A descaracterização da cidade dos sobrados não foi somente do particular
25/03/2022, 14:45:05A antiga Embaixada Portuguesa é hoje a solar do saudoso Major Horácio na Rua Fernandes de Barros, Nº 37, Centro Histórico.
Revendo algumas fotos da antiga Penedo, ainda dos meus tempos da infância quando a cidade oferecia aos meninos e meninas daquela época a segurança para brincarmos pelas ruas e praças, quando a cordialidade era uma constante entre as pessoas, e aí vem a tão cobrada humanização do vereador Manoel Messias Lima, pude perceber o quanto já mudamos e perdemos a nossa maior caraterística que é ser secular.
O obelisco existente na Praça 12 de abril – Igreja da Corrente – em 1936, quando da elevação de Vila, marco comemorativo do tricentenário de Penedo, projetado pelo engenheiro Aloísio Freitas Melro, inaugurado pelo então governador Osman Loureiro, teve seu final melancólico sem nem sequer ter sido guardado para contar a história daquele momento e da lembrança dos trezentos anos da cidade dos sobrados. Foi-se e pronto. Por entre as reformas daquele espaço o obelisco foi jogado ao espaço do tempo.
O antigo palacete do industrial Manoel Gonçalves, depois transformado em Instituto Rui Barbosa, foi demolido para dar espaço a agencia do Banco do Brasil. E lá se foi outro monumento histórico. Somos nós mesmos que estamos aceitando e concordando em silêncio coma derrocada da nossa história.
Faço a minha culpa pela derrubada da Embaixada Portuguesa em Penedo, o antigo sobrado de três pavimentos situado na Rua Fernandes de Barros, Nº 37, antes 43, pois na década de 70 toda a numeração das casas em Penedo foi invertida passando os números do lado direito a ocuparem as casas do lado esquerdo e vice-versa, pelo meu saudoso pai, Major Horácio.
Demolido em julho de 1970. As pedras das suas paredes de 90 cm de lagura, são hoje bancos na Praça Barão de Penedo, em frente à Prefeitura da cidade.
O prédio exibia em seu centro um círculo datado de 150 anos pois eram duas construções gêmeas com duas salas de 100 m2 com um socovão repleto por 75 pares de armadores de rede, e em seu primeiro andar 15 quartos, cozinha com um fogão a lenha em alvenaria com as bocas em ferro, quatro bocas, e sala de jantar. Em seu segundo andar, mais 15 quartos com uma abertura em forma de gruta em seu telhado com vista para o rio São Francisco.
Foto de 1980, com o famoso pé de Romã Maçã à esquerda e o Jasmin plantado por minha mãe, e a antena comodoro II com amplimatic depois do portão da garagem para pegar o sinal da Gazeta de Alagoas, antes TV Tupi do Recife.
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A grade em forma de lança que protegia o Cruzeiro em frente ao Convento, a disposição dos jardins ali existentes, os bancos que contornavam toda a extensão da praça, se foram com o tempo. O modernismo nem sempre foi cauteloso ou cuidadoso com a nossa história.
Hoje sem a grade que protegia o monumento.
Tantos outros marcos já foram destruídos e nosso passado esvaindo-se qual as águas do rio São Francisco antes tão caudaloso, hoje um sofrível canal de águas esverdeadas nas partes mais profundas, com imensidões de bancos de areia – croas – que dentre em breve não permitirá mais a aproximação da balsa na margem esquerda do rio da unidade nacional.
Um povo sem história e sem passado é um povo sem memória. E sem memória não seremos mais um povo.
Artigo escrito e publicado em 21/10/2015