Completos 80 anos da travessia das balsas entre Penedo e a Vila Nova dos Operários. Vejas imagens
17/01/2023, 12:04:45Toda a história dessa famosa travessia entre Alagoas e Sergipe
A primeira balsa que fazia a travessia do rio São Francisco, chamava-se Penedia, era de madeira, tinha grades como um curral e destinava-se ao transporte de gado dos Estados de Sergipe e Alagoas, isso ocorreu em 1943. Essa balsa quando não estava levando boiadas e aparecia um carro para transpor o rio, levantava-se uma bandeira sinalizando para a outra margem, para avisar que tinha um transporte extra. Essa embarcação possuía um motor chevrolet ano 42 e seis remos. Quando o motor enguiçava a travessia era terminada no remo. Era formada por dois barcos interligados por um pranchão de madeira, transportava um caminhão pequeno ou dois automóveis.
Um dos balseiros pioneiros que residente em Penedo é o senhor Antônio Diogo dos Santos, 77 anos (apelidado Seu Chupa) que segundo ele foi retratado pelo grande fotografo José Medeiros, e apareceu em matérias publicadas nas revistas mais famosas da época, a Cruzeiro e Manchete e também em filmes que passaram no cinema Ideal. Seu Chupa é um negro alto forte e de porte elegante, que quando jovem esbanjava uma força física de causar inveja e admiração a todos. Em depoimento ao nosso jornal contou fatos muitos pitorescos das suas travessias e travessuras, "naquele tempo eu era novo e aí quando estava orientando a acomodação dos carros na balsa me escondia atrás dos carros pequenos e levantava a traseira dos veículos, que ficava com os pneus girando soltos no ar. Caminhão quando não queria pegar, eu não chamava ninguém, eu empurrava sozinho". Nessa época o movimentado porto do Penedo recebia navios de grande porte como o Pirineus Ipatinga, Luso Brasileiro, Bocaina e outros, vindos das principais capitais do Brasil e de outros países. Além de um hidroavião que fazia vôos regulares para Salvador.
No Rio São Francisco navegavam de Penedo a Piranhas os vapores Comendador Peixoto, Sinimbu e Penedinho que tinham capacidade para transportar até 300 passageiros. As grandes canoas de tolda chegavam a carregar até 80 toneladas de arroz e outras cargas. As mais conhecidas eram: Canindé, Mantiqueira e Buenos Aires. Em Penedo existiam aproximadamente 100 embarcações de carga e passageiros, de proprietários locais, segundo contagem feita pelo Mestre Pedro Aristides, 76 anos.
"O vapor Comendador Peixoto foi comprado pela Codevasf ainda em perfeitas condições de uso e ficou abandonado no cais do Penedo até afundar, dava pena ver um navio tão bonito assim largado" lamentou seu Pedro o triste fim do barco que fez história no Rio.
As balsas pioneiras em transporte de veículos foram a São Pedro e São João que tinham também capacidade de apenas um caminhão. As balsas maiores foram feitas em Aracaju e chegaram aqui há em 1964, tinham capacidade para 14 carros pequenos ou noventa toneladas, estas funcionam até hoje. "Durante todos esses anos que fazem a travessia nunca se registrou nenhum naufrágio ou acidente grave que causasse vítimas" disse Gileno Rezende, 62 anos e que trabalhava há 31 nas balsas da Empresa Fluvial Tupan.
Antes da construção da ponte ligando Sergipe e Alagoas na altura dos municípios de Propriá e Colégio, todo o tráfego da região do baixo São Francisco era feito por Penedo (só existia ponte entre Petrolina e Juazeiro), havia um movimento intenso das balsas dia e noite. Eram freqüentes as filas que chegavam até o Colégio Imaculada Conceição. Nessa época cinco balsas faziam o transporte durante o dia e a noite apenas uma. Segundo Gileno muita gente acabava pernoitando em Penedo e isso movimentava o comércio da cidade.
Depois da construção da rodovia litorânea que liga Penedo a Maceió o movimento aumentou consideravelmente, com o fluxo de turistas que preferiam fazer a viagem pela Linha Verde, que dá acesso às praias do litoral norte de Alagoas. Atualmente o tráfego de veículos de passeio diminuiu muito. O balseiro Gileno fala, "fracassou bastante porque a rodovia está muito danificada, o movimento caiu sessenta a setenta por cento, os turistas procuravam muito as praias de Alagoas, mas sabendo que a estrada está ruim, alguém que vem enganado já não volta por aqui, e avisa aos outros. Teremos movimento de novo se a estrada for consertada".
As duas empresas de balsas que fazem a travessia empregam diretamente funcionários e geram outras dezenas de empregos indiretos. Mensalmente passam pelas balsas aproximadamente 16.000 veículos e pessoas, que movimenta uma economia considerável para os dois município limítrofes, Penedo e Neópolis.