Indígenas da América Latina e Oceania se unem na COP30
11/04/2025, 08:30:56Uma Aliança Inesperada
Quando amanhece na terra do panamenho Olo Villalaz, George Nacewa janta na ilha de Fiji. Separados por mais de 11.000 quilômetros no oceano Pacífico, indígenas latino-americanos e da Oceania selaram esta semana, em Brasília, uma aliança inesperada frente à COP30. Delegações de Austrália, Fiji, Papua Nova Guiné, Samoa e Samoa Americana vieram à capital federal participar do Acampamento Terra Livre, o maior encontro anual de povos originários do Brasil, que habitualmente atrai representantes de toda a América.
Relevância do Encontro
Este ano, o encontro ganhou relevância especial devido à COP30, a conferência climática da ONU, que será celebrada em novembro em Belém do Pará. Preocupados com o aquecimento global, que os afeta especialmente, indígenas de outras partes do mundo se somaram ao acampamento com o objetivo de unir forças.
Os Desafios Enfrentados
"Saí de casa na sexta-feira e cheguei aqui no domingo. Foi uma viagem longa, muito cansativa", diz à AFP Nacewa, líder do povo iTaukei de Fiji, com a compleição física de um jogador de rúgbi. Ele pegou três conexões aéreas para participar do acampamento e se unir aos outros 8.000 indígenas vindos do extremo sul do Brasil ao Canadá, segundo os organizadores. Na quinta-feira, vão marchar juntos até as sedes dos Três Poderes para pedir à presidência brasileira da COP30 um repúdio contundente à exploração do petróleo, entre outros pontos de sua agenda comum.
A Conexão Entre os Povos
Na concentração, até a sexta-feira, os indígenas debatem, fazem comércio, assistem a shows e tiram fotos instantâneas. "É uma coisa tão linda de presenciar", emociona-se Nacewa, falando em inglês. Apesar da distância, Villalaz, líder do povo Kuna, no Caribe panamenho, se identifica com a luta dos fijianos. "Os irmãos do Pacífico têm um grande problema com a elevação do nível do mar, e eu e meu povo também", diz em espanhol Villalaz, que veio da comarca de Guna Yala, no nordeste do Panamá.
A Luta Contra a Elevação do Mar
Em meados de 2024, cerca de 1.200 indígenas tiveram que ser evacuados da ilha Cartí Sugdupu, em Guna Yala, sob o risco de desaparecer pelo aumento do nível do mar devido ao aquecimento global. "Estamos nas ilhas, e a luta deles é a mesma que a nossa", acrescenta o líder Kuna. Em Fiji, por causa da elevação do mar, "tem água salgada entrando nas terras onde semeamos nossa comida", reclama Alisi Rabukawaqa.
Solidariedade entre Povos
"Para nós, é importante vir e compartilhar (...) Também enfrentamos essas lutas. Estamos em solidariedade", explica Rabukawaqa, que enfrentou o 'jetlag' para compartilhar um ritual de boas-vindas com os representantes dos outros países na segunda-feira. Os indígenas pedem para ter o mesmo peso dos chefes de Estado nas negociações da COP30, entre 10 e 21 de novembro.
O Papel das Terras Indígenas
As terras indígenas são consideradas pelos especialistas um baluarte fundamental na luta contra o aquecimento global por sua proteção das florestas e dos recursos naturais. Para Nacewa, o encontro em Brasília tem similaridades com o Festival de Artes do Pacífico, mas com uma grande diferença: "Aqui estão mais politicamente alinhados e combativos. Na nossa terra, nos reunimos mais para mostrar nossas culturas e valores".
Direitos nas Negociações da COP30
O advogado Dinaman Tuxá, coordenador da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), a maior organização de povos originários do país, explica a importância de trabalhar em conjunto com os povos da Oceania, que em 2026 poderão receber a COP31, visto que a Austrália e um grupo de ilhas do Pacífico submeteram sua candidatura. Queremos "uma continuidade na construção de questões ambientais" entre a COP30 e a COP31. Um dos principais pontos de convergência é sua oposição à exploração de combustíveis fósseis, a principal causa do aquecimento global, e cujo princípio para um abandono progressivo foi aprovado na COP28. "Somos contra o 'fracking' [fraturamento hidráulico], a perfuração, o petróleo e a mineração porque acreditamos que adoece nosso país, o que nos adoece porque somos a Terra", diz à AFP Rosie Goslett-King Budawang, do povo Yuin australiano. A presidência brasileira da COP30 evitou se posicionar sobre este assunto, espinhoso nas conferências passadas.