, uma determinação comemorada por muitos salvadorenhos. Alberto García, que está nos EUA há 20 anos, salientou que foi uma "decisão errada deste governo", enfatizando que Kilmar não teve a oportunidade de se defender.

Entretanto, algumas opiniões sobre o caso são mais ambivalentes. Saúl Mercado, um homem de 60 anos que obteve asilo após fugir da guerra civil em El Salvador, é um exemplo disso. Ele concorda em parte com as políticas de Trump e comentou: "Não sei dizer se ele pertencia às gangues ou não, mas supostamente esses governos, tanto aqui quanto lá, o investigaram".

Impacto na comunidade

O caso de Ábrego García está causando uma reflexão profunda entre os salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos. Abel Núñez, diretor da Carecen, uma organização que auxilia imigrantes da América Latina, ressalta que esse caso afeta não apenas a comunidade salvadorenha, mas os Estados Unidos como um todo. "A deportação de Kilmar abre a porta para a deportação de qualquer pessoa, incluindo cidadãos americanos", alerta Núñez.

A situação tem se mostrado complexa, pois ao mesmo tempo em que muitos salvadorenhos veem Kilmar como uma vítima, poucos culpam o presidente salvadorenho Nayib Bukele pela deportação. Bukele, que mantém grande popularidade em El Salvador por sua guerra contra as gangues, descartou qualquer gesto em favor de Ábrego García durante uma reunião na Casa Branca.

Os salvadorenhos em Washington se sentem cada vez mais vulneráveis, e o caso de Kilmar serviu como um alerta sobre a fragilidade de sua situação. A insegurança em relação ao futuro permeia suas vidas e destaca os desafios que enfrentam em um país que, apesar de oferecer oportunidades, também pode ser repleto de incertezas para os imigrantes.