Humberto Costa se declara defensor de Haddad e promete discrição

Humberto Costa se declara defensor de Haddad e promete discrição

Humberto Costa assume presidência interina do PT


A gestão de Gleisi ficou marcada por divergências sobre medidas de ajuste fiscal defendidas por Haddad para equilibrar as contas públicas.

O presidente interino do Partido dos Trabalhadores (PT), senador Humberto Costa (PE), afirmou à Folha que é um "defensor intransigente" de Fernando Haddad e que não fará embates públicos com o ministro da Fazenda, o que era uma característica da gestão de sua antecessora, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR).

"Não tenho grandes pretensões de me envolver nesse tipo de debate. Sou apoiador do trabalho do ministro Fernando Haddad, entendo que ele está fazendo uma gestão econômica muito boa. Não vai ser meu papel, com essa provisoriedade, essa interinidade, querer me meter a dar grandes opiniões sobre essas coisas", afirmou Costa.

A gestão de Gleisi houve desavenças sobre as medidas de ajuste fiscal apresentadas por Haddad. Ela acreditava que o PT precisava "fazer o debate de ideias" e tinha a função de ajudar a puxa o governo para a esquerda, uma vez que o presidente Lula foi eleito por uma frente ampla.

O PT, por exemplo, recomendou no ano passado que suas bancadas avaliassem "com profundidade" e debatassem com o governo sobre um projeto de lei que alterava as regras de acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada), um auxílio dado a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. O texto acabou sendo desidratado.

Com a nova função, Gleisi se afastará da presidência do PT para assumir, na próxima segunda-feira (10), como ministra da Secretaria de Relações Institucionais, onde será responsável pelas negociações políticas do governo Lula. Ela assumirá o cargo no lugar de Alexandre Padilha (PT), que foi deslocado para o ministério da Saúde.

Na sexta-feira (7), a Comissão Executiva Nacional do PT escolheu Costa para presidir o partido até 6 de julho, quando ocorrerá uma nova eleição interna para escolher os novos presidentes municipais, estaduais e nacional.

Apesar de seu papel como presidente interino, Costa afirmou que não pretende sair candidato, mesmo com as divergências entre os grupos dentro do partido sobre as eleições. Essas disputas também ocorrem na própria corrente de Costa, a CNB (Construindo um Novo Brasil), da qual fazem parte Lula, Haddad e Gleisi.

O favorito de Lula para a presidência do PT é o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva (PT), da CNB. Entretanto, outros grupos dentro da corrente desejam também concorrer ao cargo, como o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (CE). Existem ainda alas mais à esquerda com outros candidatos.

"Não tenho essa pretensão de disputar. Nem neste momento nem para o próximo momento. Sou presidente interino. Vou até o começo de julho e vou apoiar, naturalmente, algum candidato a presidente com o qual eu tenha identidade", comentou Costa à Folha.

Embora tenha antecipado que não fará embates públicos com Haddad — postura distinta da que foi adotada por Gleisi —, Costa elogiou o trabalho dela e disse que todos "vão se surpreender" com sua atuação no ministério. "Ela é uma pessoa aberta ao diálogo, capaz de encontrar entendimentos", ressaltou.

Costa reconhece que o partido deve se posicionar em relação às questões que envolvem o governo e a política econômica. No entanto, ele optará por uma postura mais discreta durante este período de transição. "Eu tenho minha posição. Sou defensor intransigente do ministro Haddad, mas isso não vai estar no nosso radar nesse período", garantiu.

Entre as prioridades de Costa em sua gestão de quatro meses estão organizar a eleição interna, incentivar a entrada de novos filiados e defender a aprovação no Congresso da redução da jornada de trabalho e da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.

"Neste tempo, vai ser muita mobilização para pressionar o Congresso a aprovar essas medidas", adiantou o parlamentar, que também apontou que há resistências da sociedade em relação a essas propostas.

A estratégia do novo presidente do PT inclui a participação de parlamentares, centrais sindicais, movimentos estudantis e sociais na divulgação e defesa desses projetos. Ele também planeja utilizar a propaganda partidária do PT na televisão e rádio para promover as propostas.