LENDAS DO SÃO FRANCISCO
08/01/2025, 15:25:45O SÃO FRANCISCO DE PENEDO
Contam que há muitos anos, o barqueiro Zé Paulino e seus dois filhos faziam o percurso Traipu – Penedo transportando sempre mercadorias além de dois ou três passageiros. Navegavam sempre distante das margens, evitando assim “bancos de areia movediços” que dificultavam a navegação.
Nesse dia, traziam dois passageiros desconhecidos que queriam chegar a Penedo a tempo de assistirem à procissão de Bom Jesus dos Navegantes. Foi quando o filho mais velho avistou ao longe, sobre um barranco, a figura de um frade que gesticulava chamando-os e apontando com a mão direita, mostrava um lugar a seus pés.
Com muita dificuldade, o barco foi cada vez mais se aproximando, até que os cinco homens conseguiram distinguir nitidamente a figura alta de um frade aflito, rosto magro e olhar ansioso. Aportaram no pé do barranco. Zé Paulino e os filhos subiram ao topo da ribanceira em busca do frade. Estarrecidos, perceberam que não havia ninguém ali. Nem mesmo pegadas na areia no local em que o frade gesticulava e andava de um lado a outro.
Desceram em outra direção procurando e gritando pelo frade. De repente, um choro e gritos fracos. Foram em busca e depararam com uma mulher encostada a uma pedra alta, talvez desmaiada, com uma criança de meses ao colo e mais três de pouca idade, que choramingavam quase mortas de fome. Foram socorridas e carregadas para o barco. Quando Zé Paulino se preparava para dar a partida, a mulher por um momento recobrou a consciência e com dificuldade pedia por amor de Deus que acudissem Francisco que estava morrendo. A criança mais velha falou que Francisco era o pai que havia ficado para trás devido a um ferimento no pé.
A família era de retirantes que veio do Matoso, fazenda do Coronel Gilá, fugindo da seca e da fome. Durante quatro dias de viagem, terminaram por se perder pelo caminho. Francisco foi procurar água, feriu o pé, não pode mais andar.
Saíram os cinco tripulantes em busca de Francisco. Depois de muita procura, encontraram o homem dentro da caatinga quase morto. A perna inchada, o pé disforme, a queimar de febre. Carregaram-no através da capoeira, evitando as moitas e espinhos durante 3 horas, quando finalmente chegaram ao barco. Iriam levá-lo ao hospital de Penedo.
Chegaram quase à noite. De longe, viram a volta da procissão, e o pipocar de foguetes. Dois passageiros despediram-se no porto, deixando um bom dinheiro nas mãos da mulher. Seu Zé Paulino nunca tinha visto aqueles dois que fizeram tanta caridade com os retirantes. Pensou que só poderiam ser santos... Depois chegou a conclusão que Santo é o frade que chamou da beira do rio, e não foi encontrado por ninguém. Só podia ser São Francisco. Foi milagre mesmo! São Francisco veio em socorro do xará dele e mostrou como poderia salvar uma família inteira.
A PEDRA DE SÃO PEDRO
A lenda diz que São Pedro enviou o apóstolo São Tomé, para pregar o Evangelho nestas paragens.
Em frente à cidade do Penedo existe um rochedo, no qual São Tomé, em um ponto bem visível da rocha, deixou um marco de sua passagem: as características de uma das plantas do seu pé. Criou-se assim a lenda. Em homenagem ao chefe da Igreja Católica, deram ao rochedo o seu nome. Ou seja: PEDRA DE SÃO PEDRO.
A CAPELA DO MORRO VERMELHO
No Morro Vermelho, povoado do Município de Penedo, no alto, em cima de uma pedra apareceu uma imagem de Nossa Senhora dos Prazeres. Por diversas vezes transportaram a mesma imagem para uma igreja da cidade. Logo em seguida, essa imagem desaparecia e reaparecia novamente em cima da pedra no alto do morro.
O Vigário de Penedo aconselhou ao Sr. Manoel Gonçalves, proprietário das terras, para construir uma capela no local. E assim foi feito.
Certa feita uma criança caiu no rio, sendo arrastada pela correnteza. Seus pais, desesperados, suplicaram a Nossa Senhora dos Prazeres. Aconteceu um milagre. A criança foi salva.
SÃO FRANCISCO
Perto de Penedo, nautas exploradores viam, na margem do rio, o vulto de um frade, e espantados gritavam – Meu São Francisco!- dizendo-se para autenticar a origem do majestoso rio.
