Ibama aplica multa milionária por dragas de garimpo ilegal no Vale do Javari

Ibama aplica multa milionária por dragas de garimpo ilegal no Vale do Javari
JOÃO GABRIEL
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) aplicou R$ 15 milhões em multa a dois homens, pai e filho, por serem responsáveis por quatro dragas de garimpo ilegal encontradas no rio Jutaí, na Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas.
Segundo o auto de infração, José Ademir da Silva, conhecido na região como senhor Mimi, e Aislan Dione Silva são acusados de "fazer funcionar atividade efetivamente poluidora (lavra garimpeira) [...], sem autorização do órgão ambiental".
A operação do Ibama apreendeu e destruiu quatro dragas que funcionavam ilegalmente no rio Jutaí, todas avaliadas em mais de R$ 5 milhões cada -montante que baseou o valor estipulado para a multa.
A responsabilidade de Ademir pelos equipamentos foi revelada pelos próprios garimpeiros que operavam as máquinas quando foram abordados pelos agentes de fiscalização ambiental, de acordo com o documento.
Os homens relataram que trabalhavam para ele, que também seria dono de outras escavadeiras espalhadas pelo Vale do Javari.
A reportagem tentou contato com Ademir e seu filho, por celular, mas não teve resposta.
O Vale do Javari foi o local onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados por pescadores ilegais, em junho do ano passado.
Pereira era funcionário licenciado da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e se afastou do órgão acusando a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e do então presidente da entidade, Marcelo Xavier, de perseguí-lo e impedir que realizasse seu trabalho em prol das comunidades da região, onde fez sua carreira profissional.
Desde então, em 2019, ele passou a atuar para a Univaja, a associação de indígenas do Javari e na qual fazia, dentre outras coisas, trabalhos de fiscalização de invasores ilegais do território. Ele chegou a ser ameaçado de morte antes de ser assassinado.
Xavier foi indiciado pela Polícia Federal neste caso, por homicídio com dolo eventual.
A PF alega que o ex-chefe da Funai, inclusive por ser policial, tinha conhecimento da realidade e dos riscos que viviam as pessoas que atuavam no Vale do Javari e sabia que um ataque poderia acontecer, mas não agiu diante da situação.
O indiciamento cita o desmonte da fundação, a perseguição a Bruno quando este era do órgão, o pedido de socorro de servidores do Javari desde 2019, que nunca foi atendido, e uma ação civil pública que determinava que fossem aplicadas medidas de segurança na região, mas que não foi dado seguimento.
Quando foi assassinado, Pereira auxiliava o jornalista britânico Dom Phillips em pesquisas para um livro sobre a Amazônia.
Para a PF, o crime teve como mandante Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, suspeito de liderar uma organização criminosa de pesca ilegal no Vale do Javari, na fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.
Os executores foram Amarildo Oliveira, o Pelado; seu irmão Oseney de Oliveira, o Dos Santos; e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, conforme denúncia do MPF (Ministério Público Federal).
O Vale do Javari sofreu com o crescimento dos invasores nos últimos anos, que atuam em pesca ilegal, o tráfico de drogas e também com o garimpo.