General pressiona Bolsonaro por golpe, afirma Mauro Cid

General pressiona Bolsonaro por golpe, afirma Mauro Cid

General pressionava Bolsonaro por golpe, afirma Mauro Cid

Os detalhes constam em material de áudio e vídeo de delação premiada do militar liberado nesta quinta-feira (20) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, revelou que o general da reserva Mário Fernandes, um dos denunciados pela tentativa de golpe de Estado, era uma das figuras que mais pressionava o ex-presidente a tomar medidas de intervenção contra a democracia. Essa pressão aconteceu entre o fim das eleições de 2022 e a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023. Os detalhes foram abordados em um material de delação premiada do militar, que foi liberado nesta quinta-feira pelo STF, e que descreve um plano de ruptura institucional promovido pelo ex-presidente e seus aliados.

A delação de Cid foi fundamental para a denúncia apresentada na terça-feira (18) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que acusou o ex-presidente e Cid, além de outras 32 pessoas, pelos crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Fernandes, que ocupou cargos significativos, como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no final do mandato de Bolsonaro, já havia sido comandante dos kids pretos, uma força de elite do Exército. Segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), ele foi responsável por coordenar ações de monitoramento e assassinato de autoridades, incluindo o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, que presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O plano de ataque foi batizado de Punhal Verde e Amarelo.

Segundo Mauro Cid, “Ele [Fernandes] era um general que estava muito ostensivo, inclusive nas redes sociais. Estava com os manifestantes o tempo todo, estava indo lá. Inclusive, o general Freire Gomes [então comandante do Exército] até cogitou punir ele, porque ele estava muito ostensivo na pressão para que os generais pudessem fazer alguma coisa. Ele estava bem, digamos, raivoso. Era o que mais impulsionava o presidente [Bolsonaro] a fazer alguma coisa”.

Fernandes foi preso no final de novembro do ano passado em uma operação da Polícia Federal (PF), que revelou os planos para assassinar autoridades e provocar o caos no país. A investigação concluiu que ele era um dos militares “mais radicais” da trama golpista, atuando como um elo entre os manifestantes acampados em quartéis gerais pelo país e o governo federal.

Além de Mário Fernandes, Cid também mencionou o general Walter Braga Netto como um dos envolvidos nos planos golpistas. Braga Netto atualmente se encontra preso em uma unidade do Exército no Rio de Janeiro.

“Braga Netto conversava todo dia com Bolsonaro, de manhã e no final da tarde, durante o período após a derrota eleitoral, em que Bolsonaro ficou recluso no Alvorada”, afirmou Cid. Ele próprio agendou uma reunião com Braga Netto, no dia 12 de novembro de 2022, que contou com a participação de dois coronéis do Exército: Rafael Oliveira e Ferreira Lima. Este encontro inicial estabeleceu o planejamento dos atentados contra Lula, Alckmin e Moraes. Cid revelou que se retirou da reunião antes que o plano fosse discutido, por orientação de Braga Netto, com o intuito de evitar qualquer conexão direta com Bolsonaro. Entretanto, de acordo com a PGR, Jair Bolsonaro tinha conhecimento e concordou com o planejamento das ações contra as três autoridades.

“Eu não participei do planejamento, não sabia qual era o objetivo, até pelo princípio da compartimentação, que é clássico na inteligência, nas Forças Especiais, só sabe e só pergunta o que você precisa saber. Só me ative a ajudar com o que eles demandavam. Não tinha noção que pudesse ser algo grave assim, de sequestro, assassinato, até que ponto eles podiam chegar”, relatou Cid em seu depoimento.

Recursos para o plano

Em uma dessas demandas, o coronel Rafael Oliveira solicitou que Cid encontrasse recursos para realizar o plano. Cid tentou inicialmente buscar apoio com um tesoureiro do Partido Liberal (PL), o partido de Bolsonaro, mas, frente à negativa, recebeu, no início de dezembro, no Palácio do Planalto, a quantia em espécie de R$ 100 mil, entregue por Braga Netto. Este informou que o montante foi obtido com “o pessoal do agronegócio”.

Na delação, Cid revelou que Braga Netto, junto com os coronéis Oliveira e Ferreira Lima, concordavam que seriam necessárias ações que gerassem grande instabilidade, possibilitando uma medida excepcional que impedisse a posse de Lula como presidente eleito.

Apesar de Mário Fernandes, que foi uma figura proeminente na Secretaria-Geral da Presidência da República, a delação de Mauro Cid isentou Luiz Eduardo Ramos de envolvimento direto na trama, devido ao seu afastamento de Bolsonaro no período. Ramos não está na lista de denunciados pela PGR.

“O general Ramos foi completamente alijado do processo. Ele teve alguns problemas com o presidente. Ele até achava que seria o ministro da Defesa, o presidente não nomeou. O presidente foi, devagarzinho, escanteando ele, tanto que, no final do ano, ele não apareceu. O senhor pode perceber que não tem nenhuma mensagem dele. Ele queria ser o ministro da Defesa e o presidente não quis colocar ele”.