A FLOR DA BARONESA
Esta lenda relata a história de uma planta aquática que existe no rio São Francisco. Os naturalistas chamam-na de Echornia. Aqui em Alagoas é conhecida como baronesa. Na Bahia dama dos lagos e nos rios Paraguai e Paraná água-pé.
Na demolição do cemitério dos Inocentes, em Paris, foi encontrado este epitáfio que diz:
“Dulce Farnesi de Sforza, baroneza de Rosenville, fidalga italiana, descendente dos doges de Veneza dos duques de Milão. Era casada com o nobre francês, barão Julien de Rosenville, senhor do Castello de “L’ Etoille,” na costa da Bretanha. Morreu numa lagoa da região de Fernambouc em terras dos Brasis, 1511.”
Alfredo Brandão, escritor e pesquisador, procurou desvendar o fato, mandando vir de Tourino, as obras sobre a genealogia dos nobres italianos, e depois de exaustivas pesquisas em velhas edições sobre os castelos da França, conseguiu reconstituir toda história.
Foi numa festa em Veneza, que o barão de Rosenville conheceu Dulce. A moça desfilava em uma gôndola, fantasiada de rainha do Adriático. O barão apaixonou-se perdidamente pela beleza, meiguice e bondade da jovem.
Nessa época, toda a Europa falava do descobrimento da terra de Santa Cruz. O barão casa-se com Dulce e resolve viajar par a terra recém-descoberta.
Por dois anos, habitou no litoral das Alagoas numa pequena enseada. Ali mandou construir uma casa senhorial - um galpão de madeira em forma de castelo, e junto a este foi edificado em fortim de pedras. O barão comercializava o pau-brasil, fornecendo a madeira aos traficantes, seus conterrâneos, que de vez em quando chegavam ao seu porto. Quando não, gostava de caçar durante o dia. À noite, estudava as estrelas enquanto Dulce bordava. Os marinheiros tocavam viola e dançavam ao ar livre.
A jovem baronesa encantou-se com a região. Adorava as lagoas, os passeios de canoa, pois tudo lhe lembrava Veneza, a sua terra natal.
Conta a lenda, que a moça era doce como seu nome indicava. Sempre a sorrir, alegre e esvoaçante, gostava de montar em seu cavalo, que trouxera da Bretanha, vestida de amazona, toda de branco, cabelos esparsos ao vento. Ela lembrava assim uma ninfa dos bosques, uma aparição das florestas, uma iara das lagoas.
Os caetés eram muito amigos dos franceses, principalmente do casal.
Um dia, Dulce resolveu improvisar uma festa aquática, idêntica às de Veneza, na comemoração do Adriático. Convidou os caetés da região, que compareceram em suas pirogas adornadas de flores silvestres.
Julien não pôde assistir à festa, tendo que ir a nau de D. Rodrigo D’ Acunã, que nesse dia seguia para Europa com um carregamento de pau-brasil. Foi despedir-se de sua amada, maravilhando-se com o que viu: Dulce pronta para partir para a lagoa, com seu séquito de moças caetés, belíssima, fantasiada de rainha dos índios. Vestia uma túnica branca de Escócia. Presa a cintura delgada havia uma tanga de penas de arara. Sobre a cabeça, um cocar de plumas alvas. Nas orelhas, dois muyrakitãs de pedras verdes. Um simulacro de tatuagem, com as cores do jenipapo e urucum, tacheitava-lhe de pintinhas azuis e rosadas o colo alvo e os braços nus.
O barão não resistiu, abraçou-a e beijou-a ali mesmo em frente a todos.
Quando o cortejo da rainha passava em frente à barra, o Nordeste soprou rijamente. A maré enchente arrastou as canoas para o meio da lagoa. Súbito, todos gritaram. A canoa da rainha afundara e esta desaparecia no turbilhão das águas.
Louco de dor, o barão auxiliado pelos seus marinheiros e caetés procuraram o corpo da baronesa durante o resto da tarde e durante toda a noite.
Pelo amanhecer, viram no meio da lagoa um balsedo de flores alvas, pintalgadas de roxo e azul, tal qual Dulce se tatuara. Os índios mergulharam e, logo depois, trouxeram à tona a sua rainha, morta, muito pálida, mas muito bela ainda.
O barão em sua dor regressa para Bretanha triste e solitário, termina seus dias no castelo de L’ Etoille.