Secretária do mal morre aos 99 anos na Alemanha

Secretária do mal morre aos 99 anos na Alemanha

Irmgard Furchner: Trajetória de uma figura polêmica

Irmgard Furchner, ex-secretária do comandante do campo de concentração de Stutthof, faleceu aos 99 anos na Alemanha, em 14 de janeiro. A informação foi confirmada pela agência Spiegel na última segunda-feira (7).

A morte de Furchner ocorreu dois anos após sua condenação por cumplicidade em mais de 10 mil assassinatos no campo, que ficava no norte da Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. O Tribunal Federal de Justiça da Alemanha validou a sentença em agosto do ano passado.

A atuação de Furchner em Stutthof

Furchner trabalhou como estenógrafa no escritório do comandante de Stutthof entre 1º de junho de 1943 e 1º de abril de 1945. O tribunal concluiu que ela tinha ciência das atrocidades cometidas no campo e que suas funções ajudaram diretamente na morte de 10.505 prisioneiros. As mortes ocorreram devido a gaseamento, condições de vida desumanas, transporte para Auschwitz e marchas forçadas no final da guerra.

Estima-se que entre 63 mil e 65 mil pessoas, incluindo judeus, prisioneiros políticos, homossexuais e Testemunhas de Jeová, foram assassinadas em Stutthof entre 1939 e 1945.

Condenação e julgamento

Furchner foi acusada de ser parte do funcionamento do campo, que estava localizado próximo à cidade de Danzig, hoje conhecida como Gdansk, na Polônia. Sua condenação alcançou 10.505 casos de assassinato e cinco tentativas de assassinato.

Durante uma audiência em julho no Tribunal Federal em Leipzig, seus advogados questionaram se ela poderia ser considerada cúmplice e se possuía pleno conhecimento dos crimes. O tribunal determinou que Furchner sabia das mortes e que suas funções administrativas contribuíram para a execução dos prisioneiros.

A tentativa de fuga e o julgamento

Embora tivesse apenas 18 ou 19 anos na época dos fatos, Furchner foi julgada por um tribunal juvenil. Apesar de não ter sido avaliada sua maturidade mental naquele período, o tribunal confirmou sua participação nos crimes.

Em setembro de 2021, Furchner tentou escapar de uma casa de repouso em Norderstedt, no norte da Alemanha. Durante essa fuga, ela pegou um táxi até uma estação ferroviária, mas foi detida cinco dias depois, o que atrasou o início do seu julgamento.

As atrocidades em Stutthof

Durante o processo, relatórios indicaram que prisioneiros foram mortos com disparos no pescoço e através de gaseamento com Zyklon B. Em 22 de julho de 1944, um oficial chamado Paul Maurer ordenou a transferência de prisioneiros para Auschwitz. Apenas quatro dias depois, uma lista foi criada no escritório do comandante Paul Werner Hoppe, confirmando o transporte por rádio. A promotoria alegou que Furchner redigiu essa mensagem.

Durante o julgamento, ela declarou que não tinha conhecimento das mortes, mesmo trabalhando diretamente no comando do campo. Testemunhos relatados mostraram que seu marido, um ex-soldado da SS, estava ciente dos gaseamentos em 1954.

Um final trágico para um caso emblemático

O caso de Furchner se destaca entre os últimos processos por crimes nazistas na Alemanha. De acordo com o escritório de promotores em Ludwigsburg, apenas três casos permanecem pendentes.

A condenação de Furchner baseou-se em um precedente de 2011, que estabelece que a participação em funções em campos de concentração é suficiente para acusações de cumplicidade em assassinatos.