Racha na cúpula evangélica após briga sobre anistia

Racha na cúpula evangélica após briga sobre anistia

Malafaia chamou Marcos Pereira de \"cretino\" e \"uma vergonha\" para evangélicos


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ataques do pastor Silas Malafaia ao presidente do Republicanos, Marcos Pereira, abriram um racha no segmento evangélico.


Em vídeo divulgado na quarta (19), Malafaia chamou Pereira de \"cretino\" e \"uma vergonha\" para evangélicos por sugerir que não seria a hora de congressistas analisarem o projeto de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro. O pastor é notório defensor da pauta e organizou a manifestação de domingo (16) com Jair Bolsonaro (PL), no Rio de Janeiro, para apoiá-la.


A fala provocou reações de deputados e líderes evangélicos. O próprio Pereira revidou nas redes sociais. Disse que, \"lamentavelmente, Silas Malafaia exala e transpira ódio\", o que faz \"com que ele deixe de refletir e se manifestar com inteligência\".


O par de fé, segundo o parlamentar, seria \"uma espécie de Rasputin Tupiniquim\" que \"chega a espumar pela boca nas suas manifestações cheias de cólera\". Também escreveu em rede social: \"Malafaia, que se julga um bom pastor, deveria cuidar das ovelhas ou então tornar-se um político de fato, disputar uma eleição e falar, de dentro do Parlamento, como parlamentar\".


Afirmou ainda que o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo deveria parar de \"induzir a guerra\" e se espelhar em pessoas como ele, que trabalham pela \"pacificação\".


Pereira lidera o partido do governador Tarcísio de Freitas, bem cotado como candidato da direita em 2026 ante a inelegibilidade de Bolsonaro. É também bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, assim como Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), sobrinho de Edir Macedo, fundador da denominação.


Crivella respaldou o colega de igreja e partido. Disse que Malafaia se \"equivocou\" ao interpretar a entrevista dada por Pereira. Argumentou que a bancada do Republicanos é favorável à anistia e inclusive capitaneou um projeto de lei a favor dela, que acabou não avançando na Câmara.


O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) afirmou à Folha ser legítimo \"o direito de Malafaia fazer qualquer tipo de crítica, apesar de eu entender que seria muito melhor se ele viesse para o campo político, e aí começasse a dar as suas opiniões políticas\".


\"O que eu critico é a forma deselegante e desrespeitosa como ele tratou o presidente Marcos Pereira, que é um político respeitado por todos em Brasília, independente do viés ideológico\", disse. \"Tratá-lo de cretino é no mínimo uma falta de elegância, e uma postura que não se espera de um líder religioso.\"


Em discurso na Câmara, Otoni pontuou que Pereira \"em nenhum momento\" disse ser contra a anistia, só que não era um bom momento para votar o projeto. \"A posição é técnica, ele é um advogado.\"


Otoni, fiel escudeiro do bolsonarismo num passado recente, é hoje tido como ponte entre igrejas evangélicas e o governo Lula (PT). Ele disputou a presidência da bancada evangélica com Gilberto Nascimento (PSD-SP), aliado de Malafaia contido em seu posicionamento público sobre temas que polarizam Brasília.


Malafaia espalhou nesta quinta (20) novo vídeo, endereçado aos dois parlamentares do Republicanos, Pereira e Crivella. \"Vamos falar a verdade, vocês são baixos\", afirmou. Falou ainda em \"conversa dissimulada\" e pediu que a dupla deixasse de \"mentira e de cinismo\", pois não seriam a favor da anistia coisa nenhuma, segundo o pastor.


\"De tanto ele andar com o PT e com Lula, ele está com a mesma narrativa da esquerda: 'Malafaia com discurso de ódio'\", disse sobre Pereira.


Nos bastidores evangélicos, prevalece a impressão de que Malafaia passou do ponto ao alvejar Pereira com tamanha virulência. Mas há também certa desconfiança sobre o que é visto como aproximação do líder do Republicanos com o governo petista.


A reportagem ouviu pastores e deputados evangélicos sobre o assunto. Quatro deles descartaram falar abertamente, mas ratificaram essa linha de raciocínio.


O apóstolo Cesar Augusto, que na eleição não escondeu seu entusiasmo por Bolsonaro, apresenta uma boa síntese da situação. Diz-se a favor de Malafaia quanto à necessidade de anistiar presos pelo 8 de janeiro que ele considera inocentes, menos \"quem realmente participou de algum ato contra o governo, contra o patrimônio público, que tinha essa intenção de golpe\".


Só pondera em relação ao tom usado pelo pastor. \"Talvez eu falaria de maneira diferente, mas é questão de temperamento. Acho que uma discussão num nível muito acalorado, que sai do nível do equilíbrio, é prejudicial para o meio evangélico.\"