Crianças são a maioria entre casos de malária na Yanomami

Crianças são a maioria entre casos de malária na Yanomami

O Ministério da Saúde registrou 33,3 mil casos de malária na Terra Indígena Yanomami em 2024, uma quantidade superior à própria população do território - são 27,1 mil indígenas na região, segundo dados do Censo de 2022 do IBGE. Das 33,3 mil notificações de malária no território, 14.672 (44%) se referem a crianças de 0 a 9 anos de idade. É a maior incidência entre faixas etárias, seguida da de 10 a 19 anos, com 8.889 casos.

As notificações da doença em 2024 representam um aumento de 10,2% em relação a 2023, quando houve 30,2 mil registros, e um acréscimo de 118% ante 2022, quando o sistema registrou 15,3 mil casos. Os dados foram compilados pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, e foram obtidos pela Folha por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação). Os números de 2024 são considerados preliminares e ainda sujeitos a alteração, conforme a pasta.

A reportagem solicitou dados de óbitos de yanomamis em todo o ano de 2024, mas a informação foi negada pelo ministério. As informações fornecidas sobre mortes são apenas do primeiro semestre do ano, e o ministério deixou de atualizar com periodicidade certa os boletins com os números. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que houve queda de 35,7% nas mortes por malária, numa comparação por semestres. O ministério também destacou que houve mais diagnósticos, com aumento de 73% no número de exames, e mais tratamento por profissionais de saúde.

"A análise exclusiva pelas notificações pode gerar falsa sensação de aumento de casos de malária na região, uma vez que um único paciente pode ser testado várias vezes até o fim do tratamento", disse a nota.

Em 2022, houve 16 mortes por malária na terra yanomami, sendo 10 casos de crianças de 0 a 9 anos, de acordo com o Ministério da Saúde. No primeiro semestre de 2024, houve menos mortes, 9, sendo a grande maioria, 8, de crianças de 0 a 9 anos.

Crianças e adolescentes são um público prioritário e têm maior acesso a medicamentos, segundo a pasta. Em 2023, o ministério registrou 363 mortes de indígenas yanomamis, um número superior aos 343 óbitos em 2022, último ano do governo Bolsonaro. O governo Lula ainda não divulgou os dados completos de 2024, que se referem apenas ao primeiro semestre do ano.

A malária é uma doença que drena a energia do paciente. A maneira como está difundida na terra yanomami impacta a capacidade de trabalho dos indígenas nas roças nas aldeias, alimentando o ciclo de insegurança alimentar. A maior quantidade de notificações reflete a ampliação do atendimento em saúde no território, desde a declaração da emergência. Polos de saúde antes fechados passaram a funcionar, resultando em maior identificação e tratamento de casos.

Os dados também mostram a disseminação da malária pelo território e a persistência dos focos do mosquito transmissor. Nas 39 mortes registradas desde 2022, 18 foram causadas pelo protozário da falciparum, que é a forma mais grave da doença. "O aumento do número de locais de diagnóstico e tratamento e o aumento das equipes de saúde resultam em maior cobertura dos serviços de saúde e diagnósticos", afirmou Milena Kanindé, chefe de gabinete da Secretaria de Saúde Indígena do ministério.

Segundo ela, existem dificuldades para diagnóstico em até 48 horas devido à vastidão da terra yanomami e ao fato de a população ser nômade. "No início de 2023, aproximadamente 5.224 indígenas não tinham acesso aos serviços de saúde nos polos base." Até abril de 2024, todos esses polos foram reabertos, o que aumentou consideravelmente o acesso ao diagnóstico e tratamento de malária.

A notificação do caso entra no sistema 45 dias após a confirmação, em média. Os números de mortes de yanomamis no segundo semestre de 2023 e de 2024 ainda estão "em processo de qualificação", segundo o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, e devem ser divulgados em breve.