10 anos do 7 a 1: Ainda marcada pela tragédia, o que a Seleção Brasileira quer ser?

10 anos do 7 a 1: Ainda marcada pela tragédia, o que a Seleção Brasileira quer ser?
Há 10 anos, a Seleção Brasileira perdeu por 7 a 1 para a Alemanha, no Mineirão, pelas semifinais da Copa do Mundo. O dia 9 de julho de 2014 marcou a maior tragédia dentro das quatro linhas que o futebol brasileiro já viu. A derrota deixa marcas até hoje, com influência em debates e decisões, além de consequências que continuam a impactar o esporte preferido do país. Mas, afinal, o que o Brasil quer ser e planeja para o futuro no futebol?
Ao longo do dia, o Lance! revisita e analisa o evento mais importante para o futebol brasileiro neste século. O trauma e as repercussões, que duram 10 anos, serão relembradas em oito partes. 7 + 1. A última, um fio de esperança: o esforço que a CBF e parte dos torcedores faz para tentar reviver os dias de glória.
A começar pela razão de todo o frisson, o que acontece nas quatro linhas. O viés de baixa segue até hoje, com jogadores questionados e resultados ruins. O último ainda é fresco na memória, a derrota nos pênaltis para o Uruguai, no último sábado (6), que tirou a Seleção da Copa América nas quartas de final.
Como o 7 a 1 mudou a nossa percepção do futebol e a organização dos nossos times? Para explicar, convidamos o jornalista e analista tático Leonardo Miranda (veja no vídeo acima). Ele defende que o primeiro reflexo daquele acontecimento fez os times brasileiros ficarem acuados. Depois, a aposta foi na qualidade do jogo.
— Primeiro, os treinadores daqui se voltaram a times que se defendem de forma um pouco mais complexa, com jogadores que atuam compactados, que pressionam com a marcação à frente. O Corinthians de 2015 é um exemplo claro disso. Em uma segunda onda, houve os times que se organizam com a bola. Times que saem de trás e chegam ao gol de forma organizada e fluida. Muito se fala do Flamengo de Jorge Jesus, mas o Palmeiras de Abel Ferreira também faz isso por anos — disse.
Assim como demora a acontecer em campo, fora dele o 7 a 1 não provocou a revolução que parte da torcida e da crítica esperavam. O futebol brasileiro continuou a funcionar com uma lógica parecida, principalmente política.
— Todas as mudanças esbarravam muito na política da CBF e das federações. Esse movimento foi congelado pelo sucesso da Seleção do Tite. Até a chegada do Jorge Jesus e, depois, a queda na Copa de 2022. Depois, o amadurecimento da lei de SAFs. A SAF muda o jeito que os clubes são geridos, era uma gestão muito amadora — pontuou Leonardo Miranda.
A chegada dos clubes-empresa, que também sofrem questionamentos, fez a balança mudar. Mas a verdade é que os clubes que dominam o cenário nacional, Flamengo e Palmeiras, colhem o que foi plantado muito antes do 7 a 1.
— O Brasil ainda está aprendendo a ter uma liga forte, fortalecer os times daqui, a ter clubes responsáveis financeiramente e formadores — analisou.
Para Leonardo, o principal ensinamento do 7 a 1 foi o choque de realidade do torcedor brasileiro na disputa entre seleções. Há muitas equipes do mesmo nível ou até melhores que o Brasil, diferentemente da impressão geral.
— Em termos de resultados, a Seleção Brasileira vive um dos piores momentos. Mas existe um excesso de cobrança por protagonismo. Vale lembrar que ninguém colocava o Brasil como favorito nas últimas três conquistas de Copa do Mundo.
Um problema que precisa ser corrigido é a falta de referências no meio de campo. Jogadores para pensar e acalmar o jogo. Sobram atacantes, faltam "camisas 8". Mesmo assim, a formação do elenco é promissora. O futebol brasileiro voltou a ter um postulante a melhor do mundo, Vinicius Jr., e outros nomes são cotados como protagonistas no nível mais alto do futebol mundial.
— Nunca tivemos tantos candidatos a protagonistas quanto hoje. Começa com Vinicius Jr., com Endrick, mas temos muitos outros. É um time para a Copa de 2026, para a Copa de 2030.
Voltando no tempo, hoje é 08 de Julho de 2014. São 17h, Brasil e Alemanha em campo no Mineirão disputam vaga na grande final da Copa do Mundo. Os hinos já foram executados. Seleção Brasileira, sem Neymar, machucado, à esquerda. A forte Alemanha, de Neuer, Lahm, Schweinsteiger e Klose, à direita. O árbitro mexicano Marco Rodríguez apita. Começou a série do Lance! sobre os 10 anos do 7 a 1!