As noites separam os morcegos dos pássaros

Os pássaros são aves livres e belas, com cantos harmoniosos e de grande admiração por parte dos homens. Para alguns poetas, recados de Deus, como o cântico do Jesus Meu Deus, do Sofreu, do Galo de Campina ou Cabeço, do Curió ao Ferreiro de grande alcance em volume.

São belos por diversas cores misturadas em sua plumagem, pelos voos rasantes ou pelos pousos em árvores ou fios quando dentro das cidades. E cantam também em nome das suas liberdades quando presos a gaiolas feitas pelos homens para aprisioná-los pelo simples prazer ao ouvi-los cantar.

Às noites os pássaros dormem pelo cansaço do dia trabalhado em busca do seu sustento, e se presos em gaiolas, para esquecer da sua própria prisão. Dormindo sentem-se livres com a natureza ao seu dispor tanto quanto os seres humanos sonham também ao dormirem.

Andam em grupos ou separados, mas a maioria agrupados e praticando a lei da Física pelo guia sempre sendo substituído quando cansado por quebrar a resistência do ar para os demais que seguem em forma de >.

Já os morcegos são animais de hábitos noturnos voando sob o regime de pequenos grupos, ou sozinho, quando pelo passado derramou apenas o seu esterco – que até serve de bom estrume – mas que a tudo que toca mancha. 

São verdadeiros sanguessugas apropriando-se para si tudo o que lhe rodeia. De tão perigoso ao sugar dos outros, terminam vagando pelas noites vazias tão sozinhos quanto. E não podem ver sangue novo que o pensamento em se apropriar das novas possibilidades lhe enchem os olhos. Fazem mal a todos que dele se aproxima. 

São verdadeiros inversos do Batman. Pois o que toca vira cinza, e se por algum tempo brilha, logo fica degringolado e cheirando mal.  

Morcegos são forçados a terem vida noturna. Mesmo que solitários, isolados e humilhados pelo passado. Só vivem em cavernas ou castelos mal-assombrados.