Hamas promete libertação de reféns na trégua com Israel

Hamas promete libertação de reféns na trégua com Israel

Compromisso do Hamas com a Trégua

(FOLHAPRESS) - Dois dias após Israel ameaçar retomar a guerra na Faixa de Gaza, o Hamas declarou que irá reiniciar a libertação de reféns sequestrados durante o ataque de 7 de outubro de 2023, programado para este sábado (15). Em comunicado, o grupo informou que a libertação será feita segundo os termos acordados na trégua.
O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, endureceu sua posição após o Hamas informar, na segunda (10), que adiará a soltura prevista, alegando que o cessar-fogo estava sendo violado por Israel.
Na terça (11), o presidente dos EUA, Donald Trump, principal fiador do acordo, havia dado um ultimato: o Hamas deveria liberar todos os reféns ainda em sua posse, estimados em 76, incluindo 35 já mortos, até o meio-dia de sábado.
De acordo com o que foi combinado, a trégua, que envolve Qatar e Egito como intermediários, previa que 33 reféns seriam trocados por centenas de prisioneiros palestinos. Até o momento, 16 reféns foram libertados, e o Hamas indicou que mais três serão libertados neste sábado.
Enquanto isso, Netanyahu declarou que concordava com o ultimato de Trump, mas não mencionou um número específico de reféns em sua ameaça. Negociadores israelenses afirmam que o premiê deseja apressar essa fase do acordo, que está prevista para se encerrar em duas semanas.
Ainda assim, a resposta de Israel à disposição do Hamas permanece incerta. As posições militares israelenses foram reforçadas ao redor da Gaza, com a convocação de reservistas. Mais cedo, o gabinete do premiê negou relatos de que a crise havia sido amenizada, conforme divulgado por veículos árabes, como a rede Al Jazeera.
A entrada de Trump na questão do Oriente Médio transformou a dinâmica do conflito, que começou com um ataque sem precedentes do Hamas ao Estado israelense, resultando na morte de quase 1.200 pessoas e no sequestro de 251 indivíduos - 174 deles foram liberados em uma trégua em novembro de 2023, após operações militares.
Trump, que patrocinou a trégua iniciada em 19 de janeiro, um dia antes de sua posse, surpreendeu a todos ao propor que os EUA tomariam a Faixa de Gaza para transformá-la em um resort mediterrâneo.
De acordo com Trump, os palestinos teriam que ser relocados para "casas melhores e bonitas na região", sugerindo que Jordânia e Egito deveriam acolhê-los. O plano eliminaría o direito de retorno ao território, que, de acordo com a paz defendida pela ONU em 1994, pertence aos palestinos, assim como a Cisjordânia, que atualmente possui assentamentos ilegais.
Esse plano gerou forte rejeição global, exceto por parte do governo israelense e da ultradireita que deseja ver Gaza sob domínio de colonos judeus. Há sérias dúvidas sobre os custos e a viabilidade dessa proposta, uma vez que a ONU estima um custo de US$ 53 bilhões para reconstruir a infraestrutura local, que sofreu danos severos, com 90% de seus edifícios atingidos ou destruídos.
O futuro de Gaza permanece incerto. Embora Trump tenha se posicionado de maneira firme, a percepção é de que sua abordagem apenas rearranjou as peças do tabuleiro para forçar um novo jogo entre os atores regionais.
Historicamente, países árabes têm marginalizado os palestinos, resultando na expulsão de sua liderança em vários momentos. O influxo de refugiados representa uma fonte de instabilidade, gerando apreensão entre ditaduras e monarquias árabes, que temem pela própria sobrevivência como Estados.
Em resposta às pressões de Trump em favor de Netanyahu, governos como o do Egito e da Jordânia têm demonstrado resistência a aceitar tais propostas. A causa palestina mantém grande popularidade entre as populações desses países, e a devastação de Gaza, que já deixou mais de 48 mil mortos segundo o Hamas, provoca intensa comoção.
Diante disso, dependendo da reação de Tel Aviv, o cessar-fogo pode se prolongar por mais um dia, embora seu futuro permaneça incerto. Na segunda fase a ser negociada, os reféns restantes devem ser libertados, sempre em troca de centenas de palestinos detidos em Israel, enquanto a terceira etapa abordará a administração futura de Gaza.
As divisões palestinas também influenciam essa situação. O Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza em 2007, o que deveria fazer parte de uma futura solução de Estado segundo acordos dos anos 1990, após o Fatah, que controla a ANP (Autoridade Nacional Palestina), ter se recusado a aceitar a vitória eleitoral do Hamas.
Atualmente, com o Hamas fragilizado, parecia que o grupo estava prestes a entregar o controle à ANP, um ente político desacreditado, mas as dinâmicas de libertação de reféns, que expõem os cativos a humilhações públicas, buscam mostrar que o Hamas ainda exerce controle sobre a região, tornando confusa a verdadeira correlação de forças.