UM BREVE RELATO SOBRE O BOM JESUS DOS NAVEGANTES
07/01/2025, 08:32:19Apropriado para reedição, texto foi escrito em 2020 sendo atualizado sobre as décadas, porém contendo em todo o conteúdo as observações da época.
Assim começou a festa: até 1914, a procissão saía da Igreja do Convento de Nossa Senhora dos Anjos, em Penedo, com a imagem de Cristo Agonizante, mas foi proibida exatamente por não se tratar apenas de um culto religioso, e os fiéis e não-fiéis também aproveitavam o momento para divertirem-se com jogos e danças. A proibição não impediu a continuidade da festa. Antônio José dos Santos, conhecido como Antônio Peixe-Boi, solicitou ao escultor de santos e anjos da cidade, Cesáryo Martires, que esculpisse a imagem de Bom Jesus dos Navegantes. E então, desde 1915, é ela que arrasta o povo para as procissões.
Nas últimas décadas, quase noventa anos, a histórica festa continuou com seu caráter religioso, mas sofreu adendos à sua programação o que seria a vertente natural por que assim caminha a humanidade.
Nos idos de 60/70, o então prefeito Raimundo Marinho incorporou à nossa festa o Festival de Cinema do Penedo, culminando o encerramento deste com o domingo da procissão do Bom Jesus dos Navegantes, o que sobremaneira alavancou o número de visitantes a nossa cidade, o que poderia ter sido o ponta-pé inicial para o desenvolvimento pelo menos do setor hoteleiro em nossa cidade.
Ninguém na época, em tempo algum, questionou esse incremento à festa. Razões para o silêncio existiam – Raimundo Marinho era dileto amigo da igreja –, portanto de dentro do clero jamais poderia nascer quaisquer que fossem as críticas, e da população, aí sim é que não partiria nenhum movimento contrário por se entender o quanto Penedo poderia crescer com o advento do Festival de Cinema incorporado à Festa do Bom Jesus.
Com o prefeito Tancredo Pereira, sucessor cronológico de Raimundo Marinho, já não houve mais o Festival de Cinema, sendo criado para substituir o novo evento – O Festival de Tradições Populares – que não conseguiu o mesmo sucesso do anterior. O fato é que o Festival de Cinema foi para Gramado no RS e nós ficamos órfãos do festival, dos cinemas e de uma grande festa.
Com a chegada de outros prefeitos, José Alves, Dirson Albuquerque e Alexandre Toledo, a festa do Bom Jesus foi declinando chegando a ser superada por outras dantes nem se quer comentada em nossa cidade, caso de Pão de Açúcar entre outras.
É fato que não se pode agradar a Gregos e Troianos, mas também é fato que não se deve perder uma oportunidade de crescimento através de um evento, pois mais cedo ou mais tarde a própria população vem a criticar o gestor.
Também é de há muito que se fala na festa com o dúbio sentido do “sagrado e do profano”, mas no preâmbulo deste texto, vemos que há mais de um século que o próprio povo se dividia entre a fé e a diversão, incluindo jogos e danças, e, portanto, quem hoje vê com o olho da crítica, o incremento dos shows durante as comemorações do Bom Jesus dos Navegantes, escreva não por sobre o papel, mas sim por sobre os papiros.
Quanto à descaracterização da festa como pensam alguns, respeitamos essas opiniões. No entanto, sabemos que nunca se movimenta tanto dinheiro em Penedo quanto na festa com os acontecimentos que hoje existem e nunca em tempo algum Penedo foi tão divulgado em todos os níveis quanto agora. Pois no final de semana da festa ganha taxista, restaurantes, ambulantes, hotéis, donos de ônibus, canoeiros, lancheiros, enfim, todos que fazem Penedo e obviamente quem faz a festa acontecer. Isto sim incomoda a quem nunca fez ou a quem não está fazendo tão grande evento, pois quem passou pelo governo e não o fez se arrepende por não ter feito, e quem não está fazendo queria para si o mérito de fazê-lo.
E para encerrar esse cronológico texto de afirmativas concretas, vale ressaltar que a atual administração está realizando tamanho encontro de turistas e milhares de parentes dos penedenses que moram fora, sem para com isto comprometer salários de servidores, obras em andamento ou compromissos assumidos.
Tudo isto é fruto de mera competência em gerir, os críticos de plantão ficam por sua conta e risco.
*Professor de Física e Matemática.