Murilo Benício adianta projetos por trás das câmeras: 'Dirigir é o respiro que tenho da atuação'

Murilo Benício adianta projetos por trás das câmeras: 'Dirigir é o respiro que tenho da atuação'
Ao olhar para o rosto de Murilo Benício, é natural que as primeiras lembranças de sua carreira sejam de personagens marcantes que ele interpretou na televisão.vTufão, os gêmeos de O Clone, Ariclenes Martins, Juca Cipó e, mais recentemente, Tenório Nogueira. No entanto, ao conversar com o ator carioca, fica evidente que a atual fase de sua vida é outra: Murilo, que está lançando seu segundo filme, Pérola, agora está focado na direção.

"Já deixei de trabalhar com duas pessoas que admiro por achar que não estaria 100% como ator. Não consigo emendar uma coisa na outra. Gosto de compor personagem quando faço, preciso de tempo. Se começar a emendar, vira um lixo. Ou, na melhor das hipóteses, vira a mesma coisa sempre", diz.
Nesse seu processo como diretor, com dois filmes na bagagem, nós conseguimos entender mais quem é Murilo. Seu primeiro trabalho atrás das câmeras, O Beijo no Asfalto, veio da memória afetiva com o pai.
"Ele vivia com livros do Nelson [Rodrigues] debaixo do braço. Um monte de livro. Eu achava aquilo fascinante e ele dizia que o Nelson era um gênio. Quando fui estudar teatro, estudava muito Nelson e constatei aquilo que meu pai falava", lembra Murilo Benício.
Aí veio o desejo quase incontrolável de dirigir Nelson. Demorou, mas saiu: O Beijo no Asfalto brinca com os bastidores de um teatro, com atores se preparando para a peça.
"Queria fazer um filme que fosse um movimento de ensaio, como se fossem os bastidores. Afinal, não é só pegar o texto e pronto. Tem todo um processo, uma preparação", explica ele, sobre seu primeiro filme. "É uma homenagem ao meu pai, já que fui inspirado por ele", acrescenta.

Pérola, que também é um filme inspirado em uma peça de teatro, não veio do pai, mas da relação de Murilo com o autor do texto original, Mauro Rasi. O dramaturgo, falecido em 2003, chamou o ator carioca para trabalhar em uma de suas peças.
Curioso, Murilo foi assistir a que estava em cartaz no momento, em 1995 - que era, justamente, Pérola, com Vera Holtz no papel principal. Ficou encantado.
Passaram-se anos e o filme, que era um desejo de Mauro também, não se concretizou. Murilo, porém, nunca mais esqueceu disso. "O filme surge ali, em 1995, na minha cabeça. Naquele momento já fiquei com vontade de dirigir", revela.
"Amigos de amigos me disseram que o Mauro queria fazer o filme e que queria chamar atrizes do Almodóvar. No final, eu fiz o filme que eu achei que o Mauro faria. Com aquela coisa de Almodóvar, com muita cor, com personagens acima do normal. É um universo particular do Mauro Rasi", explica Murilo.
A história do filme e da peça, sobre uma mãe do interior de São Paulo pelo olhar e memória de seu filho, inicialmente parece não ter muito a ver com a vida de Murilo - seu encantamento inicial, afinal, veio mais pelo texto do que por algum impacto pessoal. Mas, ao dirigir o novo longa, Murilo Benício confessa que também colocou suas memórias ali.
"Você conhece alguma Pérola, seja sua mãe, uma tia. Você vê sua família naquela família. Então tem algumas coisas que coloquei da minha mãe. Pouca coisa, mas é minha mãe, minha história. No fim, acho que, por mais que não tenha nada a ver a história do Mauro com a Pérola do filme, conta minha história", reflete o diretor.
Pérola está chegando só agora aos cinemas, mas Murilo tem muita coisa a dizer sobre o que vem por aí: já está desenvolvendo o roteiro de um novo filme e de uma minissérie. "No projeto da série, chamei algumas pessoas que admiro muito para me ajudar nisso", conta.
"Amo muito eles, mas a coisa estava saindo muito do que eu pensava. Oito pessoas geniais com ideias muito diferentes. Aí agora estou na missão de escrever o piloto. Já escrevi o argumento para ter um entendimento e, depois, vou abrir de novo para escrevermos juntos", diz Murilo.
Ou seja: além de ser um dos atores mais requisitados da televisão, que acabou de sair de duas atuações potentes em Pantanal e Justiça, ele ainda está com apetite imenso para a direção e, agora, começa enfim a escrever seus próprios roteiros.
E tem tempo de fazer outras coisas? "Justamente emendei duas coisas agora, Pantanal e Justiça, para ficar parado até o final do ano para investir nisso. Para investir em coisas minhas, para escrever, para pensar em novas ideias. Agora, vou ter um tempo pra mim", conclui.