Youtuber é suspenso da UnB por desrespeitar aulas

Youtuber é suspenso da UnB por desrespeitar aulas

UnB suspendeu Wilker Leão por mais 60 dias


SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O youtuber de direita Wilker Leão voltou a ser suspenso da Universidade de Brasília após interromper aulas e gravar professores, expondo-os em vídeos nas redes sociais.

O QUE ACONTECEU
A UnB suspendeu Wilker Leão por mais 60 dias. A universidade informou que a decisão foi baseada na "medida cautelar de suspensão temporária", com "fundamento nos princípios da legalidade, da proteção da comunidade acadêmica e do regular andamento processual". Embora a instituição não tenha dado mais detalhes sobre os motivos da suspensão, é amplamente conhecido que Wilker Leão grava aulas e debocha de professores, postando as interações em suas redes sociais.

Ele afirma que a suspensão impede sua presença nas dependências da instituição. Às 14h12, anunciou que iria à UnB, sugerindo uma gravação de vídeo posterior: "Quero ver quem vai me tirar de um espaço público", publicou.

No final de dezembro do ano passado, Leão foi suspenso por 60 dias, sendo impedido de frequentar as aulas de História da África e História do Brasil. A reitoria reconheceu que as ações do youtuber prejudicaram a comunidade acadêmica, resultando até na paralisação das aulas.

O UOL tentou contactá-lo, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.

ENTENDA O CASO
A UnB (Universidade de Brasília) instaurou sindicância para investigar possíveis infrações cometidas pelo youtuber. Wilker Leão, estudante de história da UnB, é conhecido por gravar tanto professores quanto alunos durante as aulas e expô-los em redes sociais, onde seus vídeos alcançam milhões de visualizações.

Conforme informado pelo UOL em novembro de 2024, Leão tem postado gravações das aulas de história, alegando a existência de "doutrinação de esquerda". Em seus vídeos, aparecem professores e colegas, que são alvo de sátira.

Os conteúdos mostram o youtuber zombando de educadores e colegas de classe. Ele está cursando o segundo período e tem filmado as aulas desde o semestre anterior, quando afirmou ser "perseguido". Colegas e docentes relatam que os vídeos são manipulados e as falas distorcidas. "Ele edita o material, altera as falas e cria situações irrealistas. Já admitiu que faz isso para conseguir mais visualizações", declarou um colega de Leão que preferiu não ser identificado.

Uma professora registrou boletim de ocorrência contra Leão por difamação, afirmando que ele a chamou de "autoritária". A docente informou que seus filhos menores encontraram os vídeos em que Leão a ofende, o que gerou "sucessivos comentários de ódio" provenientes dos fãs do influenciador. A Polícia Civil do Distrito Federal informou que registrou a ocorrência através da Delegacia Eletrônica e enviou o caso à 2ª DP para investigação.

Professores têm coletado informações e consideram acionar a Justiça contra o youtuber. A comunidade acadêmica firmou um acordo que proíbe o uso de suas imagens em vídeos de Leão, mas os conteúdos continuam sendo lançados. Embora algumas identidades sejam preservadas, em certos momentos é possível reconhecer alunos e docentes.

A UnB declarou que está oferecendo suporte aos professores e alunos. A universidade também destacou que "o estudante, como parte de seu processo de ensino-aprendizagem, pode fazer uso privado ou pessoal do material pedagógico. Contudo, qualquer modificação ou publicação sem devida autorização fere os direitos autorais do docente, constituindo uma violação ao propósito do ensino".

A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) estipula que o uso da imagem de alguém deve ocorrer com consentimento claro e inequívoco do titular.

"Temos uma pessoa que não está aqui para aprender, mas sim para sabotar. A situação não pode continuar assim. Ele se matriculou na UnB apenas para fazer suas provocações e capitalizar em cima da gente. É uma falta de respeito", declarou um professor que foi gravado durante uma aula.

'DOUTRINAÇÃO DE ESQUERDA'
O youtuber alega, sem apresentar evidências, que as universidades públicas do Brasil, incluindo a UnB, impõem uma "doutrinação de esquerda". Durante as aulas, interrompe os docentes para fazer comentários sobre temas como direitos humanos, racismo e gênero, filmando os rostos e vozes tanto de educadores quanto de colegas.

Leão tenta insinuar que os professores "não são competentes em suas áreas" e que manipulan o conteúdo das aulas. Ele se considera vítima ao afirmar “discriminação” após uma docente discutir privilégios de pessoas brancas. Leão, um homem branco, defendeu que "não foram somente negros que foram escravizados, brancos também passaram por isso". Ele criticou professores e abordagens sobre o racismo, afirmando que há uma "cartilha da esquerda" que induz à vitimização.

"Até onde percebi, a abordagem [policial] não foi truculenta (...) qual o problema de uma abordagem armada?" Em outra gravação, discutiu um caso de abordagem da polícia a adolescentes negros, o que levou o governo brasileiro a pedir desculpas formais.

Leão nega a existência de racismo nas estruturas sociais do Brasil, minimizando também questões de violência de gênero e policial.

'ELE DISTORCE AS FALAS', DIZ COLEGA
O UOL conversou com um colega de turma de Wilker Leão que pediu anonimato por temer represálias. Ele relatou que a classe tem sido alvo de ofensas desde que o youtuber começou a compartilhar seus vídeos. Leão possui mais de um milhão de seguidores nas redes sociais.

O colega afirmou que o youtuber distorce e edita o que dizem os professores. Segundo ele, Leão faz perguntas fora do contexto e edita os vídeos para criar contradições nas falas dos docentes.

Um dos vídeos publicados pelo influenciador atingiu mais de sete milhões de visualizações. Os conteúdos foram compartilhados no YouTube, Instagram e TikTok, sendo monetizados pelo volume de visualizações.

Desde o início, ele gravava secretamente, mas inicialmente ninguém desconfiava. Em todas as aulas, fazia perguntas fora do tema, provocando a reação de professores e alunos. Nem todos percebiam o caráter provocativo em suas atitudes.

Com o tempo, a turma se manifestou, solicitando que parasse com as gravações, mas ele ignorou as reclamações. Em várias oportunidades, professores e uma coordenadora tentaram dialogar, mas Leão simplesmente respondeu que não se importava. Este desdém gerou um clima tenso nas aulas, com interferências constantes dele.

O calendário acadêmico da turma tem sido seriamente comprometido. De acordo com relatos de alunos, aulas foram interrompidas ou canceladas devido a confusões geradas por Leão: "temos perdido aulas importantes porque ele sempre desvia o foco", disseram.

WILKER LEÃO SE TORNOU FAMOSO COMO 'TCHUTCHUCA DO CENTRÃO'
Em agosto de 2022, o youtuber envolveu-se em uma polêmica com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), utilizando o termo "tchutchuca" para se referir a ele. Esse episódio gerou repercussão nas redes sociais e Leão ganhou notoriedade.

"Quero saber se você tem coragem para conversar comigo, tchutchuca do centrão [...] você está fazendo as mesmas coisas que o PT, senão o PT volta. Vosso covarde, safado, vagabundo, falo isso abertamente", disse Leão, em uma gravação feita anteriormente às eleições em que Bolsonaro foi derrotado.

A época, foi repreendido por Bolsonaro e confrontado por seus seguranças.