Glauber Braga inicia greve de fome por cassação de mandato
10/04/2025, 08:38:01Glauber e deputados do PSOL acusam o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) de ter articulado pela perda do seu mandato.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) anunciou, nesta quarta-feira (9), o início de sua greve de fome em protesto contra o processo de cassação que enfrenta. Esse processo foi instaurado após uma agressão ao militante do MBL, Gabriel Costenaro, ocorrida em abril do ano passado.
Glauber e seus colegas do PSOL acusam o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de estar por trás da articulação que visa à perda de seu mandato.
"Estou o dia inteiro em jejum e a partir de agora não vou, até o fechamento desse processo, me alimentar. Vou permanecer aqui, aguardando, com uma decisão irrevogável de que não vou ser derrotado pelo orçamento secreto. Quem imaginou que utilizaria esse episódio, que eu seria um cadáver político ou zumbi, não sabe da minha convicção", disse.
Em seu discurso, Glauber afirmou: "Quem quiser chamar de greve de fome, chame como queira, mas vou dar manutenção a uma ação de não rendição ao orçamento secreto e a Arthur Lira e companhia".
O anúncio de Glauber foi feito durante uma tumultuada sessão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Nesta reunião, seria discutido um relatório que recomenda a perda de seu mandato. A sessão foi iniciada às 11h e contou com a presença de militantes do PSOL. A expectativa era de que a discussão fosse encerrada às 16h, com o início da ordem do dia no plenário. No entanto, até às 18h, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda não havia dado início aos trabalhos.
O PSOL afirma que Glauber está sendo alvo de perseguição, e a líder do partido, Talíria Petrone (RJ), declarou que o processo é injusto e ataca não apenas Glauber, mas toda a esquerda brasileira. Ela ainda afirmou que o partido está disposto a recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) se a cassação for aprovada.
Glauber justificou sua reação ao explicar que Costenaro ofendeu sua mãe, que estava doente e faleceu no mês seguinte. Ele relatou que sentiu a necessidade de defender a honra dela.
Durante a sessão, houve uma confusão quando os deputados Marcos Pollon (PL-MS) e Fábio Costa (PP-AL) solicitaram o encerramento da discussão. O pedido gerou reações de parlamentares que apoiam Glauber. A votação para encerrar a discussão foi aprovada com 14 votos a 4.
Após isso, Glauber fez seu anúncio e recebeu palmas de seus apoiadores, incluindo a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que pediu solidariedade ao parlamentar.
O relator Paulo Magalhães (PSD-BA) já havia apresentado um parecer favorável à cassação, alegando que houve quebra de decoro por parte de Glauber devido à agressão. Contudo, Magalhães ressaltou a desproporcionalidade da reação de Glauber, afirmando que a violência física foi injustificável.
Para que a cassação do mandato de Glauber seja efetivada, o processo precisa ser pautado no plenário e obter a aprovação da maioria absoluta dos deputados, ou seja, 257 votos.
A defesa de Glauber chegou a solicitar a suspeição do relator, com base em uma reportagem que trouxe à tona um caso de 2001, em que Paulo Magalhães havia agredido um escritor na Câmara.
De acordo com o regimento, o prazo para deliberação no plenário é de 90 dias úteis. Contudo, deputados aliados de Glauber mencionaram que o pedido de cassação de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), está pronto para votação desde agosto do ano passado.
A sessão do Conselho de Ética teve a presença de militantes do PSOL e apoiadores de Glauber, que, em número significativo, ficaram nos corredores gritando por sua permanência no cargo. O ator Marco Nanini também esteve presente para apoiar o deputado.
Na semana anterior, quando o parecer do relator foi apresentado, a votação foi interrompida por um pedido de vista do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), amigo de Glauber.
No ano passado, Glauber decidiu abrir mão de testemunhas no processo, afirmando que a situação já havia ultrapassado os limites. Em sua fala, ele expressou ter se emocionado com a participação da deputada Luiza Erundina no conselho e enfatizou: "Se hoje me emocionei de maneira profunda com ela no Conselho de Ética, eu não queria, nesse momento, estar decepcionando a deputada Luiza Erundina. Mas tudo tem um limite. E esse processo que se arrasta durante todo esse tempo para mim já foi o suficiente".