Acolhimento especial transforma atendimento a mulheres vítimas de violência
09/02/2025, 16:31:59A importância do acolhimento nas salas lilás
Mulheres vítimas de violência estão ganhando atendimento especial nas salas lilás do Rio de Janeiro, onde são acolhidas por servidoras da área de saúde. Essa iniciativa proporciona orientações jurídicas e encaminhamentos para órgãos de assistência social. A violência é entendida como um problema de saúde pública, segundo as integrantes do projeto. Além dos efeitos da agressão na integridade física, é comum que as mulheres sofram transtornos psicológicos após serem vitimadas.
O papel da saúde como um conceito amplo
"A saúde não é só não ter doença, mas ter uma boa condição física, mental e financeira", afirma Denise Jardim, superintendente de promoção da saúde da secretaria. Ela enfatiza que o cuidado com essas mulheres deve ser continuado, uma vez que suas histórias são complexas e se estendem além do ato de violência. Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica para orientar gestores públicos na implantação de salas lilás em todo o país, como resultado da lei 14.847/24, que garante às vítimas de violência o direito a atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde) em ambientes que garantam privacidade.
Iniciativa do Tribunal de Justiça do estado
No Rio de Janeiro, essa iniciativa foi implementada após uma determinação do Tribunal de Justiça do estado, visando transformar o IML (Instituto Médico Legal) em um ambiente menos hostil para as vítimas. Atualmente, o projeto é desenvolvido em parceria entre o tribunal, a Secretaria Municipal de Saúde e outras entidades públicas.
A evolução do projeto com resultados positivos
Inaugurada em Campo Grande, na zona oeste da capital fluminense, em 2018, a sala lilás já atendeu 7.000 mulheres, com cerca de 2.000 acolhimentos apenas em 2024. Há um total de sete unidades no estado, sendo a última instalada em 2023 em Teresópolis, na região serrana do Rio. O projeto foi reconhecido na categoria saúde na última edição do Prêmio Espírito Público, que celebra iniciativas destacadas no setor público.
O procedimento para acesso às salas
Para ter acesso à sala lilás, a vítima deve primeiramente registrar uma denúncia na delegacia, onde um boletim de ocorrência é formalizado. Em seguida, ela é encaminhada para o IML, onde é feito o exame de corpo de delito, e posteriormente, conduzida à sala lilás. Essas salas são compostas apenas por servidoras, criando um ambiente acolhedor onde as vítimas se sentem mais confortáveis para compartilhar suas experiências.
Profissionais capacitadas para o acolhimento
As servidoras que atuam nas salas lilás são responsáveis por avaliar tanto a saúde física quanto mental da vítima, além de investigar sobre o agressor e o local da violência para analisar os riscos envolvidos. O espaço também atende crianças e idosos. Todas as profissionais possuem experiência na área, seja por terem trabalhado anteriormente com mulheres em situações de violência ou por possuírem especializações relevantes.
Desafios enfrentados pelas vítimas
A enfermeira Kelly Curitiba, que possui especializações em enfermagem forense e nas políticas de saúde para mulheres, nota que muitas vítimas chegam apresentando transtornos psicológicos graves, como síndrome do pânico e depressão. Muitas vezes, elas demonstram dificuldade em relatar as violências sofridas, e cabe às profissionais construir uma relação de confiança para que possam efetivamente denunciar seus agressores.
A difícil realidade das servidoras
As servidoras também necessitam de apoio psicológico devido à dificuldade de lidar com tais situações, como destaca Kelly: "É muito difícil lidar com essas situações, mas é um serviço necessário". Ela observa que as mulheres geralmente expressam gratidão pela assistência recebida, pois muitas chegam sem ter o devido conhecimento jurídico. O sentimento de esperança que elas levam ao sair dali é um alívio para a equipe envolvida.
Reconhecendo o ciclo da violência
Márcia Vieira, uma das responsáveis pela criação do projeto, ressalta que algumas vítimas têm dificuldade em perceber os riscos que correm, podendo ser devido à dependência emocional ou financeira. Muitas ainda se culpam pelo que ocorreram. "Ainda é algo muito presente a ideia de fazer a denúncia para dar um susto ou porque encontrou uma traição, mas não porque corre riscos de vida ou de uma agressão maior", conclui, destacando a necessidade de ações para interromper o ciclo da violência.