Desigualdade e Microplásticos: Desafios no Rio dos Bugres
16/02/2025, 08:33:09
Contaminação por Microplásticos no Rio dos Bugres
O rio dos Bugres, que fica entre as cidades de Santos e São Vicente, no litoral de São Paulo, foi classificado por uma pesquisa como o segundo mais contaminado por microplásticos no mundo. Especialistas apontam que a desigualdade social, que leva à ocupação irregular da beira de rios com moradias precárias, sem saneamento básico e coleta de lixo adequada, agrava a contaminação por plástico e microplásticos em corpos d'água.
A Pesquisa e suas Revelações
O estudo foi publicado em novembro de 2024 na revista científica Marine Pollution Bulletin por pesquisadores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e do Instituto EcoFaxina, uma ONG que realiza atividades de limpeza e educação ambiental na região. As duas margens do rio são ocupadas por moradias irregulares em área de mangue, e no lado de Santos está o Dique da Vila Gilda, a maior favela de palafitas do país, onde cerca de 20 mil pessoas vivem.
Conscientização e Ações Locais
William Rodriguez Schepis, diretor-presidente do Instituto EcoFaxina e um dos pesquisadores do estudo, destaca: "Estamos aqui desde 2008, atuando na limpeza do manguezal e na conscientização da comunidade sobre os riscos do consumo de organismos contaminados. No entanto, observamos que o rio está cada vez mais contaminado e a degradação do ecossistema avança".
Gabriela Otero, especialista em resíduos e gerente de economia circular do Pacto Global - Rede Brasil, acrescenta: "Trata-se de toda uma comunidade vulnerável que não tem acesso à infraestrutura básica de saneamento. Como consequência, esse resíduo vai parar na água, navegando, atolando no manguezal".
Desafios e Soluções Propostas
A coleta de lixo na área atende apenas até as ruas oficiais, o que desencoraja muitos moradores a buscarem os pontos de coleta. Otero enfatiza que soluções devem ser criadas em parceria com a comunidade local, levando em conta suas necessidades. "O Brasil tem um clima e uma rede hidrográfica que fazem com que todos os caminhos levem ao mar. Assim, todas as nossas ações também levam ao mar", observa.
Ítalo Braga, professor do Instituto do Mar da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), destaca que a responsabilidade da contaminação não deve recair exclusivamente sobre os moradores locais. "O mundo inteiro tem mostrado que os maiores níveis de contaminação estão próximos às zonas mais industrializadas e, portanto, mais ricas. Quanto maior a renda, maior o consumo de plástico".
A Resposta das Autoridades
A Prefeitura de São Vicente menciona que realiza mutirões para a limpeza de rios, praias e áreas críticas do estuário e está investindo recursos do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) para melhorar a coleta seletiva e reciclagem, visando reduzir a quantidade de plásticos que chegam aos corpos hídricos.
O Parque Palafitas, um projeto para urbanização do Dique da Vila Gilda, está em andamento e deve custar mais de R$ 12,6 milhões. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) prepara um protocolo em parceria com a Unifesp para incorporar a medição de microplásticos no monitoramento da qualidade da água que realiza em 70 pontos do litoral paulista. Em 2025, a agência conduzirá um piloto da medição das partículas em locais selecionados.
Pressupostos Finais
Cláudia Lamparelli, gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb, conclui: "Esse monitoramento é importante porque os microplásticos estão na água que bebemos, na comida que consumimos e no ar que respiramos. É uma partícula pequena que causa um problema gigantesco".