Quando não percebemos o que destruímos ao nosso redor perdemos quase tudo

Para quem viveu esse tempo é uma viagem ao Túnel do Tempo

Quando não percebemos o que destruímos ao nosso redor perdemos quase tudo

Minha memória me leva à estrada entre Penedo e Piaçabuçu nos tempos da piçarra vermelha, dos ônibus do Seu Leitinho, das caminhonetes F-75, dos Jipes Chapéu de Couro, e das pontes de madeira, que permitiam se passar por sobre elas bem devagar. Apenas a primeira ponte de Penedo à Piaçabuçu era de cimento.

As arvores nativas próprias de mangues mantinham ninhos de Cabeço, Xexéu, Azulão, Rolinha Fogo-Apagou, Sofreu, da Pêga e do Curió, dos Chupinhas e Bigodes, do Caboclinho e até das Garças que povoavam toda a estrada até a chegada das duas cidades, entre idas ou vindas.

As águas escuras que ainda escorrem por baixo das três pontes, assim eram por ter origem ferruginosa – contato com pedras de características ferromagnéticas – mas que permitam que víssemos as Traíras e os Piaus se movimentando em meio às águas.

Era o tempo dos piqueniques regados a arroz, galinha, vinagrete e farinha, e quando muito um refrigerante Guaraná Champagne Antarctica servida em canecas de alumínio cada qual com o seu dono.

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Ouvir os cantos desses pássaros era de obrigação por conta alto cantar. Era um canto de pedido de socorro para que os homens o preservasse para não se chegar à extinção da nossa mãe natureza. 

O canto não era triste; era tão belo que nós deveríamos tê-los preservados. 

Hoje a estrada é pelo mesmo caminho, asfaltada e mais alta para evitar atoleiros, e as famosas lagoas com sapos coaxando, a viagem é bem mais rápida, porém pobre em tudo quanto se chame natureza. 

É natureza morta decantada em versos e prosas pelos poetas matutos, ou cantadores de Cordel. 

Nós destruímos o nosso derredor.        

Creditos: Raul Rodrigues