Venda de artigos para residência médica gera polêmica em SP
25/01/2025, 12:28:44Venda de artigos para candidatos à residência médica
Recentemente, têm se intensificado as denúncias sobre a venda de artigos científicos, com preços a partir de R$ 500, para candidatos a programas de residência médica em grandes universidades, como a USP (Universidade de São Paulo) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Os oferecedores do serviço garantem que a avaliação do material ocorre em até duas horas, e a publicação é feita em até dez dias.
Suspeitas e Fraude
Essas práticas levantaram suspeitas e foram encaminhadas ao Ministério Público de São Paulo (MPSP). A preocupação é que médicos estejam pagando pela inclusão em pesquisas nas quais não participaram, buscando aumentar suas chances de aprovação nos programas de residência. Nesse esquema, é comum que os médicos coautores sejam de diferentes instituições e estados.
A AMB (Associação Médica Brasileira) classificou esse modelo como "fraudulento". Os Programas de Residência Médica são destinados a médicos que buscam especialização e, geralmente, os candidatos passam por um rigoroso processo seletivo que inclui provas, entrevistas e análise de currículo. Embora ser autor de um artigo não garanta uma vaga, contribui para pontuação.
Artigos Suspeitos e Consequências
Na lista que chegou ao MPSP, destacam-se médicos de áreas como psiquiatria e cardiologia que assinaram artigos publicados na "Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences", uma revista de odontologia, que embora possua nome em inglês, tem sede em Macapá (AP). O custo das publicações varia: um artigo pode ser assinado por R$ 395 via pix ou R$ 435 no cartão de crédito, podendo haver coautorias de até 12 médicos em um único artigo com um modelo predefinido.
Um artigo relacionado a anestesia e doenças musculares foi creditado a 12 médicos de diferentes instituições. Surpreendentemente, em dezembro, ao menos dois desses autores foram convocados para a segunda fase do processo seletivo da Faculdade de Medicina da USP. O resultado dos 376 aprovados será comunicado no dia 10 de fevereiro pela instituição.
O cirurgião-dentista Eber Coelho Paraguassu, editor-chefe da revista citada, defendeu a seriedade da publicação e afirmou que considera infundadas as acusações sobre a facilitação das inclusões de médicos. Segundo ele, a revista busca profissionais que estejam dentro das normas e que têm sua produção avaliada adequadamente.
Impacto e Investigação
Outra revista, a FT, sediada no Leblon, no Rio de Janeiro, também está sob suspeita. Prometendo avaliação em até 2 horas e publicação em até 10 dias, ou até 24 horas mediante negociação, a FT cobra R$ 500 por publicação. O presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, afirmou que a obtenção de pontos por meio dessas práticas é "fraudulenta e ilegal".
A prática de venda de coautorias não é nova. Uma reportagem anterior revelou que um acadêmico cobrava até R$ 100 para incluir nomes de pessoas que não participaram dos estudos. A justificativa estava na lentidão das publicações em revistas de maior prestígio.
Medidas e Denúncias
A lista com as autorias suspeitas foi compartilhada entre professores da USP, sugerindo a formação de um comitê para avaliar os currículos e anular pontos de artigos de certas publicações. O MPSP originou uma investigação preliminar focada nessas denúncias. A Unicamp, até o presente momento, não se pronunciou sobre o caso. A Faculdade de Medicina da USP reforçou sua posição contrária a práticas fraudulentas e destacou o valor de uma produção científica genuína.
Conclusão
A situação evidencia a necessidade de uma análise mais profunda da integridade na publicação de artigos científicos no Brasil, especialmente no contexto das residências médicas. É crucial que a comunidade acadêmica mantenha a ética e a seriedade nas produções científicas para garantir a qualidade dos profissionais que estão ingressando nas áreas da saúde. Ao seguirem esses acontecimentos, os leitores são convidados a refletir sobre a importância da ética na ciência e sua relevância na formação de médicos no país.