A história inspiradora de Joana da Paz e seu filme
15/03/2025, 15:32:07Joana da Paz: uma história de coragem e luta
De Quebrangulo, no Agreste alagoano, para a Zona Sul do Rio de Janeiro, a história de Joana Zeferino da Paz chegou aos cinemas esta semana no filme Vitória, estrelado por Fernanda Montenegro. Entretanto, em duas horas, o filme de Andrucha Waddington se torna pequeno para condensar toda a saga dessa alagoana que registrou, em uma série de filmagens feitas da janela de sua casa, o cotidiano do tráfico de drogas, do comércio de entorpecentes ao uso de armas, em uma favela de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Com as provas que levaram à prisão de mais de 30 pessoas – entre traficantes e policiais –, ela precisou ingressar no programa de proteção à testemunha.
Antes do ato arriscado de filmar vários crimes sendo cometidos à luz do dia — material que confiou ao jornalista Fábio Gusmão em 2004 —, Dona Joana protagonizou seus próprios dramas. Quem nos conta é o próprio Gusmão, autor do livro que inspirou o filme, que conversou com o TNH1 nesta quinta-feira, quando a história dessa conterrânea de Graciliano Ramos chegou aos cinemas de todo o país.
A coragem herdada
A coragem de filmar e entregar todo o material à polícia ela puxou da própria mãe, que denunciou às autoridades alagoanas o coronel que estuprou Joana, ainda uma adolescente, que acabou engravidando. Gusmão relata: “É importante lembrar que Dona Joana teve uma vida muito marcada pela violência. Ela, nascida em Alagoas, na cidade de Quebrangulo, relatou o caminho ali de sofrimento que ela viveu, a violência sexual que sofreu de um coronel da região. A gravidez que veio por conta desse abuso, a retirada dela do lar, para que as pessoas não soubessem o que ele tinha feito…”
Dona Joana e a mãe, Dona Rosa, enfrentaram situações dramáticas. Após um período de peregrinação por cidades de Alagoas e Pernambuco, ela decidiu contar à mãe o que havia acontecido e, a partir daí, a denúncia tomou forma.
O encontro com a verdade
O encontro entre Gusmão e Dona Joana aconteceu em 2004, quando ele teve o primeiro contato com as imagens registradas por ela. Dias depois, ao assistir às fitas em casa, ele percebeu o tamanho e a importância da história que tinha em mãos. “Eu pedi para ver, assisti, mas o volume estava baixo e, duas semanas depois, pedi ao chefe do setor me deixar assistir completamente. E aí me deparei com a história de vida real”, recorda Gusmão.
A violência que ele encontrou nas imagens o impactou profundamente, motivando-o a se aproximar cada vez mais de Dona Joana, mantendo um contato próximo e uma relação de amizade.
A luta por justiça
Dona Joana decidiu registrar os criminosos em resposta às ameaças que recebeu. Segundo relatos na 12ª DP (Copacabana), bandidos a ameaçaram diversas vezes, e ela se sentiu compelida a reagir. Gusmão descreve a indignação de Dona Joana com as tentativas de desacreditar sua história. “Dona Joana entrou com um processo na Justiça contra o Estado...”, e a situação a levou a adquirir uma câmera para registrar a realidade ao seu redor e provar sua inocência.
Do papel ao cine
Após a publicação de suas histórias nos jornais e o lançamento do livro, a saga de Dona Joana atraiu o interesse do cineasta Breno Silveira. Embora Silveira tenha falecido em 2022, a direção do filme foi passada para Andrucha, e a escolha de Fernanda Montenegro para a interpretação de